quarta-feira, 30 de junho de 2010
Às quartas
Em silêncio
A canoa sobrecarregada deixa as nossas costas
Mas quem são estes soldados de camuflado,
Estas nuvens que irão chover em terras estranhas?
A noite está a perder os seus tesouros
O futuro parece um mito
Urdido num tear manejado por mãos indolentes.
Mas talvez nem tudo seja mau para nós
Como da porta de uma cabana a mil quilómetros de distância
A mão esquálida de uma criança cumprimenta
Os dedos compridos e ossudos da chuva.
Mbella Sonne Dipoko
(Trad.: José Alberto Oliveira)
É legítimo que todos acedam ao topo da carreira?
terça-feira, 29 de junho de 2010
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Registos do fim-de-semana
— Portagens em apenas três SCUT não chegam para cumprir compromisso com Bruxelas —
Autarcas não calam revolta
Assis trava mudanças nos feriados
IVA da Coca-Cola não aumenta nas ilhas
Caso PT/TVI: 'Pacheco podia ter ido mais longe' (João Semedo, BE)
"Muitas vezes me sinto sozinho a puxar pelas energias do país"
PSD quer CDS no Governo mesmo que tenha maioria absoluta
Autarquias e associações de pais resistem ao fecho de escolas
Ex-assessor do Governo vende chips para SCUT
A banca nunca esteve pior
Sócrates e Cavaco em troca de palavras
Cavaco tem dúvidas sobre o pacote fiscal
Partidos cortam, mas pouco
Deputados aproveitam as 'pontes'
Deputado ataca salários da REFER... mas esteve lá e ganhava mais
Mais uma embrulhada deste Governo, a juntar a tantas e tantas outras embrulhadas: SCUT portajadas, ou os critérios que eram e deixaram de ser, ou o segue em frente e o volta atrás, ou o ridículo de não se saber o que se anda a fazer. E quem diz portagens nas SCUT diz feriados, que vão, mas já não vão, ou um dia hão-de, ou talvez não, passar todos para as segundas-feiras. E quem diz SCUT e feriados diz também aumento do IVA, que, afinal, ficámos a saber, não é para todos. E quem diz SCUT e feriados e aumento do IVA diz mega-agrupamentos, diz fecho de escolas, diz a enorme balbúrdia que os governos de Sócrates fazem, em tudo aquilo que tocam.
Também ficámos a saber, pela voz de João Semedo, do Bloco de Esquerda, que, no caso PT/TVI, Pacheco Pereira poderia ter ido mais longe. Vinda de quem vem, esta observação não é apenas curiosa, é curiosíssima...
Praticamente, durante quatro anos, Cavaco Silva só interveio, criticando o Governo, quando os seus poderes foram atingidos, agora foi possuído de um súbito afã oposicionista. O que faz haver eleições à porta...
Finalmente, podemos constatar que a promiscuidade entre funções pública e funções privadas continua de boa saúde e que os partidos e os deputados continuam a ser exemplos da mais elevada moralidade política.
domingo, 27 de junho de 2010
Pensamentos de domingo
Ennio Flaiano
«A minha forma de brincar é dizer a verdade. É a brincadeira mais engraçada do mundo.»
Bernard Shaw
«A maior parte das mulheres não é tão jovem como se pinta.»
Max Beerbohm
sábado, 26 de junho de 2010
Ao sábado: momento quase filosófico
Acerca da verdade e da mentira
— Moore tenho a certeza de que nunca mentiste. Não é verdade?
Moore respondeu:
— Não, não é verdade.
Depois do sucedido, Russell viria a comentar:
— Foi a única vez que o vi mentir.»
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Está a terminar mais um ano de malfeitorias na Educação
Os professores podem estar satisfeitos com o estado da Educação em Portugal?
Tenho como seguro que serão muito poucos os professores que, com sinceridade, podem sentir satisfação com a situação a que o País chegou, neste domínio.
Naturalmente que aqui não incluo aqueles directores, aqueles (agora extintos) professores titulares e aqueles professores avaliadores que, com a obtenção desses títulos, alcançaram o ponto mais alto da sua realização pessoal e profissional. Vários deles estão profunda e sinceramente gratos a Lurdes Rodrigues. Não fosse aquela ministra, não fosse Sócrates, não fossem os governos do PS, e muitos deles nunca teriam saído do anonimato a que a sua mediocridade profissional naturalmente os teria condenado.
Uns nunca teriam tido a possibilidade, que para muitos é uma volúpia, de ouvirem ser chamados de «senhor director» ou de «senhora directora»; outros nunca teriam tido o prazer de se sentirem distinguidos com o título de «professor titular», que, do ponto de vista de quem assim sente, os colocava inexoravelmente acima, muito acima, dos vulgares professores; aqueloutros nunca teriam alcançado o júbilo de avaliar colegas — mesmo que, na esmagadora maioria dos casos, não tivessem, nem tenham, nenhuma formação ou preparação para o cargo, e mesmo que não existissem, nem existam, condições mínimas para o exercício sério e credível da função. Contudo, para muitos dos empossados avaliadores, o título de avaliador foi/é, só por si, capacitante para a função — conheço, todavia, quem exerça a função de avaliador e não consiga escrever um parágrafo, de meia dúzia de linhas, sem dar dois ou três erros ortográficos, daqueles que, noutros tempos, eram merecedores de palmatória.
