Só a má consciência ou a falta de coluna vertebral dos políticos portugueses pode explicar a aquiescência com que ouvem, dirigidos a Portugal, reprimendas e ditames proferidos publicamente por governantes e responsáveis de outros países ou de instituições estrangeiras.
Há algum tempo, foi o presidente da República Checa que, aos microfones do mundo, se considerou no direito de fazer uma admoestação ao nosso país, na presença de Cavaco Silva. A reacção deste foi envergonhada e, para nós, vergonhosa.
Recentemente, nos últimos dois meses, passámos a ler e a ouvir, nos jornais, nas televisões e rádios, correctivos de toda a gente: primeiros-ministros, chanceleres, ministros, comissários, chefes de gabinete, subchefes, motoristas, apanha-bolas. Todos se sentiram no direito de elaborar o seu ralhete ou de dar a sua lição aos portugueses (que culminou com a recomendação de trabalharmos mais horas).
Ontem, foi José Manuel Durão Barroso — o mesmo que, há uns anos, abandonou o país no momento em que as dificuldades começavam a apertar — que, falando na qualidade de presidente da Comissão Europeia, considerou dever repreender as autoridades políticas portuguesas e determinar-lhes com muita precisão o que devem e o que não devem fazer nos próximos dias. Num misto de recado/raspanete/zurzidela, Barroso disse, entre outras coisas: "Seria útil que em Portugal, em vez de se começar a pensar como é que se pode adiar alguns prazos, se concentrassem todos no cumprimento dos prazos e no cumprimento das obrigações.» Isto foi dito, foi ouvido e não foi respondido.
Somos, neste momento, um país descredibilizado — foi a este ponto que o governo ainda em funções nos conduziu —, mas não podemos continuar a ser um país humilhado.
Em lugar de nos entretermos com enredos de noveleiro, como é o recente «Adoro-
-vos», seria, com certeza, mais acertado cuidarmos da defesa da nossa dignidade, e não permitirmos que uma outra bactéria, neste caso, a da humilhação, se propague.
-vos», seria, com certeza, mais acertado cuidarmos da defesa da nossa dignidade, e não permitirmos que uma outra bactéria, neste caso, a da humilhação, se propague.