quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Votos para 2009

Hoje chega ao fim mais um ano. Foi um ano mau, de muitos pontos de vista. Foi um bom ano, de alguns pontos de vista.
Do ponto de vista da Educação, foi péssimo. Este ano revelou que é possível uma ministra evidenciar um nível de incompetência política e técnica nunca visto e continuar a exercer a pasta; mostrou que é possível realizar as maiores arbitrariedades e promover as maiores injustiças, destruindo carreiras profissionais de muitos professores, sem qualquer arrependimento nem qualquer penalização; mostrou que a política desta ministra e deste primeiro-ministro se rege por critérios dominados pelos interesses pessoais, pelos interesses partidários, pelo orgulho e pela mesquinhez. Os interesses do país, neste caso, os interesses da Educação foram e continuam a ser esquecidos, abandonados, desprezados. Este não é um Governo nacional nem patriótico. É um Governo que vive do e para o faz-de-conta. Se o Governo de Santana Lopes foi uma permanente festa de irresponsabilidades e de leviandades, o actual Governo é uma permanente feira de vaidades e um amontoado de patológicas arrogâncias.
Mas o ano que agora finda também foi um ano bom, do ponto de vista da consciencialização e da intervenção cívica dos professores. Os professores despertaram de uma longa letargia e aperceberam-se da força que têm, ao mesmo tempo que deram uma admirável lição aos sindicatos, aos políticos e a muitos dos nossos opinadores de serviço em tudo especializados e para tudo capacitados.

Três singelos votos para 2009:

1. Desejo, em primeiro lugar, que a memória dos professores não seja curta e que não esqueçam em 2009 aquilo que fizeram em 2008.

2. Desejo que no decisivo mês de Janeiro que se aproxima todos saibamos estar à altura das nossas responsabilidade e que não haja hesitações no prosseguimento do caminho até agora trilhado.

3. Desejo, finalmente, que no ano de 2009 Maria de Lurdes Rodrigues e José Sócrates sejam derrotados e afastados definitivamente do poder político.

Pela minha parte, tudo farei para que isso aconteça. Estas personagens e o Partido Socialista já fizeram demasiado mal ao país. Chegou a hora de se fazer justiça.
A todos um bom Ano de 2009, com estes e com outros proveitosos motivos.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Avaliadora avaliada

«Porque a realidade excede os meus dotes ficcionais, esta Ficha de Avaliação da Doutora Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação, assenta nos critérios seguidos pelo seu Ministério incluindo, a terminologia usada na avaliação de docentes, o número de alíneas e a bitola de classificação.
Níveis de Pontuação: Mínimo 3, máximo 10.

A - Preparação e execução de actividades.

A - 1 Correcção científico-pedagógica e didáctica da planificação.
Classificação obtida - Nível 3
(Não efectuou as reformas previstas no Programa do Governo por falta de trabalho preparatório. As cenas de pugilato, luta greco-romana e intimidação por arma de fogo simulada nas áreas que lhe foram confiadas vão originar um aumento significativo da despesa pública com a contratação à Blackwater (por ajuste directo) de um mercenário israelita por cada sala de aula e dois nas salas dependentes da DREN).

A - 2 Adequação de estratégias.
Classificação obtida - Nível 3
(Não definiu linhas de rumo nem planos de acção que permitissem concretizar a missão delineada, usando como benchmarking nacional os parâmetros seguidos no sistema educativo da Faixa de Gaza.)

A - 3 Adaptação da planificação e das estratégias.
Classificação obtida - Nível 3
(Não obteve eficácia aferível em três anos de actividade, consumindo no processo a maior parcela de verba pública atribuída a um Ministério. Insistiu em manter o organograma dos seus serviços (em particular da DREN) inspirado no modelo das Tentações de Santo Antão de Jeronimus Bosh).

A - 4 Diversidade, adequação e correcção científico-pedagógica das metodologias e recursos utilizados.
Classificação obtida - Nível 3
(A observação empírica dos resultados é indiciária de um inadequado e/ou incorrecto aproveitamento de recursos disponibilizados em sucessivos Orçamentos de Estado em tal monta que fazem o BPP parecer uma operação rentável. Adicionalmente, o seu Ministério atingiu tal desordem que faz a Assembleia Geral do Benfica parecer um retiro de monges Cartuxos).

B - Realização de actividades.
Classificação obtida - Nível 3
(A avaliação conclui que à incapacidade da avaliada na "promoção de clima favorável" se junta a insuficiência de valências de conhecimentos gerais essenciais, como o atesta a confusão que fez a 23 de Junho de 2005 pp. em entrevista televisionada, falhando na distinção entre "República" e "Governo da República". Isto deu novas dimensões ao Estatuto da Autonomia dos Açores e inspirou o Chefe do Estado a crescentes afrontas à vontade do Parlamento com graves e desgastantes consequências para o executivo.

Nas secções C e D da Ficha de Avaliação do Ministério da Educação, nos quatro subgrupos, a avaliada obteve oito classificações de Nível 3, pelo que, feita a média aritmética dos dezasseis parâmetros cotados lhe é atribuída a classificação geral de Insuficiente. Recomenda-se que sejam propostas à Doutora Maria de Lurdes Rodrigues as seguintes opções: integrar o quadro de mobilidade especial até colocação em Baucau; frequentar um curso das Novas Oportunidades e/ou filiar-se no Movimento Esperança Portugal; aceitar o 12º lugar na lista de espera para o próximo Conselho de Administração da FLAD; frequentar o curso de formação do INA - Limites da Autonomia Regional; ser animadora de As Tardes de Maria de Lurdes na RTP África; integrar a quota ainda disponível para antigos executivos socialistas na Mota Engil, Iberdrola ou BCP.»
Mário Crespo, Jornal de Notícias (29/12/08)

domingo, 28 de dezembro de 2008

Pensamentos de domingo

«Objecção contra a ciência: este mundo não merece ser conhecido.»
E. M. Cioran

«A razão porque o crime não compensa é que quando ele compensa chama-se outra coisa mais respeitável.»
Juiz Tom Clark

«Um "gentleman" é um homem que ao convidar uma rapariga jovem para sua casa, para lhe mostrar a sua colecção de selos, mostra-lhe a sua colecção de selos.»
Anónimo
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

Frank Rosolino

sábado, 27 de dezembro de 2008

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca do Determinismo e do Livre-Arbítrio


«Enquanto estamos no aqui e agora, temos algum controlo sobre o nosso destino?
Ao longo dos séculos, tem sido derramada muita tinta filosófica sobre se os seres humanos são livres de decidir e agir ou se as nossas decisões e actos são determinados por forças externas: hereditariedade, meio, história, destino, Microsoft.
[...]
Quando perguntaram ao escritor do século XX, Isaac Bashevis Singer, se acreditava no livre-arbítrio, ele respondeu com ironia: "Não tenho escolha." (Na verdade, esta é uma posição que alguns filósofos assumiram como uma inevitabilidade: que somos forçados a acreditar no nosso livre-arbítrio porque, caso contrário, não há fundamento para a nossa crença na responsabilidade moral. As nossas escolhas morais estariam fora do nosso alcance.)
[...]
[Por outro lado], há alguns deterministas que afirmam: "Deus obrigou-me a fazê-lo. Na verdade, Deus determinou tudo no universo, até ao último pormenor." Baruch Spinoza, o filósofo holandês/judeu do século XVII, e Jonathan Edwards, o teólogo americano do século XVIII, foram proponentes deste tipo de determinismo teológico.
[Por exemplo,] a água, a rã e o camionista da história que se segue devem ter pensado que escolheram e executaram os seus actos livremente [mas, se calhar, não foi bem assim...].
Moisés, Jesus e um velho de barba estão a jogar golfe.
Moisés dá uma tacada comprida e a bola cai junto ao relvado, mas rebola directamente para o lago. Moisés ergue o taco, separa a água e a bola rebola em segurança para o outro lado.
Jesus também dá uma tacada longa na direcção do mesmo lago mas, no momento em que estás prestes a cair no centro, a bola paira acima da superfície. Jesus caminha descontraidamente sobre a água e lança a bola para o relvado.
A bola do homem de barba bate numa vedação e salta para a estrada, onde faz ricochete num camião e regressa para a zona plana entre os buracos. Voa directamente para o lago, mas aterra num canteiro de lírios onde uma rã a vê e engole. Uma águia desce em voo picado, apanha a rã e voa para longe. Quando a águia e a rã passam sobre o campo de golfe, a rã solta a bola, que cai no buraco com uma só pancada.
Moisés volta-se para Jesus e diz:
- Detesto jogar com o teu pai.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, PLatão e um Ornitorrinco Entram num Bar...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Tony Bennett e Votos de um bom Natal

Estamos no Natal e, independentemente da relação — religiosa ou não religiosa — que cada um estabeleça com esta festa, o blogue O Estado da Educação e do Resto quer desejar a todos os seus leitores um bom, um bonito e um sorridente momento de pausa.
Não podemos é permitir que quer o estado a que a Educação chegou quer o estado a que tudo o resto chegou se possam intrometer no modo como cada um deseja viver esta época festiva.
E também não temos qualquer dúvida em dizer que todos aqueles que têm tido o gesto amigo de nos lerem merecem, só por isso, o melhor Natal do mundo.
A todos deixamos o nosso abraço e votos de bom Natal.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Portugal - América Latina IV

Esta vale por si. Nem comento.