Foi com este grupo de professores e com a ajuda de alguns sindicatos e do PSD que foi possível concretizar a política educativa mais irresponsável e aventureira desde o 25 de Abril, de 1974. Quando o poder é incompetente, como foi e é o caso das ministras da Educação do PS, é necessário que, no terreno, alguém lhe dê o suporte para que sobreviva.
Depois de quatro anos e meio de consulado de Lurdes Rodrigues, e depois de um ano de Isabel Alçada, as malfeitorias à Educação não pararam nem param. Para além do inaceitável novo Estatuto da Carreira Docente, recém-publicado, e da manutenção do incompetente modelo de avaliação, instalou-se agora a confusão com mais uma desastrosa medida: a criação dos mega-agrupamentos, resultantes da estúpida fusão de escolas, que tem como exclusivo objectivo poupar dinheiro, sem olhar a meios. O que, nestes casos, significa dizer: sem olhar aos interesses dos alunos, ou, por outras palavras, sem olhar à qualidade pedagógica que esses mega-agrupamentos vão oferecer.
O Partido Socialista vai ficar na História de Portugal como o coveiro da nossa Educação, no séc. XXI. De facto, é muito difícil imaginar poder vir a existir um outro governo capaz de ser tão incompetente tão repetida e tão continuadamente, como são os governos de Sócrates.
Fragmenti veneris diei
Às vezes virava a cabeça e contemplava brevemente Rosa a dormir. Mas à terceira ou quarta vez compreendeu que não precisava de se voltar. Simplesmente, já não era necessário. Durante um segundo pensou que nunca mais ia sentir sono. De repente, quando ele seguia o rasto dos faróis traseiros de dois camiões que pareciam ir metidos numa corrida, tocou o telefone. Quando atendeu ouviu a voz do recepcionista e soube logo que era daquilo que tinha estado à espera.
— Senhor Fate — disse o recepcionista —, acabam de me telefonar perguntando-me se o senhor estava aqui alojado.
Perguntou-lhe quem é que lhe telefonara.
— Um polícia, senhor Fate — disse o recepcionista.
— Um polícia? Um polícia mexicano?
— Acabo de falar com ele. Queria saber se o senhor era nosso hóspede.
— E tu o que é que lhe disseste? — perguntou Fate.
— A verdade, que o senhor tinha estado aqui, mas que já se fora embora — disse o recepcionista.»
quinta-feira, 24 de junho de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Pois é, saiu o novo Estatuto da Carreira Docente...
Este comentário retrata os dirigentes sindicais que temos e o tipo de sindicalismo que se pratica em Portugal.
Se dois anos de um combate cerrado pela defesa da Educação e da dignidade da função docente, com duas gigantescas, e nunca antes vistas, manifestações nacionais de professores e centenas de manifestações regionais e locais, com duas greves nacionais com adesões maciças, com o reconhecimento unânime da absoluta incompetência do modelo de avaliação de Lurdes Rodrigues, com a perda da maioria absoluta por parte do PS, têm como resultado final:
— a preservação quase intacta da versão simplex do modelo de avaliação de Lurdes Rodrigues;
— a salvaguarda dos resultados obtidos com a vergonhosa e indigna aplicação daquele modelo de avaliação nos três últimos anos lectivos;
— a manutenção do sistema de quotas para as classificações mais elevadas;
— a continuação da dependência (ainda que teoricamente mitigada) da abertura de vagas para acesso ao topo da carreira;
— e, em geral, a prevalência de uma concepção burocrática, tecnocrática e inculta da função docente; cabe agora perguntar: que especialíssimas circunstâncias políticas, sociais e profissionais é que os sindicatos consideram ser necessário existir para não se claudicar perante ataques gravíssimos à seriedade e à dignidade profissionais dos professores, como aconteceu e continua a acontecer com os governos de Sócrates?
Às quartas
como se planta uma palmeira no deserto
como minha mãe dispõe, sobre a minha cara dura, um beijo
como meu pai tira a capa beduína
e soletra as letras ao meu irmão
como arrasta os cascos de guerra um pelotão
como a haste de trigo se levanta na terra estéril
como uma estrela sorri ao namorado
como seca uma brisa o rosto fatigado do trabalhador
como entre nuvens espessas se levanta uma soberba fábrica
como um grupo de amigos começa a cantar
como um estranho para outro sorri afectuosamente
como uma ave volta ao ninho do amado
como um rapaz leva a sua sacola
como o deserto adverte da fertilidade
assim pulsa em minh'alma a arabidade.
Samih Al-Qasim
(Trad.: Adalberto Alves)
Fecho de escolas e mega agrupamentos - posição do BE
O agradecimento a João Vasconcelos pelo encaminhamento do texto e da informação:
«No sentido de dar conhecimento da posição do Bloco de Esquerda sobre [o fecho das escolas com menos de 21 alunos e sobre os mega agrupamentos], convido-a a ler o Projecto de Resolução que o Bloco de Esquerda entregou a semana passada na Assembleia da República relativo à criação dos mega agrupamento, assim como ao critério dos 21 alunos para fecho de escolas.
