segunda-feira, 6 de junho de 2011

Notas de despedida

1. Enquanto professor e enquanto cidadão português estou particularmente satisfeito por ver partir, espero que para sempre, o político português que eu considero ter sido o pior primeiro-ministro, desde 1974. Já o disse, como muitos outros o disseram (e primeiro do que eu), e hoje repito: Sócrates não só governou desastradamente o país, culminando essa governação com a bancarrota, como fez com que o discurso e o ambiente políticos descessem a níveis inimagináveis. Para além disto, com Sócrates, a falta de autenticidade, de seriedade e de competência andaram sempre de mãos dadas com a mais gigantesca operação de marketing (leia-se encenação e falsificação da realidade) que o país alguma vez presenciou. Simultaneamente, criou e desenvolveu um mastodôntico polvo político que tudo quis dominar e quase tudo dominou. Esse polvo alimentou e foi alimentado por um enorme exército de voluntários zelotas que, nos diversos organismos do Estado, se transformaram em candidatos a pequenos déspotas dispostos a tudo. Os tentáculos da governação do Partido Socialista atingiram uma dimensão que eu não julgava possível, em democracia.

2. A Educação foi, para além das Finanças, o domínio onde todos os malefícios da política de Sócrates mais se fizeram sentir. Na realidade, foi na política educativa que se concentrou tudo o que havia e houve de pior na sua governação: arrogância sem limites, incompetência inimaginável, ignorância e aventureirismo. Em 30 anos de docência, nunca tinha assistido a nada de semelhante. Portugal vai demorar décadas a recuperar de tanta estolidez política.

3. O discurso de partida de Sócrates foi mais uma encenação indecente. Sem a noção do grotesco, o arrazoado de falsidades que proferiu incomodou, nauseou. No decurso daquela infindável representação, só uma coisa terá sido verdadeira: o alívio que manifestava por não ter de ser ele a reparar a medonha herança que lega ao país. Ele sabe o estado em que deixa Portugal, sabe o mal que lhe fez, sabe a miséria que vamos passar, por sua responsabilidade. Sabe isso melhor do que ninguém, e, por essa razão, sente alívio — quando devia sentir vergonha, mas Sócrates desconhece esse sentimento.

4. Ao fim de seis anos, Sócrates — o homem que diariamente inventava recordes — conseguiu o seu verdadeiro e derradeiro recorde: conseguiu que o país acumulasse por ele um nível de desprezo que não acumulou por nenhum outro político em 37 anos de democracia.
Sócrates vai embora. Espero que nunca mais volte. Espero que tenha o bom senso de emigrar definitivamente. Portugal será, seguramente, um país melhor sem ele.