19 Dezembro 2008 - 00h30 - no Correio da Manhã
Congresso do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. Sessão de abertura. Como é hábito nestas cerimónias, estavam presentes muitas entidades oficiais, como o ministro da Justiça, Alberto Costa, e a sua equipa de secretários de Estado.
O seu colega de Governo, Rui Pereira, ministro da Administração Interna, não estava presente. Fez-se representar pelo seu muito fiel secretário de Estado José Magalhães. António Cluny, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, subiu ao palanque e começou a ler muitas e diversas mensagens de personalidades convidadas que, por isto ou por aquilo, não puderam estar presentes.
Quando acabou tão espinhosa missão, ficou perplexo quando viu José Magalhães dar um salto para o palco, subir ao palanque e ler uma mensagem do seu ministro Rui Pereira. O ministro da Justiça estava branco. E quando a sessão de abertura acabou dirigiu-se a António Cluny para pedir explicações.
Cluny lá lhe disse que não podia ter feito nada, nomeadamente expulsar Magalhães do palanque. Alberto Costa percebeu mas não deixou de expressar em palavras o que lhe ia na alma: "Este tipo é sempre o mesmo palhaço, adora fazer estas cenas. Que palhaço!"
Palavras ... para quê? É a América Latina, no seu melhor.

Mais papistas que o Papa

Recebemos da colega Ana Joaquim o seguinte e-mail:
Na minha escola o CE pediu, através de uma ordem de serviço, que os professores entreguem na secretaria, no início de Janeiro, a sua opção relativamente a quererem ter aulas assistidas ou não.
Parece-me que a seguinte minuta, utilizada por cada professor, fará todo o sentido...

Ex.mo Senhor (a)
Presidente do Conselho Executivo da
Escola/Agrupamento ________________

ASSUNTO: - Resposta ao pedido de informação solicitado pelo(a) Presidente CE referente a opções individuais da Avaliação de Desempenho Docente nesta Escola.

____________________ (nome), professor __________ (do quadro de Escola/Quadro de Zona/Contratado) do grupo de recrutamento ____________ (nome do grupo de recrutamento), tendo tomado conhecimento da Vossa solicitação, comunicada através de _________ (documento interno de circulação de informação), no sentido de obter, até ao próximo dia ______ (data limite), o esclarecimento de opções individuais relativas à avaliação do desempenho docente, no sentido de se poder pronunciar adequadamente, solicita a indicação do suporte legal que permite essas mesmas opções.
Grato(a) pela atenção dispensada,
O(A) Professor(a)
_________________________________
Local, ____ de Dezembro de 2008
(Ana Joaquim, EB 2,3 de Pinhal de Frades)

Comentário:
Concordo que faz todo o sentido. A legislação que dá a opção de ter ou não ter aulas assistidas não existe, só existirá se e quando sair em Diário da República. Neste momento, e até que haja um novo decreto regulamentar, essa possibilidade não pode ser sequer colocada e, por consequência, ninguém pode ser chamado a pronunciar-se sobre algo que não tem existência jurídica.
Mais papistas que o Papa, alguns presidentes de Conselhos Executivos, com o fervor de ficarem bem na fotografia, de apresentarem serviço para além do que lhes é pedido e para além do que lhes é permitido, tomam iniciativas a seu bel-prazer, demonstrando pouco discernimento e pouco respeito pelos colegas de profissão.
A esses deve-lhes ser exigido sempre os fundamentos das decisões que pretendem tomar. Apesar do exemplo do quero, posso e mando vir de cima, da ministra e do Governo, isso ainda não é prática institucionalizada, nem será.
Para casos semelhantes, que os há, aqui fica um bom exemplo de como actuar.

Pensamentos de domingo

«Um político nunca acredita naquilo que diz, por isso fica sempre confundido de cada vez que é tomado à letra.»
Charles de Gaulle

«Um imbecil nunca se chateia: ele contempla-se.»
Remy de Gourmont

«Para mim os homens não me desapontaram, eu não me sinto nada desapontado. Eu esperava pior, é tudo.»
Georges Bernanos
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

Ray Brown Trio

sábado, 20 de dezembro de 2008

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca da Infinidade e Eternidade


«Acontece que, por muito maravilhoso que este mundo seja ou não seja, estamos aqui apenas para uma curta visita. Mas curta comparada com quê? Um número ilimitado de anos?
A noção de infinidade confunde os metafísicos há, bem, há uma eternidade. Porém, os não-metafísicos têm ficado menos impressionados.
[...]
A piada que se segue combina a ideia de eternidade com outra gaffe de um conceito filosófico, a relatividade:
Um médico diz à paciente que tem seis meses de vida.
- Posso fazer alguma coisa? - pergunta ela.
- Sim - responde o médico. - Pode casar com um contabilista.
- Em que medida é que isso ajudaria a minha doença? - pergunta a mulher.
- Oh, não ajudará a sua doença - diz o médico -, mas fará esses seis meses parecerem uma eternidade!
Esta piada levanta uma questão filosófica: "Como é que algo finito, como seis meses, pode ser análogo a algo infinito, como a eternidade?" As pessoas que fazem esta pergunta nunca viveram com um contabilista.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco entram num Bar...

Pedro, Manuela, José

1. Santana Lopes é candidato pelo PSD à Câmara de Lisboa.
Depois do vergonhoso papel desempenhado como primeiro-ministro, depois da estrondosa derrota obtida nas últimas eleições legislativas, depois de ter ficado em terceiro lugar na corrida para a liderança do partido e depois da actual presidente do PSD já ter dito dele o pior que se possa imaginar, depois de tudo isto, Santana Lopes foi o escolhido por Manuela Ferreira Leite para a câmara da capital.

2. José Sócrates queixou-se de o Governo ter sido deixado sozinho na defesa do seu modelo de avaliação dos professores. José Sócrates queixou-se por se considerar um incompreendido. José Sócrates não entende que, estando ele pleno de razão, haja 120 mil professores que não reconhecem isso. José Sócrates é o único do pelotão que marcha com o passo certo.

3. O humor, na política portuguesa, atravessa um momento alto.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Por onde andam os sindicatos?

Por onde andam os sindicatos de professores?
Faz hoje quinze dias que aconteceu uma greve histórica. Faz hoje quinze dias que ouvimos inflamados discursos de Mário Nogueira e demais elementos da plataforma. Faz hoje quinze dias que os protestos estavam no apogeu. Faz hoje quinze dias que a força dos professores tinha atingido uma expressão nunca antes vista. E, num repente, o discurso sindical começou a mudar, tornou-se progressivamente mais espaçado até que ficou pífio. Pior que pífio, virou inefável.

Que aconteceu, senhores dirigentes sindicais? Que foi que causou tão repentina mudança? No preciso momento em que as escolas estão a receber ofícios e pressões todos os dias para que o processo da avaliação de desempenho seja retomado, os senhores dirigentes sindicais saem de cena? Por onde andais, senhores dirigentes? Que explicação tendes para o vosso inusitado comportamento? Esqueceis a luta no seu momento mais alto? Porquê?
Aconteceu o mesmo após a manifestação de 8 de Março. Poucos dias depois, os sindicatos desapareceram do palco até reaparecerem, algum tempo depois, triunfantes de memorando na mão.
Sabemos que, desta vez, não vai haver memorando — sabemos que não sois tontos para cometerdes o mesmo erro duas vezes —, mas nem uma explicação quereis dar aos professores? Não achais por conveniente fazê-lo?
Ou estais apenas a preparar-vos para anunciar outra fantástica e retumbante vitória dos professores?
Dai notícias, senhores. Ou mostrai-vos, pelo menos. Começamos a ficar em cuidados e tementes pela vossa saúde. Mesmo que não faleis, dai um sinal de vida. O povo contenta-se com pouco, como sabeis.
Não exigimos muito, só um sinal de vida.

Professores da Manuel Cargaleiro reafirmam suspensão da avaliação

No passado dia 10 de Dezembro, os professores da Escola Secundária Manuel Cargaleiro aprovaram e assinaram a seguinte moção:

Em Reunião Geral de Professores de 5 de Novembro de 2008 foi decidido suspender o processo da Avaliação de Desempenho dos Professores.
Após análise do Projecto de Decreto Regulamentar da Avaliação do Desempenho que visa definir o regime de avaliação de desempenho do pessoal docente até ao fim do 1º ciclo de avaliação, e considerando ainda as afirmações de Sua Exa a Ministra da Educação em 4 de Dezembro na Assembleia da República, os professores abaixo-assinados decidiram reiterar a posição tomada em 5 de Novembro, mantendo a suspensão do processo de avaliação.

Assinam 108 professores (87% da totalidade dos docentes a leccionar na escola).

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Desta vez, os sindicatos não assinaram um memorando...