O objectivo foi o de estabelecer critérios de qualidade no programa de reordenamento da rede escolar, que consideramos não ter sido a orientação tomada pelo Ministério da Educação desde o inicio do processo.
Para facilitar envio abaixo um resumo do Proj. de Resolução.
Com os nossos melhores cumprimentos,
Margarida Santos
Assessora do GP do Bloco de Esquerda para a Educação
margarida.santos@be.
Recomenda ao Governo critérios de qualidade no reordenamento da rede escolar
A 14 de Junho o Conselho de Ministro publica a Resolução n.º 44/2010, que estabelece os critérios de reordenamento da rede escolar do ensino básico.
Na Resolução dois aspectos de reorganização da rede escolar são abordados: por um lado são dadas orientações no sentido do encerramento de todas as escolas de 1º ciclo com menos de 21 alunos; por outro, dá-se a conhecer a crescente tendência do Governo em criar “mega agrupamentos” de escolas, que conduzem à extinção de alguns estabelecimentos de ensino, de forma a integrar numa só estrutura as escolas ensino básico e, em alguns casos, as de ensino secundário.
O projecto de resolução que o Bloco apresenta visa fundamentalmente estabelecer critérios qualitativos que sejam determinantes na ponderação da decisão sobre fecho de escolas, bem como na criação dos agrupamentos. Ou seja, que se proceda ao reordenamento da rede escolar, de acordo com princípios
Nesse sentido, consideramos ser de extrema relevância que relativamente ao encerramento das escolas básicas de 1º ciclo, bem como à instituição dos agrupamentos escolares, que o Ministério da Educação atente a princípios consonantes com a promoção da igualdade de todas as crianças no acesso ao ensino, que valorizem projectos educativos de sucesso e por isso meritórios, e finalmente, que pautem todo o processo por um permanente envolvimento da comunidade educativa local, sejam as próprias escolas, os municípios, os pais e encarregados de educação.
Para que o processo de reorganização das escolas seja orientado pelos princípios de qualidade e de democratização que acreditamos ser fundamental para uma melhor oferta educativa, recomenda-se que, relativamente ao encerramento das escolas:
- Durante o próximo ano lectivo seja programada a reorganização da rede escolar, mediante negociação entre o ME e as comunidades educativas locais;
- O encerramento das escolas aconteça em casos de taxas de insucesso escolar superiores à média nacional nos últimos três anos;
- Em casos cuja avaliação externa das escolas tenha resultado numa avaliação negativa por parte da equipa avaliadora;
- E por fim, sempre que as infra-estruturas da escola apresentem carências fundamentais;
- O percurso da casa à escola de uma criança do 1º ciclo não ultrapasse os 35 minutos. Relativamente à reorganização dos agrupamentos, esta deve respeitar os seguintes critérios:
- Número de alunos por agrupamento não pode ir além dos 1500;
- Num mesmo edifício não pode haver mais de dois ciclos concentrados;
- A partir dos 700 alunos o agrupamento de escolas ou a escola não agrupada mantém a sua autonomia de gestão;
terça-feira, 22 de junho de 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Registos do fim-de-semana
— Na sua declaração de voto, Pacheco Pereira diz que era fácil concluir a partir das escutas que o primeiro-ministro mentiu, e afirma que a Comissão de Inquérito será julgada politicamente por ter sido impedida de chegar à verdade —
Processo-crime ao PS por financiamento ilícito
— A Entidade das Contas considerou que o pagamento do Taguspark a Luís Figo para apoiar Sócrates foi uma forma ilícita de financiar a campanha eleitoral do PS. E apresentou queixa-crime na Procuradoria —
Governo corta nas pensões sociais
PS e BE na rua com Alegre
Governo não pagou transportes escolares
Caso PT/TVI: PSD vota relatório do caso TVI mas não censura Sócrates
Revelação: Paulo Penedos ligou a João Vasconcelos, assessor de Sócrates no 'dia D' do negócio PT/TVI. A escuta pode ter um efeito de bomba-relógio
Professores 'adoecem' para não verem exames
Sem a escola as pessoas partem de vez
Pacheco diz que mentira de Sócrates justificava 'consequências imediatas'
Entretanto, o PS foi processado criminalmente por financiamento ilícito. Mas, como isso é uma questão menor, quer o Partido Socialista quer Luís Figo continuam, alegremente, a assobiar para o lado.
Também entretanto, o Governo começou a cortar nas pensões sociais, deixou de pagar os transportes escolares às Câmaras Municipais e começou a fechar escolas. Entretanto ainda, o PS e o Bloco de Esquerda estão a preparar-se para irem juntos para a rua, em pré-campanha presidencial. O que daí vai resultar é coisa que veremos mais lá para a frente...