Desta vez, os sindicatos não assinaram um memorando. Desta vez, os sindicatos, depois da maior manifestação de sempre e depois da maior greve de sempre dos professores, preparam-se, não para assinar um memorando, mas para deixar arrefecer a contestação ao actual modelo de avaliação e, subtilmente, começar a direccionar os protestos unicamente contra o Estatuto da Carreira Docente, cuja revisão só terá efeitos a partir do próximo ano lectivo.
Deste modo, a baixa política, a política que visa servir quem a protagoniza, e o baixo sindicalismo, o sindicalismo que visa servir quem o protagoniza, mais uma vez, aproximam-se, juntam-se, abraçam-se. Mais uma vez. E, mais uma vez, com a intervenção de Carvalho da Silva, como veio noticiado nos jornais.
Mais uma vez, a substância dos problemas é atirada para o lixo: a objectiva incompetência do modelo de avaliação é colocada de lado, as injustiças que ele comporta são esquecidas, o arbitrário concurso para professores titulares não existiu e, amanhã, o Sol voltará a nascer como se nada de inaceitável tivesse ocorrido. Ou melhor, os sindicatos continuarão a dizer raios e coriscos contra o modelo, mas mais nenhuma iniciativa forte pensam promover contra a sua aplicação.
Sindicatos e o Governo chegaram a um acordo, a um acordo de bastidores, quanto à estratégia a seguir para que ninguém, como se diz em politiquês, perdesse a face. Continuarão todos, oficialmente, inimigos, mas, entretanto, nada os impede de salvaguardar os interesses de ambas as partes — a baixa política e o baixo sindicalismo é assim que manobram, é disto que vivem, é para isto que vivem:

1. O Ministério impõe o simplex, com a anuência dos sindicatos, que não repetem o erro de assinar qualquer acordo, mas comprometem-se a progressivamente amenizar os protestos contra o modelo de avaliação e a direccionar gradual e exclusivamente os protestos contra o Estatuto. O simplex avança. O Governo salva a face. Publicamente, propagandeia que não cedeu e que impôs a avaliação. Os sindicatos continuarão a dizer que o modelo é mau, mas não farão mais do que isso;

2. Os sindicatos recebem, em troca, a promessa de uma negociação minguada do Estatuto da Carreira Docente, onde se procederá a uma diferente hierarquização da carreira e a outros pequenos acertos. Os sindicatos pensam que assim salvam a face, porque poderão reclamar que obrigaram o Governo a mexer no Estatuto. Não interessa se a mexida é substancial ou não, o que interessa é que se possa dizer que se conseguiu mexer.

Entretanto, vêm as eleições e logo se verá...

Esta política repugna? Repugna. Este sindicalismo repugna? Repugna. Isto é um destino incontornável? Não, não é um destino incontornável.
Mais uma vez também, a baixa política e o baixo sindicalismo só prevalecerão se os professores o permitirem. Mais uma vez, os professores, contra a vontade dos sindicatos e contra a incompetência do Governo, podem/devem assumir a responsabilidade de fazer a única coisa que pode/deve ser feita:
— prosseguir na rejeição absoluta deste modelo de avaliação, prosseguir na recusa absoluta de a ele se submeterem.

Foi assim, com uma atitude de inabalável firmeza, que os professores conseguiram, contra a vontade inicial dos sindicatos, a realização da manifestação de 8 de Novembro. Foi assim que conseguiram, contra a vontade inicial dos sindicatos, a antecipação da greve para 3 de Dezembro. E é assim que conseguirão preservar a sua dignidade e vencer a baixa política e o baixo sindicalismo.

Abaixo-assinado contra o modelo de avaliação

Para subscrever o abaixo-assinado contra o actual modelo de avaliação, clicar aqui.
O abaixo-assinado será entregue ao Ministério da Educação, no dia 22 de Dezembro.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Pensamentos de domingo

«Os jornalistas modernos desculpam-se frequentemente em privado daquilo que escrevem para o público.»
Óscar Wilde

«Ela chorou - e o juiz enxugou as lágrimas dela com o meu livro de cheques.»
Milionário americano

«Só se é jovem uma vez; é o máximo que a sociedade pode aguentar.»
B. Berelson
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

Vienna Art Orchestra

sábado, 13 de dezembro de 2008

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca do Racionalismo
«Quando o filósofo racionalista do século XVII, Gottfried Wilhelm Leibniz, proferiu a frase que o tornou famoso: "Este é o melhor de todos os mundos possíveis", expôs-se a um ridículo implacável.
[...]
Leibniz foi um racionalista, uma moeda de troca filosófica para alguém que pensa que a razão tem precedência sobre outras formas de adquirir conhecimento (em oposição, por exemplo, a um empirista, que defende que os sentidos são o caminho essencial para o conhecimento). Leibniz chegou à sua ideia de que este é o melhor de todos os mundos possíveis argumentando apenas através da razão que:
[...] Como Deus é todo-poderoso e moralmente perfeito, só pode ter criado o melhor mundo possível. Se pensarmos no assunto, tendo em conta as circunstâncias, era o único mundo possível. Como é todo-poderoso e moralmente perfeito, Deus não poderia ter criado um mundo que não fosse o melhor.

[...]
Um optimista pensa que este é o melhor de todos os mundos possíveis. Um pessimista teme que isso seja verdade.
[...]
A piada sugere que o optimista vê com bons olhos a ideia de que este é o melhor de todos os mundos possíveis, ao passo que o pessimista não. Da perspectiva racionalista de Leibniz, o mundo é simplesmente o que é; a piada clarifica a verdade óbvia de que o optimismo e o pessimismo são atitudes pessoais que não estão relacionadas com a descrição imparcial e racional que Leibniz faz do mundo.
O optimista diz: "O copo está meio cheio."
O pessimista diz: "O copo está meio vazio."
O racionalista diz: "O copo tem o dobro do tamanho necessário."
Isto torna tudo claro como água.»

Thomas Cathcart, Daniel Klein, Platão e um Ornintorrinco Entram num Bar...

13 professores foram manifestar apoio à ministra

O Partido Socialista não consegue juntar mais do que 13 professores para apoiarem a ministra da Educação?! A nau está deserta...
Mas o caricato não fica apenas pelo número: à saída da reunião de apoio, ocorrida ontem na 5 de Outubro, todos esses professores fugiram das câmaras da televisão, nenhum aceitou mostrar a cara e falar aos jornalistas.
Qualquer professor tem o direito de defender o que a sua consciência determina acerca da avaliação como acerca do que quer que seja, contudo, não deve comportar-se como um foragido. Foge de quê e porquê? Está convicto das suas posições ou não está? Foi manifestar o seu apoio de livre vontade ou foi fazer um frete? É um apoio escondido? Apenas para ficar bem na fotografia interna do Partido Socialista? É porque vamos ter eleições daqui a nove meses e convém assegurar lugares? Se o apoio não era público, se o apoio era de índole privada, bastava terem escrito uma missiva à ministra, com o pedido de não divulgação dos nomes. Porque se deslocaram ao seu gabinete?
Comportamentos assim legitimam todo o tipo de interrogações. Tivessem eles assumido com frontalidade o que lá foram fazer, hoje, ninguém criticaria o seu comportamento, apenas poderiam ser criticadas as suas ideias.
Deste modo, é legítimo concluir que nem a quantidade nem a qualidade dos apoiantes reverte a favor da ministra. Ainda bem.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Portugal - América Latina III

1 - “… segundo uma sondagem da Aximage para o (Jornal de) Negócios.”, “Muito contestada pelos professores, Maria de Lurdes Rodrigues regista a maior queda no último mês...”: “cai 2,3 pontos e acaba o ano classificada com uma média negativa de 7,4 valores.” (JNegócios de 12.12.2008)(Então, e a sondagem (i.é., a "sondagem") do Camarada Oliveira?) Ai se a senhora concorresse a titular... Nem em Freixo lá ia.

2 - De novo a jovem Câncio, no Pravda de hoje (12.12.2008). Depois da tolice do costume sobre os professores (o que a faz correr com tanto afã? o futuro cargo de Ministra da Propaganda?), a jovenzinha diz: Esta trapalhada, que não chega a ser um argumento, é o caldo de cultura do conflito que opõe a classe (se se pode falar de uma oposição da classe) ao ministério. Note-se na elegância do "caldo de cultura" (nem parece dela) (provavelmente não é). E depois, desata a puxar por números de horas de trabalho na OCDE, para finalizar, dizendo que os professores de Portugal são, considerando o PIB, dos que mais auferem. Lógica curiosa: provavelmente, os professores da Namíbia, do Burundi, da Guiné, etç,... são dos mais mal pagos do Mundo. Mas como o PIB desses países está no fundo da escala dos PIBs, esses professores, RELATIVAMENTE, claro, têm um ordenado superior ao dos alemães, suecos, e outros (estes uns desgraçados, claro). Mais uma vez, o que faz correr a jovem? E, já agora, não se tornará cada vez mais clara a intenção da sua ida para os diversos Pravdas que vão crescendo no nosso país?

3 - Por falar em Democracia (dos jornais):

- Os portugueses perderam poder de compra entre 2005 e 2007 relativamente à média da União Europeia e Portugal surge na cauda da lista dos 15 países da Zona Euro, com o pior poder de compra de todos, nos 76,2 por cento, segundo dados hoje apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). (Público, 11.12.2008)

- Portugal desceu, de 2007 para 2008, de 8.º para 16.º no ranking da liberdade de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras.

- Portugal cai sete lugares no "ranking". "A democracia está estagnada". Portugal caiu sete lugares no "ranking" dos países mais democratas do mundo, logo a seguir à França. A Suécia continua a liderar.

- Portugal é um dos piores países da OCDE ao nível dos equipamentos e assistência à infância. Apenas cumpre quatro dos dez padrões necessários. Não cumpre na licença parental, no investimento público e na formação superior dos funcionários, considerados insuficientes, e na taxa de pobreza, considerada excessiva. É no grupo etário dos três anos que o défice é maior. Só 23% destas crianças estão em estruturas licenciadas apoiadas, quando 70% das mães trabalham a tempo inteiro. (DN de 12.12.2008) (Sobre isto, a jovem não dá palpites.)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O reino da impunidade

Instituiu-se que a política é o reino da impunidade. Os responsáveis políticos podem cometer as maiores barbaridades políticas e não sofrer quaisquer consequências. A maior parte não sofre mesmo consequência alguma. Alguns, pelo contrário, são até premiados: veja-se os casos de Durão Barroso, que será recandidato a presidente da Comissão Europeia e Santana Lopes que, ao que parece, vai ser candidato a presidente da Câmara de Lisboa.
Porque o reino da política é o reino da impunidade e da inimputabilidade é que é possível que a actual ministra da Educação e os seus secretários de Estado ainda não tenham sido demitidos.
Política e tecnicamente incompetentes, por que razão se mantêm eles no poder? Exactamente, porque no reino da política tudo é possível.
A ministra da Educação é autora de aberrações legislativas que, sem qualquer dúvida, envergonhariam o mais empedernido cara de pau que se possa imaginar. O concurso para professores titulares não tem classificação. É o paradigma absoluto da incompetência e da irresponsabilidade. Mas como é uma coisa da política não lhe acontece nada. Inquinou todo o processo de avaliação, mas como é uma coisa da política, Maria de Lurdes Rodrigues passeia-se alegremente pelas passerelles sem o mais pequeno remorso, sem o mais pequeno sinal de arrependimento.
O modelo de avaliação de desempenho que quer impôr, através do autoritarismo, através da arrogância, através da irresponsabilidade política é outro arquétipo de incompetência e de má governação.
O Estatuto da Carreira docente é um amontoado incoerente de ideias assentes no preconceito ou no mais primário senso comum.
O Estatuto do Aluno é outro amontoado de facilitismos e de burocracias, cuja suprema vergonha foi a sua recente alteração através de um despacho que desdiz, objectivamente, a lei aprovada na Assembleia de República.
Mas nada disto tem importância porque estamos no reino da política onde tudo vale e ninguém paga por nada. Ou, melhor, poderia pagar se tivéssemos um primeiro-ministro que pensasse no país e não na sua vaidade pessoal. Mas não temos.
Perante este medonho absurdo que podem/devem os professores fazer?
O que têm feito: serem profissionais e recusarem, sem hesitações, a avaliação.
E aguardarem nove meses até que quem já está politicamente morta seja, em definitivo, colocada em casa, que é o local de onde nunca deveria ter saído.

Hoje é dia de reunião

Hoje vamos ver, provavelmente confirmar, se a incompetência política e técnica do Ministério da Educação se mantém incólume.
Hoje vamos ver até que ponto os sindicatos se sentem pressionados pelas gigantescas movimentações desencadeadas pelos professores, durante os últimos meses.
Hoje vão ser feitos dois testes, vamos ver se algum dos protagonistas consegue ter avaliação positiva. Não é provável.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Uma vergonha!

«É a confusão geral. A lista dos deputados presentes no plenário de sexta-feira não coincide com a contagem feita pela mesa da Assembleia da República (AR) no início das votações desse dia, nem com o próprio resultado da votação dos deputados por braço no ar.

O turbilhão político provocado pelo absentismo de muitos deputados na votação de sexta-feira - onde o projecto de resolução do CDS para a suspensão do modelo de avaliação dos professores podia ter sido aprovado contra a vontade da maioria se muitos dos deputados da oposição estivessem presentes - está para durar. Ontem, Ferreira Leite reiterou a "responsabilidade individual" de cada deputado, adiando para sexta-feira uma declaração sobre a matéria, depois de apurados os motivos de cada ausência.

A dificuldade maior poderá ser a contabilização das ausências à votação, pois esta não bate certo com os resultados da votação. Basta olhar para a bancada socialista: segundo os registos da mesa na altura da primeira votação, eram 103 os presentes. Mas é certo que votaram 108 deputados: 101 contra o diploma do CDS, seis a favor e um absteve-se.

Nas restantes bancadas também há confusão nos números: a mesa contabilizou 45 deputados do PSD (30 ausências) na altura das votações, quando o grupo parlamentar garante que foram 48 (27 ausências). O número de votantes também não bate certo com o dos deputados que assinaram a folha de presenças, de acordo com o site do Parlamento.

No caso do PSD, apenas 19 deputados não assinaram o livro de ponto. O que significa que estiveram lá mas saíram antes de votar, apesar do pedido expresso da direcção da bancada laranja por SMS.

A confusão dos números é facilitada pelo anonimato das votações, consequência da ausência na Sala do Senado do sistema de votação electrónico do hemiciclo, fechado para remodelação, onde fica registado o sentido de voto e a identificação de cada votante. "As listas de presença que surgem na Internet são as fornecidas pela mesa aos serviços da AR, que não as confirmam", explica a secretária-geral, Adelina Sá Carvalho. "O levantamento das faltas não foi feito porque não houve votação nominal, mas sim por bancada. Houve apenas uma contagem de votos fila a fila, mas sem identificação de quem estava presente."

Havia outra solução: o visionamento das imagens da votação para identificação dos presentes. Mas a secretária da mesa Celeste Correia assegurou que tal não está previsto, a não ser que seja decidido em conferência de líderes.

Certo é que o visionamento vai ser hoje pedido por um deputado do PS, Jorge Seguro Sanches, que, tendo estado presente desde o início da sessão até ao fim das votações, surge com falta. Um caso que se repetiu com um dos vice-presidentes da bancada do PS, Pedro Nuno Santos. Ambos admitem que poderão ter falhado a assinatura do livro de presenças.

Se todos reconhecem a dificuldade em controlar a assiduidade dos deputados - que pelos estatutos podem perder o mandato perante quatro faltas injustificadas -, ninguém parece interessado em mudar o regimento. O qual, aliás, foi alterado no ano passado, passando a obrigar a publicação das faltas no site do Parlamento.»
Sítio do Público (10/12/08)

É este o lamentável espectáculo a que todos estamos a assistir: falta-se, assina-se e sai-se sem votar, vota-se sem ter assinado o livro de presenças, enfim, há de tudo e para todos os gostos.
Irresponsabilidade no parlamento. Irresponsabilidade no Governo. Temos uma classe política com demasiada gente medíocre, muita gente medíocre, mesmo.
Cada vez tenho mais orgulho em ser professor.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Portugal - América Latina II

1 - “Agora que a recessão, AFINAL, está a chegar; que o déficit está a estourar; a saúde, a piorar; o desemprego, a aumentar; o ministro das finanças, a esvaziar; o nível de vida, a afundar; … o que é que nos resta?” “O superior MODELO DE AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES.” (e, claro, as sondagens do inefável camarada Oliveira Costa)

2 – “Bebé. Achas que esta farda de coronel, modelo Armani, me fica bem?” “A matar, bebé. A matar…”

Proposta de novas formas de luta

Recebemos de um colega identificado, mas que solicitou o anonimato, o seguinte e-mail, que transcrevemos:

Colega,

Nos finais de Novembro enviei para vários blogues uma sugestão referente a novas formas de luta. É que uma grande parte dos professores está cansada de manifestações (porque cansam, de facto) e de greves (não se podem ignorar os encargos financeiros, pois são determinantes para uma maior ou menor adesão).
Entretanto, as greves regionais foram canceladas, e bem, julgo eu.
E agora... que vamos fazer? Pergunta o MEP e perguntam muitos professores.
Julgo que a nossa luta não pode ter intervalos muito longos. Esperar pelo dia 19 de Janeiro é completamente errado. A nossa luta deve ser permanente, pois não devemos dar tempo ao inimigo de se reorganizar.
Para além das muitas sugestões referidas nos blogues (resistência dentro das escolas, não entrega dos objectivos, etc., etc.), a nossa luta deve, também, ser visível.
Por isso proponho, humildemente, GREVE, 1 HORA POR DIA (entre as 08H 30M e as 09H e 30M, por exemplo) por tempo indeterminado. É que a greve de um dia custa mais do que uma semana de greve, uma hora por dia! E os efeitos desta fazem-se sentir muito mais! Ou não estarei certo?
Às quartas-feiras, por exemplo, não tenho aulas da parte de tarde (tenho, apenas, trabalho de estabelecimento), como muitos professores. E o que é que se ganhou ao perdermos o vencimento referente a uma tarde de greve em que não tinha aulas? Não teria sido melhor usá-lo em meio-dia de greve, no dia seguinte?

Porque será que os sindicatos dos trabalhadores dos transportes públicos, com muita mais experiência neste tipo de lutas do que os dos professores, adoptam esta estratégia? Fazem greve nas horas de ponta, apenas!

Um professor identificado

Sócrates e a Liberdade

«[...] Sinto incómodo em vir discutir, em 2008, a questão da liberdade. Mas a verdade é que os últimos tempos têm revelado factos e tendências já mais do que simplesmente preocupantes. As causas desta evolução estão, umas, na vida internacional, outras na Europa, mas a maior parte residem no nosso país.
[...]
A vida portuguesa oferece exemplos todos os dias. A nova lei de controlo do tráfego telefónico permite escutar e guardar os dados técnicos (origem e destino) de todos os telefonemas durante pelo menos um ano. Os novos modelos de bilhete de identidade e de carta de condução, com acumulação de dados pessoais e registos históricos, são meios intrusivos. A vídeovigilância, sem limites de situações, de espaços e de tempo, é um claro abuso. A repressão e as represálias exercidas sobre funcionários são já publicamente conhecidas e geralmente temidas. A politização dos serviços de informação e a sua dependência directa da Presidência do Conselho de Ministros revela as intenções e os apetites do Primeiro-ministro. A interdição de partidos com menos de 5.000 militantes inscritos e a necessidade de os partidos enviarem ao Estado a lista nominal dos seus membros é um acto de prepotência. A pesada mão do governo agiu na Caixa Geral de Depósitos e no Banco Comercial Português com intuitos evidentes de submeter essas empresas e de, através delas, condicionar os capitalistas, obrigando-os a gestos amistosos. A retirada dos nomes dos santos de centenas de escolas (e quem sabe se também, depois, de instituições, cidades e localidades) é um acto ridículo de fundamentalismo intolerante. As interferências do governo nos serviços de rádio e televisão, públicos ou privados, assim como na 'comunicação social' em geral, sucedem-se. A legislação sobre a segurança alimentar e a actuação da ASAE ultrapassaram todos os limites imagináveis da decência e do respeito pelas pessoas. A lei contra o tabaco está destituída de qualquer equilíbrio e reduz a liberdade.