Finalmente, ficámos a saber que há muitos professores a adoecer no momento da correcção dos exames nacionais. Talvez fosse interessante ouvir o presidente da Ordem dos Médicos acerca da insinuada falta de seriedade da classe profissional que representa, que está subjacente à notícia. Como talvez fosse interessante saber por que razão isto acontece agora e não acontecia há dez, quinze ou mais anos, quando havia muito mais exames para corrigir, e quando cada professor corrector era sobrecarregado com centenas de provas (houve um ano, por exemplo, em que tive de corrigir 250 provas de exame de Filosofia de 12.º ano). Mas, nem ao jornalista nem ao Ministério da Educação, isso parece interessar.
domingo, 20 de junho de 2010
Pensamentos de domingo
Arturo Toscanini
«Eu quero que um filme comece como um terramoto e que depois aumente sempre de velocidade até ao clímax final.»
Samuel Goldwyn
«Disse que estava contra!
(Respondeu quando lhe perguntaram o que tinha dito o padre no sermão acerca do pecado).»
Calvin Coolidge
sábado, 19 de junho de 2010
Não foi por falta de tempo
Os mais novos ainda preparam aulas, nós, os mais experientes (eufemismo de mais velhos), não preparamos aulas, damos, mecanicamente, as mesmas aulas que dávamos há vinte ou há trinta ou há quarenta anos. Os programas mudaram, mas nós, os mais experientes, continuamos a dar as mesmas aulas como se os programas não tivessem mudado, como se, todos os anos, os alunos não mudassem, como se, todos os dias, o mundo não mudasse. Nós, professores, somos assim: quanto menos fazemos menos queremos fazer, como a anterior ministra da Educação muito bem sabia. Não fosse ela professora.
Portanto, não foi por falta de tempo que quase não escrevi no blogue, nas duas últimas semanas, foi mesmo por falta de assunto. Portugal está sem assunto. Portugal não tem assunto. Nada acontece que valha a pena comentar. Tudo corre bem, tudo corre pelo melhor. Na política, na educação, no desporto, na economia, nas finanças não se encontra um motivo de interesse. Nada de estranho acontece, nada de menos recomendável acontece.
O mais recente exemplo de que nada de anormal acontece neste país, é o que se passou com a Comissão de Inquérito Parlamentar ao caso PT/TVI. O relatório aprovado por esta Comissão chegou à conclusão de que Sócrates sabia do negócio e disse, no Parlamento, que não sabia. Mas o mesmo relatório chegou a outra conclusão: concluiu que não pode concluir que Sócrates mentiu ao Parlamento. Esta conclusão tem alguma coisa de anormal? Não tem nada de anormal. Uma analogia: o menino Tonecas sabia que foi ele que comeu a última bolacha. A mãe perguntou-lhe se sabia quem tinha comido a última bolacha. O menino Tonecas respondeu que não sabia. Podemos concluir que o menino Tonecas mentiu à mãe? Não podemos. Podemos concluir que o menino Tonecas sabia e disse que não sabia, mas já não podemos concluir que o menino Tonecas mentiu à mãe. Esta não conclusão tem alguma coisa de anormal? Nada de anormal.
A Comissão de Inquérito pediu as escutas relacionadas com o caso PT/TVI ao tribunal da Comarca de Aveiro. O tribunal da Comarca de Aveiro enviou as escutas. A acompanhar o envio, ia um despacho que afirmava não existir nenhuma inconstitucionalidade ou ilegalidade na utilização das escutas para o fim a que se destinava (caso contrário, não as teria enviado, como é óbvio...), e acrescentava que sem essas escutas não seria possível compreender o que tinha acontecido em torno do negócio PT/TVI. A Comissão de Inquérito pediu as escutas; a Comissão de Inquérito recebeu as escutas; à excepção de um deputado, a Comissão de Inquérito não quis ouvir as escutas e proibiu que o seu conteúdo pudesse ser tido em conta na elaboração do relatório final. Isto tem alguma coisa de anormal? Nada de anormal.
Chamar «vuzuzelas» às vuvuzelas, como o ministro dos Assuntos Parlamentares chamou, tem alguma coisa de anormal? Não tem nada de anormal. Chamar «precaridade» à precariedade, como o primeiro-ministro e alguns ministros chamam, tem alguma coisa de anormal? Nada de anormal.
Dizer que a sala de aula deixou de ser o centro da escola, como disse ao Público uma responsável da Parque Escolar, tem alguma coisa de anormal? Nada de anormal.
Tem alguma coisa de anormal dizer, como disse o secretário de Estado Adjunto da Educação, que é uma questão de justiça que a monumental farsa avaliativa realizada no ano passado conte para o concurso de colocação de professores? Nada de anormal.
Este País não tem nada de anormal.
Não foi, pois, por falta de tempo que estive quase duas semanas sem escrever. Foi porque este país não tem assunto.
Ia escrever sobre o quê?
Ao sábado: momento quase filosófico
Acerca da moral puritana
"Os puritanos consideram-se as pessoas com mais moral do mundo e além disso guardiães da moralidade dos seus vizinhos [...]. O seu modelo parece a senhora daquele conto... recordas-te? Chamou a polícia para protestar porque havia uns miúdos nus a tomar banho em frente à sua casa. A polícia afastou os miúdos, mas a senhora voltou a chamá-la, dizendo que estavam a tomar banho (despidos, sempre despidos) um pouco mais acima e que o escândalo se mantinha. A polícia afastou-os de novo. [Mesmo assim] a senhora voltou protestar. ' Mas, minha senhora, — disse o inspector — nós mandámo-los para mais de um quilómetro e meio de distância...' E a puritana senhora respondeu 'virtuosamente' indignada: 'Sim, mas com os binóculos continuo a vê-los!"»
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Fragmenti veneris diei
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Cinco questões prévias sobre o artigo do CM "Escola de Fitares castiga docentes"
Texto enviado pelo colega Paulo Ambrósio:
Na quarta-feira – quatro meses após o suicídio de Luís Carmo, segundo a família por não aguentar os maus tratos de que era alvo por parte de alunos, sem que a escola tomasse medidas –, o director Regional de Educação de Lisboa, José Leitão, esteve na escola numa reunião com o conselho pedagógico, o conselho-geral e a direcção, para apresentar os resultados do inquérito da Inspecção-Geral da Educação (IGE) às circunstâncias que levaram à morte do professor – a IGE ilibou a direcção do agrupamento e fez apenas recomendações.
'A reunião foi uma vergonha. A presidente do conselho-geral disse que os professores deviam ser sujeitos a exames psicológicos para poderem dar aulas; o presidente da associação de pais insultou professores, entre os quais eu, e disse que era preciso exterminar as ervas daninhas. A grande prioridade é punir quem, segundo eles, difamou a escola. A directora até ameaçou processar o professor Paulo Guinote por causa de textos no seu blogue [A Educação do Meu Umbigo]', disse José Luz, professor de Música, tal como era Luís Carmo, frisando que pretende agir criminalmente contra os autores dos insultos de que foi alvo.
O professor acusa ainda o Sindicato de Professores da Grande Lisboa (SPGL) de nada ter feito para proteger Luís Carmo, porque um elemento da estrutura sindical integra a direcção do agrupamento escolar de Fitares. 'Eles tinham o dever de se constituírem assistentes no processo. Têm tanta genica para atacar o Ministério da Educação mas neste caso nem apoiam a família.' António Avelãs, presidente do SPGL, afirma que o sindicato, a seu tempo, 'tomará uma posição'.
NEGADA REACÇÃO
Cristina Frazão, directora do agrupamento de Fitares, não esteve disponível para atender o ‘CM’. Confrontámos ainda José Leitão, via e-mail, com as declarações de José Luz, mas não obtivemos resposta.
SEM AUTORIZAÇÃO
António Avelãs, presidente do Sindicato de Professores da Grande Lisboa, afirma que o sindicato não se constituiu assistente porque não recebeu pedido ou autorização da família para o fazer.
'O MEU IRMÃO FOI UM ESTORVO'
A família de Luís Carmo ainda espera para conhecer o relatório do inquérito da Inspecção-Geral da Educação (IGE) à morte do professor, cujas conclusões foram conhecidas a 31 de Maio. 'Fiz o pedido por escrito, mas continuo à espera. Têm andado a enrolar. Primeiro não sabiam se eu podia ter acesso, depois tinha passado para a IGE. Para eles, o meu irmão foi um estorvo, só serviu para atrapalhar', disse ao CM Filomena Carmo, irmã do docente que se suicidou.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Às quartas
Ao Princípio era o Ritmo, a Rima a terminar,
E a Música entra nisto qual seu almo Pio:
A tão divino riquiquio
Chama-se Canto. Mas, para encurtar,
Um Canto, isso é "Palavras para pôr em Música".
O Pensamento é de uma outra esfera.
Se ele troça, ou se exalta, ou se encanta,
Jamais, é claro, um pensamento canta.
É "Sentido sem Canto" o Pensamento.
As duas coisas juntas: minha audácia é tanta?
Friedrich Nietzsche
(Trad.: Jorge de Sena)
terça-feira, 15 de junho de 2010
Acção de sensibilização
Ontem, dia dia 14 de Junho de 2010 foi levada a cabo, em frente à EB1 Hélia Correia, a prevista acção de sensibilização para as condições de trabalho dos profissionais responsáveis pelas Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) no Concelho de Mafra, mais concretamente no Agrupamento de Escolas de Mafra. Esta acção, cujo aviso se fez acompanhar de uma carta aberta dirigida às instâncias com responsabilidade na sua implementação, assumiu como principal objectivo a intervenção na realidade local embora não esquecendo – e assinalando! – a precariedade que afecta globalmente todos os profissionais destas actividades por todo o país.
Como relativamente ao ano lectivo 2010/2011 ainda não foi definida qualquer directriz ou assumida qualquer responsabilidade por parte das entidades responsáveis, estes profissionais quiseram mostrar que estão atentos e que estão a lutar para a obtenção de condições de trabalho dignas, lembrando que este é o momento certo para as decisões adequadas e convenientes serem tomadas.
A acção de sensibilização decorreu dentro da maior responsabilidade e tranquilidade tendo atingido uma considerável moldura humana por volta das 9 da manhã, momento de maior afluência por parte dos pais que iam deixar os seus filhos à escola. Contudo, o seu impacto também deverá ser medido na presença e contacto directo por diversos meios de comunicação social local e nacional.
Com o auxilio da plataforma “Precários Inflexíveis” que se solidarizou com este grupo de profissionais, foi ainda colocada uma faixa alusiva às exigências futuras desta classe docente (contrato e direitos).