Não sei se Sócrates é fascista. Não me parece, mas, sinceramente, não sei. De qualquer modo, o importante não está aí. O que ele não suporta é a independência dos outros, das pessoas, das organizações, das empresas ou das instituições. Não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de comunicação. No seu ideal de vida, todos seriam submetidos ao Regime Disciplinar da Função Pública, revisto e reforçado pelo seu governo. O Primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas Temos de reconhecer: tão inquietante quanto esta tendência insaciável para o despotismo e a concentração de poder é a falta de reacção dos cidadãos. A passividade de tanta gente. Será anestesia? Resignação? Acordo? Só se for medo...»
António Barreto, Público (7/12/08)
Texto enviado por Ana Joaquim

domingo, 7 de dezembro de 2008

Resposta a MFerrer

Nota intodutória: devido à extensão do texto, decidi colocá-lo no corpo principal do blogue. Para quem quiser seguir, desde o início, a troca de comentários entre mim e MFerrer, basta consultar os comentários dos posts «Quem está a mentir?» (5/12/08) e «Uma resposta aquém do necessário»(6/12/08).

MFerrer,

Ainda bem que aceitou o meu repto e decidiu mudar o estilo de comentário que estava a utilizar. Por ali, não íamos a lado nenhum e, como lhe disse, estávamos todos a perder tempo.
Não há nada melhor do que sermos frontais, assumirmos com clareza as nossas opiniões e apresentarmos argumentos que as sustentem. Li com atenção a sua argumentação, agora, fará o favor de proceder do mesmo modo.

Diz MFerrer que: «Eu não aceito que a Esc. Pública, paga a peso de ouro pelo contribuinte, apenas seja capaz de tornar à sociedade 50% dos formandos, ao final de 9 anos de trabalho. Os restantes foram entretanto, cuidadosamente escorraçados e deitados fora. Imprestáveis que terão que ser reciclados através de novos investimentos em campanhas anti-droga, em polícias, em cadeias de alta segurança e que tenhamos dos mais baixos níveis de escolaridade média da UE apenas comparáveis com alguns do 3º mundo. Recuso essa tranquila solução que perdurou anos a fio na nossa Escola Pública com a cumplicidade dos srs. professores e dos responsáveis a todos os níveis do País! Como recuso que tenhamos abandonado toda a população cigana. E que tenhamos o maior índice de crimes contra as mulheres, solteiras, casadas, novas e velhas!»

Pergunto-lhe:
— Que conclusão substantiva pretende que se tire daqui? Que os professores são os criminosos do reino? Que atiram 50% dos jovens para a criminalidade, para a droga e para a prisão? Que são os professores que abandonaram a população cigana? Que são os professores os responsáveis pelos crimes contra as mulheres, solteiras, casadas, novas e velhas?
Vamos lá ver se nos entendemos. Não lhe parece que a sua sanha contra os professores lhe retira clarividência argumentativa e credibilidade intelectual? Não quer acrescentar a guerra do Iraque e a crise internacional como sendo mais uns casos da responsabilidade dos professores?
Fazendo um esforço para tentar conversar seriamente sobre o emaranhado de afirmações que fez, quero deixar-lhe alguns apontamentos:

1. MFerrer, não tente fazer-se passar por campeão das preocupações com os problemas da juventude portuguesa. No máximo, aceito-lhe isto: está tão preocupado como nós, professores, com esses problemas. Mas mais preocupado não está. Não lhe aceito lições de moral sobre esta matéria.

2. Só por manifesta ignorância ou por má-fé (que espero não seja o caso) alguém pode dizer, como MFerrer diz, que 50% dos alunos foram «escorraçados e deitados fora».
O MFerrer não sabe, objectivamente, do que está a falar. Não tem a mínima noção do trabalho realizado pelos professores para evitarem que os alunos se percam, desistam ou abandonem. Há um princípio básico que todos deveríamos respeitar: não devemos falar de coisas que não sabemos. E MFerrer não sabe do que está a falar. Culpar os professores pelo insucesso e pelo abandono escolar é um absurdo sem medida. Todos nós podemos fazer diletantes análises pretensamente pertinentes baseadas em meia dúzia de números que vamos catrapiscando pela leitura dos jornais ou pela escuta dos noticiários, mas isso é manifestamente insuficiente para, a partir daí, alguém se sentir autorizado a emitir juízos de valor radicais e definitivos sobre o que quer que seja.
MFerrer tem a leviandade de pensar que algum professor, digno de ter esse título, fica satisfeito ou sequer indiferente perante o insucesso dos seus alunos? Está a sugerir que há maus professores? Claro que há, como há maus médicos, maus engenheiros, maus juízes, etc. E daí, conclui-se o quê? Não siga o caminho fácil da crítica arbitrária.
Terei muito gosto em convidá-lo a passar um dia na minha escola para conhecer, em concreto, o trabalho que os professores desenvolvem junto dos alunos, em particular, junto dos alunos cujos comportamentos se situam na fronteira da marginalidade: desde aqueles que revelam uma atitude de permanente indisciplina até aqueles que insultam, maltratam ou agridem colegas, funcionários ou mesmo professores.
Aceita o convite?

3. Mas, para além de tudo isto, há algo que MFerrer tinha obrigação de saber, já que denota tanto interesse pelos problemas sociais: as principais causas do insucesso e do abandono escolares estão a montante da escola. É preciso lembrar-lhe isto? Não sabia? Sabe, não sabe? Mas é feio fazer de conta que não sabe e, demagógica e insultuosamente, atirar as responsabilidades para cima dos professores.
Também terei de lhe recordar que os primeiros e principais responsáveis pela educação das crianças são os pais? Tem dúvidas sobre isso? Ou é-lhe mais fácil arremessar culpas para cima dos outros? Não o vejo a si, como a nenhum responsável político, a denunciar publicamente esta situação: a manifesta desresponsabilização dos pais na educação dos filhos. Como tem obrigação de saber, a escola nunca poderá nem deverá substituir a família. Com que direito, com que legitimidade se acusa a escola, se acusam os professores de serem os únicos ou os principais responsáveis pelos maus resultados escolares? Os professores não se demitem das suas obrigações, mas não arcam com culpas alheias.

4. Agora, tenho de lhe fazer recordar que quem delineia o sistema educativo, e a sua Lei de Bases, não são os professores. Recordo-lhe também que quem define a estrutura curricular não são os professores; nem são eles que elaboram os programas disciplinares; nem são eles que estipulam as regras que edificam o estatuto do aluno; etc.; etc.; etc.; são os governos. São os governos que definem as políticas educativas. Ainda não se tinha apercebido disso? Ou alivia-lhe a consciência dizer que são os professores os responsáveis por tudo e mais alguma coisa? E, agora, recordo-lhe que o Partido Socialista completa, no próximo mês de Março, onze anos de governo, no decurso dos últimos catorze. O tal partido que, no seu entendimento, está a fazer um excelente trabalho. É a ele a quem se deve dirigir em primeiríssimo lugar.

5. MFerrer revela-se muito comprazido com a política educativa do actual Governo. A sua zelosa perspicácia para com actuação dos professores já não lhe serve para avaliar a actuação da ministra da Educação? O escandaloso faz-de-conta que são os CEFs e as Novas Oportunidades não lhe suscitam uma palavra de crítica? O vergonhoso facilitismo de alguns exames nacionais não repugna a sua alma sensível? A defesa da irresponsabilidade, presente em algum do articulado do novo Estatuto do Aluno (alterado à pressa, recentemente), não lhe traz nenhuma incomodidade? Ou, relativamente a tudo isto, não sabe do que estou a falar? E, já agora, não se importa que toda esta gigantesca farsa seja «paga a peso de ouro pelo contribuinte»? (A propósito, avivo-lhe a memória, se é que se tinha esquecido, que o meu caro MFerrer não é mais contribuinte que eu próprio e que todos os professores. No máximo pode ser tão cumpridor, mas mais cumpridor não é. E espero que seja, de facto, cumpridor, caso contrário, nem lhe estaria a responder).