Nesta acção, mais do que a crítica ao que de mal tem sido feito no município (cuja responsabilidade é da Câmara Municipal de Mafra, mas também do Colégio Miramar como entidade até agora mediadora na “contratação” dos docentes), foram exigidas responsabilidades em relação à necessária melhoria nos procedimentos futuros, nomeadamente o fim da utilização de falsos recibos verdes e a realização de um contrato de trabalho para estes profissionais. Os professores presentes contactaram directamente com os pais, distribuíram panfletos elaborados para o efeito e ainda explicaram a todos os cidadãos interessados o quão precária é, também em Mafra, a situação destes profissionais que asseguram a denominada Escola a Tempo Inteiro (ainda que “à hora”). Desta feita, foi ainda lembrado que no próximo dia 18 de Junho estes profissionais irão para o desemprego sem possibilidade de recurso ao subsídio respectivo devido ao facto de estarem sob o regime de utilização dos falsos recibos verdes.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Registos do fim-de-semana
Cavaco diz que situação do país é insustentável
«O Estado não respeita aqueles a quem tudo se exigiu» (António Barreto)
Autarquias recusam fiscalização do Governo
Turmas mais pequenas? ME e especialistas dividem-se.
Silêncio no tribunal vale ouro
— A opção pelo silêncio em tribunal pode 'apagar' crimes. Do Apito Dourado a casos de homicídio, o que se diz ou não diz no julgamento vale mais do que a investigação —
Sócrates encostado à parede
— Cavaco endureceu o discurso e exige explicações para os 'sacrifícios pedidos ao povo' —
Mandatário de Alegre irrita Bloco de Esquerda
Há mais formas de 'saltar' anos na escola
'Regressámos ao séc. XVIII, onde os pobres eram castigados' (Bruto da Costa)
Relatório PT/TVI agrada a Passos
Escutas podem chegar ao YouTube
Juiz diz que caso TVI só se percebe com as escutas
Insiste Luís Amado: limite do défice deve estar na Constituição
Bloco acusa José Sócrates de ter mentido no Parlamento
Avaliação conta para os concursos de professores
Uma petição que pede um máximo de 19 alunos, por turma, no 1.º ciclo e de 22 nos restantes anos de escolaridade ser contestada pelo Ministério da Educação retrata fielmente o ME que temos. Os argumentos contra a petição são de tal modo medíocres que inviabilizam o debate sério. É a hipocrisia de sempre a dominar a política.
Não falar no tribunal é o melhor que os criminosos têm a fazer. Dizia-se, antes do 25 de Abril, que o calado era o melhor... A Justiça portuguesa continua a considerá-lo o melhor.
Parece que há um mandatário de Alegre que irrita o Bloco de Esquerda. E ainda a procissão não saiu do adro... Parece que o relatório do caso PT/TVI, feito pelo deputado do Bloco de Esquerda, agrada a Passos Coelho. Porque será?
As escutas, que não podem ser utilizadas nas conclusões da Comissão de Inquérito Parlamentar, vão poder ser ouvidas por toda a gente, daqui a algum tempo. Mais um contributo para o anedotário nacional.
O tribunal decidiu que a avaliação, afinal, conta para o concurso de professores contratados. Mais uma vitória sindical...
domingo, 13 de junho de 2010
Pensamentos de domingo
Francis Bacon
«A ambição é como a fome. A sua única lei é o seu apetite.»
Josh Billings
«A ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação à riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade, e acaba a acumulá-la como objectivo.»
Charles Colton
sábado, 12 de junho de 2010
Ao sábado: momento quase filosófico
— Ah! Claro, prova por prestidigitação! A mesma utilizada por todos os teólogos!
Com efeito, através do exercício de prestidigitação com a linguagem quis demonstrar-se muitas vezes a existência de Deus. Assim, os padres [...] defenderam durante muito tempo a ideia de que Deus tinha de existir porque assim dizem as Sagradas Escrituras. Mas como sabemos que as Sagradas Escrituras dizem a verdade? Porque as Sagradas Escrituras são a palavra de Deus, respondiam os padres [...].
Como se vê, o argumento incorre na falácia chamada "petição de princípio" (ou também "círculo vicioso") e recorda uma história judia contada por José António Marina no seu livro Dictamen sobre Dios:
"Dois piedosos judeus discutem sobre as excelências dos respectivos rabinos. Um diz:
— Deus conversa com o nosso rabino todas as sextas-feiras.
— Como sabes? — perguntou o outro.
— O próprio rabino nos disse.
— E como sabes que não mente?
— Como iria mentir um homem com quem Deus fala todas as sextas-feiras?"»
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Intervenção de Daniel Cohn-Bendit no Parlamento Europeu
Carta Aberta
«Somos um grupo de professores responsáveis pelas Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) no Agrupamento de Escolas de Mafra e pretendemos com este manifesto alertar as diferentes instâncias responsáveis por estas actividades, assim como todas as pessoas implicadas na sua aplicação, para a realidade por nós sentida ao longo deste ano lectivo.