Sobre a questão das arruaças, MFerrer comenta: «Agradeço a vontade de me esclarecer quanto às arruaças!!! Que foram arruaças quase todas, senão todas, as manifestações de professores, de alunos, ainda crianças inimputáveis e que agrediram verbal e fisicamente os superiores hierárquicos a quem devem respeito. A essa falta de respeito, a esses insultos e provocações chamei eufemisticamente de Arruaças, para evitar usar de um vernáculo apetecível.»
Não tem nada que agradecer, esclarecê-lo-ei sempre que necessário. Mas vejo que o esclarecimento não foi suficiente. Deste modo, tentarei o que me parece uma quase impossibilidade: contribuir para que MFerrer adquira algum bom senso nas afirmações que faz. E utilizar aqui o termo afirmações é que é um eufemismo, porque o que realmente MFerrer faz é proferir insultos e mentiras. Não meta os alunos no meio da conversa. Se tiver alguma prova de que os alunos foram instigados por algum professor para atirarem ovos à ministra, apresente-a, se não tem essas provas não se acobarde por trás de um nickname (MFerrer) para fazer acusações que não pode assumir de cara descoberta. Deixemos, pois, os alunos de lado.
Vamos aos professores. O MFerrer viu, ouviu, teve conhecimento, por alguma via ou forma, de algum desacato, de algum incidente, de alguma altercação, de alguma violação da ordem pública que algum professor tenha produzido no decurso de qualquer uma das manifestações (8 de Março ou 8 de Novembro)? Tem conhecimento de algum acto reprovável cometido por algum professor no decurso da maior greve de professores realizada até hoje? Se tem, diga. Quando, onde e com quem isso aconteceu. Fico à espera.
Vejo, caro MFerrer, que, para si, manifestações legalmente permitidas e acções de greve são arruaças. É livre de pensar assim, mas isso classifica-o a si, não classifica as greves nem as manifestações.
Refere casos de insultos gratuitos à ministra ou a algum membro do Governo. Reprovo-os. Não subscrevo essas práticas. Mas não posso deixar de lhe dizer que considero curiosa a sua sensibilidade aos insultos que tenham sido dirigidos à ministra e não revele idêntica sensibilidade às dezenas de insultos que quer nos jornais quer em blogues quer em sítios da net são feitos aos professores. Ou, por infeliz coincidência, nunca leu nem nunca ouviu nada disto?
É feio, muito feio, ter dois pesos e duas medidas para se poder aferir a realidade segundo as conveniências.

Mais à frente, MFerrer acha por bem sentenciar o seguinte: «Pois a luta dos professores nada tem de legítima se apenas pretende perpetuar os fundamentos da desigualdade e as suas vantagens corporativas face a todos os outros trabalhadores. A luta não é legítima se querem continuar a reformar-se aos 52 anos de idade no topo da carreira. Nem me vou alongar em mais ilegitimidades evidentes e que têm que acabar!»
MFerrer, há requisitos mínimos de seriedade que têm de ser respeitados. O MFerrer vai fazer-me o favor de provar o que está a dizer, está bem? E depois conversamos. Isto é, vai dizer-me, exactamente, quais são os fundamentos da desigualdade e as vantagens corporativas de que os professores usufruem, face a todos os outros trabalhadores. A situação que refere de aos 52 anos de idade ser possível reformar-se no topo da carreira já não existe desde 2005, e aplicava-se, salvo o erro, apenas aos professores do ensino básico. Era incorrecto? Era. Digo-lho com todas as letras. Entre parêntesis, posso lembrar-lhe, contudo, que muitos destes maus exemplos vieram de empresas privadas, em particular, dos bancos. Mas isso é conversa lateral, porque nada disto existe, hoje, nem nada disto tem que ver com a actual luta dos professores. Isso é desconversar, é querer misturar alhos com bugalhos. Estamos a falar da luta dos professores contra o actual modelo de avaliação, não introduza ruído na argumentação.

MFerrer optou por concluir o seu comentário deste modo: «Quanto a vc ter o desplante de considerar que pode ter o direito a achar que este governo é política e tecnicamente incompetente...deixe-me dizer-lhe que deve comprar um espelho e ver-se nele 24/24h!»
Não vou responder à grosseria e à má educação que MFerrer revela. MFerrer não me conhece de lado algum e só por isso deveria sentir-se proibido de fazer insinuações ou ataques pessoais acerca da minha pouca ou muita competência. Habitue-se a criticar a mensagem, não o mensageiro. Para quem, acima, reclamou pelas regras da boa educação é um mau exemplo que dá.
Mas adiante.
Disse e repito: este Governo é política e tecnicamente incompetente, em particular, o seu Ministério da Educação.
E, agora, provo-lho, com alguns exemplos oriundos do ME.

Politicamente incompetente:
1. Uma ministra da Educação que pretende fazer reformas contra os professores é politicamente incompetente. Uma ministra da Educação que, desde que tomou posse, sempre teve um discurso acintoso e grosseiro para com os professores é politicamente incompetente. Em lugar de mobilizar, de congregar, de incentivar, de persuadir, a ministra sempre gerou nos professores a repulsa e a revolta.

2. Uma ministra da Educação que consegue provocar uma manifestação de 100 mil professores e oito meses depois ainda consegue fazer subir esse número para 120 mil é politicamente incompetente.

3. Uma ministra da Educação que provoca uma greve nacional com uma adesão nunca antes registada é politicamente incompetente.

4. Uma ministra da Educação que durante três anos não se sentou à mesa das negociações com os sindicatos é politicamente incompetente.

5. Uma ministra da Educação que julga que faltando à verdade e manifestando tiques autoritários conseguiria algo de positivo na Educação é politicamente incompetente.

6. Uma ministra da Educação que publicamente desautoriza os professores e que publicamente defende o facilitismo para os alunos é politicamente incompetente.
Estes factos chegam? Se for necessário mostro-lhe mais.

Tecnicamente incompetente:
(Como vejo que não está por dentro dos assuntos da Educação, vou ser sintético)
1. Uma ministra que promove um concurso para professores titulares em que só considera os últimos sete anos de serviço para efeitos de currículo, fazendo com que muitos professores vissem deitados para o lixo 15, 20 e 25 anos da sua carreira é tecnicamente incompetente.

2. Uma ministra que constrói um modelo de avaliação que permite ter professores doutorados a serem avaliados por professores licenciados, professores no topo da carreira a serem avaliados por professores dois escalões abaixo é tecnicamente incompetente.

3. Uma ministra que constrói um modelo de avaliação que permite que um professor seja avaliado na componente científico-pedagógica por um colega de uma área científica completamente diferente é tecnicamente incompetente.

4. Uma ministra que constrói um modelo de avaliação assente em dezenas de parâmetros e itens avaliativos carregados de subjectividade e de absoluta inoperacionalidade é tecnicamente incompetente.

5. Uma ministra que elabora um Estatuto do Aluno e que seis meses depois tem de alterar o seu conteúdo porque o que lá está estipulado, quanto ao regime de faltas, é de tal modo escandaloso que gerava o caos nas escolas é tecnicamente incompetente.

Finalmente, quando evoca os seus cabelos brancos, espero que não se queira socorrer de um pretenso argumento de autoridade assente na brancura capilar, até porque, para o bem ou para o mal, eu também já os tenho e não seria de todo curial pormo-nos a fazer contas a esse nível. Não lhe parece?

Aproveito para lhe deixar os meus cumprimentos,

Mário Carneiro

Pensamentos de domingo

«Eu convido os meus adversários para um acordo: eles deixam de espalhar mentiras acerca de mim e eu deixarei de contar a verdade acerca deles.»
Adlai Stevenson

«Não toquei numa gota de álcool desde a invenção do funil.»
Malachy Mccourt

«A minha triste convicção é que as pessoas só conseguem estar de acordo naquilo em que não estão interessadas.»
Bertrand Russel

In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

David El-Malek

sábado, 6 de dezembro de 2008

Ao sábado: momento quase filosófico

«A construção e reacção às piadas e a construção e reacção aos conceitos filosóficos são feitas do mesmo material. Estimulam a mente de formas semelhantes. Isto acontece porque a filosofia e as piadas têm origem no mesmo impulso: confundir a nossa percepção das coisas, virar os nossos mundos de pernas para o ar e deslindar as verdades escondidas, e muitas vezes desagradáveis, sobre a vida. Aquilo que o filósofo considera uma revelação, o cómico considera uma paródia.
[...] Eis um exemplo de piada filosófica, neste caso uma paródia ao Argumento por Analogia, que afirma que se dois resultados foram semelhantes devem ter uma causa semelhante:
Um homem de 90 anos vai ao médico:
— Sr. Doutor, a minha mulher de 18 anos está à espera de um bebé.
O médico replica:
— Deixe-me contar-lhe uma história. Um homem foi caçar, mas, em vez de uma espingarda, pegou num chapéu-de-chuva por engano. De repente, quando foi atacado por um urso, pegou no chapéu-de-chuva, disparou contra o animal e matou-o.
— Impossível — disse o homem. — foi outra pessoa que matou o urso.
— É precisamente onde quero chegar! — declarou o médico.
Não poderíamos pedir uma ilustração melhor do Argumento por Analogia [...].»

Thomas Cathcart, Daniel Klein, Platão e um Ornintorrinco Entram num Bar...

Portugal – América do Sul - I

1. Uma jovem, de nome Câncio, zurziu nos professores, no Pravda (perdão, no DN), referindo que está farta das “cantilenas” à porta do Ministério da Avaliação. Chega ao ponto de dizer que “Anotámos todos” (reparem no universalismo da afirmação: ela pensa (?) que o que ela pensa (??) é o que todos pensam, ou será o que todos têm que pensar?). Acredita, porém, que haverá quem considere o seu (?) raciocínio (?) anti-democrático (Quem? Quem?? Quem????) No final da “cantilena” pergunta se os professores querem ir até ao fim (é claro que não, que foi só para assustar), mas que isso é com eles. Todavia, que olhem para as sondagens. (“Ouve bebé, achas que estive bem?)

2. Por falar em sondagens.
“Oh Oliveira. Isto está tudo em fanicos. Tens que me arranjar uma sondagem que mostre (que é como quem diz) o apoio popular à Ministra da Avaliação. É que ela já diz que sempre foi anarquista e que o passatempo que lhe podem dar é colar selos… Já não aguenta mais.” “Tá feito. Que tal 53% de apoio popular.” “Boa, boa! Mas, olha: temos um problema.” “?” “É que nas sondagens anteriores, até para o Pravda, ela era a ministra mais impopular.”