No ano lectivo que agora finda, o Colégio Miramar assumiu a responsabilidade da organização das AEC nos quatro Agrupamentos de Escolas do Concelho de Mafra. Esta “organização” limitou-se aos arranjos dos horários e ao pagamento dos acordados 11 euros por hora leccionada. Nesta remuneração foram incluídas as reuniões de turma, mas não as planificações e avaliações das aulas e outros desempenhos relacionados assim como os períodos referentes às pausas lectivas. Deste modo, este valor não só é eminentemente baixo em comparação com outros municípios bastante mais exemplares (considerando ainda o trabalho não lectivo não pago), como também revela uma prática ilegal devido à utilização de falsos recibos verdes através da soma mensal das horas leccionadas.
Também não nos foram dadas condições para o correcto exercício das nossas funções. Os materiais saíram-nos muitas vezes do bolso, nunca houve uma estrutura departamental que nos coordenasse e regulasse (pelo contrário, cada professor que se desenrascasse sozinho com as suas turmas e consoante a escola), fomos obrigados a saltar de escola em escola durante a jornada laboral, nunca sentimos que houvesse quem nos apoiasse (pelo contrário, exigem-nos atitude docente mas tratam-nos como monitores de animação) e nunca recebemos o pouco que nos foi destinado a tempo e horas (com especial atraso para quem não possui conta na Caixa Geral de Depósitos). Em suma, nunca sentimos fazer parte das comunidades escolares onde leccionámos e onde acabámos por “vender à hora” serviço dito educativo. Para agravar a situação, estaremos todos no desemprego a partir do próximo dia 18 de Junho (sem direito a subsídio devido aos falsos recibos verdes). Até quando? Também não sabemos o que se passará no próximo ano lectivo.
Sentimo-nos mal-tratados e prejudicados mas temos esperança num futuro melhor. Temos esperança que a Escola a Tempo Inteiro seja uma realidade de qualidade e também que possamos fazer parte dela de acordo com a formação que adquirimos e com a motivação que ainda nos faz querer dedicar a nossa vida profissional ao ensino formal. No fundo, é também a qualidade da Escola Pública que está em causa e a educação das crianças que nela participam. Afinal, não são também os alunos e o processo de ensino-aprendizagem inerente a estes altamente prejudicados com esta nossa situação de precariedade?
Perante o exposto, não queremos que o ano lectivo acabe sem uma necessária acção de sensibilização a todos os intervenientes na Escola. Pensámos numa mobilização que aponte o dedo ao que de mau se passou mas sobretudo que perspective o futuro e que nos ajude a exigir um maior cuidado relativamente à nossa acção profissional. É fundamental que quem exerce o Poder assuma as suas responsabilidades e é agora, enquanto se escrevem as linhas futuras, que essa responsabilidade deve ser reclamada por uns e exigida por nós.
Desta feita, e ainda que o consideremos imperfeito, exigimos o cumprimento do decreto-lei 212/2009 de 3 de Setembro, o qual refere a obrigatoriedade do estabelecimento de um contrato de trabalho com os docentes responsáveis pelas AEC.
É neste sentido que levaremos a cabo a referida acção simbólica, a qual assinalará a falta de condições que vivemos ao longo deste ano, mas que principalmente alertará para a óbvia necessidade de uma mudança nos procedimentos já no ano lectivo 2010/2011. Esta acção será realizada entre as 8:30 e as 11 horas da manhã de segunda-feira dia 14 de Junho de 2010 em frente à EB1 Hélia Correia, em Mafra. Estimulamos todos aqueles que, estando na mesma situação ou que connosco sintam cumplicidade, se juntem a nós neste manifesto.
Definitiva e efectivamente, queremos que Mafra seja um exemplo de inovação educativa.
Contamos com a intervenção, apoio, divulgação e reconhecimento de todos vós.»
Fragmenti veneris diei
— Oscar — disse-lhe o chefe da secção — , estás aí para cobrir a merda de um combate de boxe.
— Isto é superior — insistiu Fate — o combate é só um episódio, o que estou a propor é muito mais coisas.
— O que me estás a propor?
— Um retrato do mundo industrial no Terceiro Mundo — explicou Fate —, um aide-mémoire da situação actual do México, uma panorâmica da fronteira, um relato policial de primeira grandeza, foda-se.
— Um aide-mémoire? — disse o chefe da secção. — Isso é francês, preto? Desde quando é que tu sabes francês?
— Não sei francês — respondeu Fate —, mas sei o que é a merda de um aide-mémoire.
— Eu também sei o que é uma porcaria de um aide-mémoire — retorquiu o chefe da secção —, e também sei o que significa merci e au-revoir e faire l'amour. O mesmo que coucher avec moi, lembras-te dessa canção? Voulez-vous coucher avec moi, ce soir? E acho que tu, preto, queres coucher avec moi, mas sem dizer antes voulez-vous, que neste caso é primordial. Percebeste? Tens de dizer voulez-vous e se não dizes estás fodido.
— Aqui há matéria para uma grande reportagem — disse Fate.
— Quantos manos estão metidos no assunto? — perguntou o chefe da secção.
— De que merda é que me estás a falar?
— Quantos cabrões de pretos estão com a corda no pescoço? — perguntou o chefe da secção.
— Eu sei lá, estou a falar-te de uma grande reportagem — disse Fate —, não é de uma revolta no gueto.
— Ou seja, não há mesmo nenhum mano nessa história — disse o chefe da secção.