3. Depois de um encontro de corredor com o SE, o sindicalista Nogueira desconvoca greves, num acto de boa-vontade. Ora, quando eu pensava que uma manifestação de toda a classe, que uma greve de toda a classe, que a apresentação patética da MA na AR, que a compreensão das razões da minha luta pela população me davam toda a força para rebentar com o modelo de avaliação, vim a descobrir que tenho que ser “compreensivo”. E com quem? Para com aqueles que me têm tratado como um assaltante de bombas de gasolina (tenho que voltar a ler a Arte da Guerra; e já agora Maquiavel) (“Alô? É o C. da Silva? É o V. da Silva! Tudo bem? Olha lá. Esta coisa dos professores está a ir longe de mais. A F. Leite já deu uma ajuda. Agora vocês…” “Que tal um Memorando 2?” “?” “É assim como os filmes…”

A cegueira e a arrogância do Ministério mantêm-se

Retirado do sítio do Público (às 17,00h):

«Ministério da Educação frisa que “não haverá suspensão" da avaliação dos professores
“Não haverá suspensão em circunstância alguma.” Foi assim que Jorge Pedreira, secretário de Estado adjunto da ministra da Educação, clarificou esta tarde aquilo que considera ser “um equívoco”: a ideia de que da próxima reunião entre sindicatos e tutela poderia sair a suspensão da avaliação do desempenho dos professores.
Pedreira diz que sempre deixou claro aos sindicatos que o processo é mesmo para continuar e que “o que o Governo iria fazer era aprovar os instrumentos de simplificação” da avaliação já decididos.»


À política desnorteada do «quero, posso e mando» não há outra alternativa que não seja a da absoluta e intransigente firmeza na recusa da incompetência e da arbitrariedade ministerial.
Continua-se à espera de uma resposta digna e adequada por parte da plataforma de sindicatos.

Uma resposta muito aquém do necessário

Retirado do sítio da TSF (às 11,00h) :

«Mário Nogueira desvaloriza as declarações do secretário de Estado Adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, que adiantou que o modelo de avaliação dos professores «não está em causa», considerando que a prova de que há disponibilidade para debater a suspensão é a reunião marcada para dia 15.

«Se não houvesse nenhuma intenção do Ministério de procurar uma saída para situação, não valia a pena uma reunião para nos cumprimentarmos, portanto se há uma agenda aberta é porque há um objectivo, independentemente das palavras que saiam agora na preparação da própria reunião», afirma em declarações à TSF o líder da Plataforma Sindical.

Mário Nogueira acrescenta ainda que os sindicatos só se vão deslocar a este encontro e cancelaram as greves regionais previstas para a próxima semana porque têm esperanças num recuo do Governo.»

A resposta de Mário Nogueira é uma resposta fraca, é uma resposta frouxa. É a resposta standart de quem já está em jogo de bastidores. Não é uma resposta proporcional à força que os professores lhe transmitiram, com a última greve, nem adequada à estratégia de intimidação exercida junto dos professores e de desinformação junto dos órgãos de comunicação social que o Ministério da Educação está a desenvolver.

Não é no momento em que os professores estão mais fortes que o discurso sindical pode amolecer. Não é na altura em que o Governo está a utilizar todas as armas que possui para impor a monstruosidade que criou que os sindicatos se devem mostrar esperançosos na boa-fé do Ministério.

Como também não se compreende que a reunião negocial seja apenas no próximo dia 15. Isto é, porquê dez dias de intervalo entre o dia em que se acorda a reunião e o dia em que ela se vai realizar? O Ministério e os sindicatos têm algo mais importante a tratar nos próximos dias que não seja a luta dos professores?

São, pois, vários os elementos dissonantes que o processo revela, neste momento. E nenhum deles minimamente promissor. Ainda bem que, hoje, está a realizar-se, em Leiria, o Encontro Nacional de Escolas em Luta, promovido pelo MUP e pela APEDE. O que servirá, no mínimo, para lembrar ao Governo e aos sindicatos que qualquer tentativa de uma recauchutada versão do memorando será liminarmente rejeitada pelos professores.

Espero que os sindicatos, e em particular Mário Nogueira, saibam inverter, rapidamente, a orientação do seus discursos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

QUEM ESTÁ A MENTIR?

Poucas horas depois de os sindicatos anunciarem a suspensão das greves regionais, o Ministério da Educação (DGRHE) começou a enviar para os professores, via e-mail, o seguinte comunicado em forma de «esclarecimento»:

Esclarecimento

1 - Chegou hoje ao fim o processo de negociação das medidas tomadas pelo Governo no dia 20 de Novembro para facilitar a avaliação do desempenho dos professores.
2 - Os sindicatos neste processo não apresentaram qualquer alternativa ou pedido de negociação suplementar, pelo que o Ministério da Educação (ME) dá por concluídas as negociações, prosseguindo a aprovação dos respectivos instrumentos legais.
3 - O ME, mantendo a abertura de sempre, que já conduzira ao Memorando de Entendimento com a plataforma sindical (ver infra), respondeu positivamente à vontade dos sindicatos, expressa publicamente, de realização de uma reunião sem pré-condições, isto é, sem exigência de suspensão da avaliação até aqui colocada pelos sindicatos. Foi por isso agendada uma reunião para o dia 15 de Dezembro, com agenda aberta.
4 - Os sindicatos foram informados que o ME não suspenderá a avaliação de desempenho, que prossegue em todas as escolas nos termos em que tem vindo a ser desenvolvida.
Informação complementar
1 - "Uma avaliação séria melhorará a escola" - discurso da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, na Assembleia da República, em debate sobre a avaliação de desempenho, em http://www.min-edu.pt/np3/2923.html.
2 - Notas sobre um modelo de avaliação que protege os professores, em http://www.min-edu.pt/np3/np3/2905.html.
3 - Dossier Avaliação do Desempenho Docente, em http://www.min-edu.pt/np3/193.
4 - Memorando de Entendimento entre o Ministério da Educação e os sindicatos em http://www.min-edu.pt/np3/1900.html.
Lisboa, 05 de Dezembro de 2008.

(Agradecimento a Ana Paula Velez pelo envio desta informação)

Alguém está a mentir. Os sindicatos afirmam que o Ministério aceitou discutir tudo, incluindo a suspensão, o Governo nega essa possibilidade e reafirma que não suspenderá.
Quem está a mentir?
Perante isto, os sindicatos vão ficar silenciosos? Vão manter a desconvocação das greves regionais?
Os professores acabaram de fazer uma greve histórica, o Ministério continua a comportar-se com a arrogância de sempre e os sindicatos vão aceitar negociar nestas condições? É isto que vai acontecer?
Aguarda-se a resposta urgente dos sindicatos.

Greves regionais desconvocadas

A plataforma sindical suspendeu as greves regionais com a justificação de que o Ministério da Educação já aceitava discutir a suspensão do modelo e renegociar o Estatuto da Carreira Docente.

1. Começo por reafirmar a minha declaração de interesses: a minha confiança nas direcções sindicais é igual a zero.

2. Assim sendo, espero que isto não seja o primeiro passo para mais uma farsa sindical idêntica à do vergonhoso Memorando.

3. Também espero que os dirigentes sindicais tenham a consciência de que, se isso acontecesse, seria o fim irreversível dos sindicatos de professores. Ficariam reduzidos a meia dúzia de acríticos militantes dos partidos que os dominam.

4. Espero que a impressionante força dos professores demonstrada nas duas gigantescas manifestações e na histórica greve de há dois dias obrigue os sindicatos a não cederem um milímetro naquilo que é imperativo:

a) Alterar o Estatuto da Carreira Docente, porque é dele que partiram e partem grande parte das malfeitorias;

b) Anular o incompetente modelo de avaliação de desempenho e construir um novo;

c) Anular o escandaloso concurso para professores titulares;

d) Anular o inaceitável sistema de quotas.

5. Se isto não acontecer, o Governo e os sindicatos vão arranjar um sarilho ainda maior do que aquele que neste momento existe.

CARTAZ

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Um caso perdido

Maria de Lurdes Rodrigues é o exemplo do que não deve ser um político, do que não deve ser um governante.
Ontem, na Assembleia da República, voltou a demonstrar que não é uma estadista, que concebe a governação como um exercício de birras e de teimosias tal e qual uma criança mal-educada reage a uma adversidade.
Maria de Lurdes Rodrigues já há muito que percebeu que não tem nenhuma razão séria, nenhuma fundamentação técnica que justifique a incomensurável quantidade de asneiras, de erros e de comportamentos, política e eticamente, inaceitáveis.
Eticamente, sim. Também eticamente. Acuso, sem qualquer hesitação e assumindo toda a responsabilidade desta acusação, a ministra da Educação de ter faltado várias vezes à verdade, com o objectivo de esconder as monstruosidades políticas e técnicas que cometeu com o novo modelo de avaliação, com o novo Estatuto da Carreira Docente, com o novo Estatuto do Aluno, com o concurso para professores titulares. Não é tolerável que um político se comporte assim. Cometa um tão grande número de dislates, que põe em causa a vida profissional de milhares de professores e a vida estudantil de milhares de alunos, e não seja capaz de reconhecer que errou ou de se demitir do cargo para o qual, objectivamente, não tem competências nem políticas nem técnicas.
Professores e alunos somados são cerca de 2 milhões de portugueses cujas vidas ficam à mercê de uma pessoa desqualificada para exercer as funções que exerce.
Maria de Lurdes Rodrigues é um caso perdido. É um caso lamentável. É um caso grave na política portuguesa.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Esclarecidos vs Irreflectidos

«O que pede o Ministério da Educação? Que se cumpra a lei sobre "a avaliação". Quem fez a lei? O Governo e a sua maioria. A quem se dirige a lei? Aos professores. Os professores concordam com a lei? Não. É possível aplicar uma lei quando aqueles a quem ela se dirige não querem a sua aplicação? Não.