— Oh, meu filho da puta, não há nenhum mano, mas há mais de duzentas mexicanas assassinadas — insistiu Fate.
— Que possibilidades é que Count Pickett tem? — perguntou o chefe da secção.
— Mete o Count Pickett no teu cu preto de merda — disse Fate.
— Já viste o rival dele? — quis saber o chefe da secção.
— Mete o Count Pickett pelo teu olho do cu acima, paneleiro — continuou Fate — e pede-lhe que tome conta dele porque quando eu voltar para Nova Iorque vou rebentar-te o cu a pontapés.
— Tu cumpre o teu dever e não faças batota com as ajudas de custo, preto — disse o chefe da secção.
Fate desligou.
Ao pé dele, a sorrir, havia uma mulher vestida com jeans e casaco de couro cru. Tinha óculos escuros e do ombro pendiam-lhe uma mala de boa qualidade e uma máquina fotográfica. Parecia uma turista.
— Está interessado nos assassínios de Santa Teresa? — perguntou ela.
Fate olhou para ela e demorou a compreender que tinha escutado a chamada telefónica.
— Chamo-me Guadalupe Roncal — disse a mulher estendendo-lhe a mão.
Apertou-lha. Era uma mão delicada.»
quinta-feira, 10 de junho de 2010
As frases do dia 10 de Junho
Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República de Portugal.
«Nós não estamos em nenhuma situação insustentável.»
José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Às quartas
as aves surgem,
acende-se uma chama
eis a mulher.
sem nomes nem laços, nem véu
errando de olhos fechados
a mulher sob a frescura do mar.
mas bruscamente voltam as aves
e alonga-se esta chama
mais do que entreapercebida
no fundo do quarto.
e é o mar
o mar de braços adormecidos
transportando o sol,
nem oriente nem norte, nem obstáculo nem barra,
o mar.
nada, a não ser o mar tenebroso e doce
caído das estrelas, testemunha das mutilações do céu,
solidão, pressentimentos, sussurros.
nada a não ser o mar.
os olhos extintos
sem vaga, nem vento, nem vela.
bruscamente de novo as aves,
e eis a mulher
nem estrela nem sonho, nem géiser, nem roda, a mulher.
as aves voltam
e nada mais que o mar.
Mohammed Dib
(Trad.: Adalberto Alves)
terça-feira, 8 de junho de 2010
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Registos do fim-de-semana
— Armando Vara mentiu várias vezes nas declarações que fez à Comissão de Inquérito do caso TVI, como provam novas escutas telefónicas a que o SOL teve acesso. Vara esteve sempre a par do que se passava naquela estação —
Pacheco vai fazer 'relatório paralelo'
Banca rota repetiu-se esta semana
— Os bancos portugueses voltaram esta semana a viver momentos difíceis; o sistema de financiamento é cada vez mais apertado —
O fado com Chico Buarque
— Sócrates foi ao Brasil e acabou desmentido pelo cantor, o seu 'ídolo da juventude' —
Apoio espartilha Alegre
— Com Sócrates ao lado, o candidato viu-se forçado a moderar as críticas —
Bruxelas prepara queixa judicial
— Comissão Europeia diz que houve desperdício de fundos públicos no programa 'e.escola' —
Fecho de escolas abre nova guerra
Dívida do PS aumentou de três para 35 milhões de euros no espaço de um ano
Passos quer liberalizar despedimentos e contratações
Sócrates diz "nim" ao aumento de impostos
Regimes diferentes para o 8.º ano em vigor este ano podem violar a Constituição
Deputados mantêm direito a classe executiva em voos com duração superior a três horas
Petição pede fim de acumulação de pensões e salários
Adjudicação directa dos Magalhães foi ilegal, diz Bruxelas
Juristas sem formação fazem de procuradores
— Há comarcas sem procurador há mais de uma década —
Vara mente ao Parlamento, Sócrates mente ao Parlamento, mas no passa nada. Sócrates vai ao Brasil e mente: diz que Chico Buarque pediu para conversar com ele, afinal, foi ao contrário. Mas no passa nada.
Alegre já tem o desejado apoio de Sócrates, agora, vêm as trapalhadas — querer agradar a gregos e a troianos vai dar no que sempre deu.
Passos Coelho quer liberalizar despedimentos e contratações: são estas as inovadoras propostas que a nova liderança trás?
Os deputados consideram que a crise existe apenas até 3 horas de voo, a partir daí, já não há crise.
Há três anos o Governo fechou as escolas com menos de dez alunos. Agora vai fechar as escolas com menos de vinte alunos, com o mesmo argumento que utilizou para fechar as de dez alunos. A seguir, vai fechar as escolas com menos de trinta alunos? E depois vão ser as que têm menos de quarenta? Só para termos uma ideia: qual é o limite que os recorrentemente citados estudos definem para o «fecha ou não fecha» de uma escola?
Sócrates diz «nim» a um futuro novo aumento de impostos, mas dissesse Sócrates sim ou dissesse não seria indiferente, ninguém acredita no que ele diz.
A dívida do PS aumentou, em apenas um ano, mais de onze vezes — o PS governa o país do mesmo modo que se governa a si próprio.