Este imbróglio diz respeito a todas as leis, ou seja, ao "espírito das leis", de que falava Montesquieu. Há quem pense que basta redigir uma lei para que a lei se cumpra; seria fácil, a um punhado de "pessoas esclarecidas", passar um ano a produzir leis e três anos a mandar executá-las, fechando um ciclo eleitoral. Infelizmente, as leis dirigem-se a pessoas concretas que vivem em condições concretas, nem sempre as desejáveis. As "pessoas esclarecidas" às vezes não vêem isto.»

Francisco José Viegas, escritor

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

UMA GREVE DEMOLIDORA

Foi hoje. Os professores, mais uma vez, manifestaram de forma inequívoca a sua completa e firme oposição ao incompetente modelo de avaliação que o Governo quer impor.

Dirigido por quem não possui o mínimo sentido de Estado, dirigido por quem faz da política uma feira de vaidades e de arrogâncias, dirigido por quem julga que governar é sinónimo de dizer que faz reformas, independentemente da substância das mesmas, este Governo, e em particular o Ministério da Educação, soma trapalhadas atrás de trapalhadas, faz e desfaz, sem rumo, sem coerência, sem sensibilidade política.

Este Governo não possui a noção fundamental que deve ser a base de qualquer boa governação: a política só tem sentido se for exercida para as pessoas e não contra as pessoas, se tiver como finalidade última o bem das pessoas.
Uma política caceteira é uma política medíocre, executada por indivíduos medíocres, que invariavelmente partem deste princípio medíocre: nós, Governo, temos a posse da razão, eles, os governados, ou por interesses corporativos ou por limitações próprias de seres inferiores, não compreendem o virtuosismo da governação. Deste modo, o que o Governo determina é o que está inquestionavelmente certo.

Um Governo liderado por um indivíduo culturalmente limitado, que tem como certo que vestindo fatos Armani e atirando computadores para cima das pessoas resolve os problemas do país, um governo que tem uma ministra da Educação cujo conhecimento que possui da realidade das escolas é abaixo de zero, um governo assim constituído não pode ir além do discurso grotesco e da acção impulsiva e descoordenada.

É por isso que, no meio de toda esta balbúrdia, há diferenças fundamentais. Os professores movem-se por critérios profissionais, não por interesses de baixa política. Os professores têm o saber e o saber-fazer e é em função deles que ajuízam a qualidade das medidas governamentais, não é em função de jogos partidários. Os professores têm uma dignidade profissional a defender, não a alienam, como outros, por lugares de poder. Os professores exercem a actividade mais respeitada em Portugal e na Europa, os membros do Governo exercem a actividade menos respeitada pelos portugueses e pelos europeus. Os professores têm autoridade profissional para exigirem o que exigem, a ministra da Educação não tem nenhuma autoridade técnica para sustentar o que sustenta.

Desde que tomou posse, esta ministra da Educação não estuda, não prepara, não ouve, não dialoga. Vive na e para a azáfama do dizer que faz. São inúmeros os textos legislativos tecnicamente mal elaborados que depois obrigam a rectificações, a correcções e a alterações que modificam por completo o texto original — para além das mudanças já realizadas na legislação sobre a avaliação de desempenho, veja-se o mais recente exemplo das transformações operadas no sistema de faltas consignado no novo Estatuto do Aluno. É um Ministério sem credibilidade e sem autoridade.

Perante tudo isto, os professores fizeram uma greve histórica, demolidora, que só os dignifica e honra. Perante tudo isto, não resta aos professores outra alternativa que não seja manterem a firmeza das suas razões. Dure a luta o tempo que tiver de durar.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Carta de um professor socialista

Através do colega João Vasconcelos, chegou-nos esta carta, que não vem assinada. Ainda que se possa perceber que muitas pessoas, neste momento, utilizem o anonimato como forma de salvaguarda pessoal, é óbvio que esse facto retira credibilidade e força a qualquer que seja o texto. Contudo, porque o seu conteúdo não é insultuoso para ninguém e porque é provavelmente verdadeiro, este blogue publica-a.

Caros colegas,


Sou militante do PS desde 1989 e estive ontem na sede do PS, Largo do Rato. Não tive a oportunidade de intervenção porque houve bastante participação. Inscrevi-me, mas confesso que abdiquei da minha intervenção pois iria repetir-me. Em resumo: insistência e muita propaganda para validar o modelo a qualquer custo. A divisão da carreira é para continuar, sendo que foi demonstrado cabalmente que não corresponde ao mérito mas sim a redução de custos e que mais de 2/3 dos professores jamais a atingem. Quero deixar a mensagem que só muito poucos é que tiveram a coragem de dizer as verdades. Enfim, a pressão é muita e o satus presente não permitiu que todos nos sentíssemos "livres".
Porque sou socialista, porque acredito num verdadeiro PS e não neste, porque quero e luto por um PS mais justo, mais digno, mais fraterno... irei fazer greve assim como muito dos colegas presentes. Quero ainda dizer-vos: Este PS está aflito. Vai recorrer a tudo o que puder para levar por diante toda esta maquinação. Dizem que não podem perder a face.
Nós professores também não! Se ganharmos agora, ganhamos todos! Se perdermos neste momento, jamais nos levantaremos! O PS de Sócrates e não dos socialistas tudo irá fazer para nos vergar. Isto é uma certeza. Cabe-nos a nós resistir, porque resistir é vencer!
Aguardo melhores dias para o meu verdadeiro PS.

PS: Foi dito por um colega que neste momento o PS já tinha perdido a maioria e que se arriscava mesmo a perder as eleições com esta luta contra os professores. Este PS não está mesmo preocupado... e todos nós julgamos saber porquê. Quem vier a seguir que feche a porta, pois estes já têm lugar de estadia e vôo marcado para destinos definidos e bem remunerados.

Professor socialista que não vota neste PS.
30 de Novembro de 2008 17:58

FAZER GREVE NO DIA 3 É UM IMPERATIVO PROFISSIONAL E UM IMPERATIVO ÉTICO

FALTAM 24 HORAS!

A mentira e o faz-de-conta não podem continuar.
Este Governo nunca esteve interessado na melhoria da Educação em Portugal. Apenas se preocupa em poupar dinheiro e em apresentar estatísticas que escondam a vergonhosa realidade dos factos. A certificação de competências, os CEFs, o facilitismo de vários exames nacionais e o novo Estatuto do Aluno são alguns dos exemplos que revelam a falta de credibilidade e de seriedade política deste Ministério da Educação.

A nova avaliação dos professores constitui o culminar do processo de fantasias e de embustes. É uma avaliação incompetente, mas barata. É uma avaliação injusta, inadequada e impraticável, mas serve para aparentar que está a ser feita uma reforma.

Este Governo engana os portugueses, do mesmo modo que enganou aquelas crianças a quem deu e depois tirou os «Magalhães», logo que o primeiro-ministro e as televisões se foram embora.
É um Governo que vive de e para encenações.
Sinto vergonha de ser governado por políticos deste jaez.

Amanhã, farei greve com a profunda convicção de que é a greve mais importante, mais necessária e mais justa de todas as que já foram realizadas pelos professores, desde 1974.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

GREVE NACIONAL - DIA 3 DE DEZEMBRO

Faltam 48 horas!

O dia 3 de Dezembro tem de constituir mais uma resposta memorável à incompetência e à arrogância do Governo.

Depois de uma manifestação de 100 mil e de uma outra de 120 mil professores, chegou o dia de fazermos uma greve nacional histórica.

O Governo não cede, os professores também não cedem.
A incompetência não pode triunfar. O crime não pode compensar.

Não vendemos a Dignidade, não vendemos a Educação aos interesses de jogos políticos nem à mesquinhez de políticos medíocres.

Temos a força da razão. É ela que vai vencer.
Dure a luta o tempo que durar.

Ética da esperança

«[...] Portugal terá um dia o seu Obama. Porque em Portugal também se joga o destino do planeta. Até nesta questão – vital para o nosso país – da avaliação dos professores. Quando se pensa no que é actualmente o ensino concreto, numa escola secundária, e no que poderia ser segundo essa ética da esperança – quase se é levado pelas onda da depressão e do desespero. Lembrando os 120 mil manifestantes e a extraordinária vocação que anima tantos docentes, vocação de dar a outros vida e esperança precisamente, nasce novamente o desejo de acabar com o desperdício de talentos, com a mesquinhez deste modelo economicista, com a estreiteza dos pequenos egos que nos governam.»
José Gil, Visão (27/11/08)

domingo, 30 de novembro de 2008

Pensamentos de domingo

«Deus ficou satisfeito com o seu trabalho. Foi o grande erro dele.»
Samuel Butler II

«A expressão "político honesto" não é assim tão evidente.»
Bertrand Russell
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

«Estes são os meus princípios; se não gostarem deles, tenho outros.»
Groucho Marx
In Thomas Cathcart, Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...

The Penguin Cafe Orchestra

sábado, 29 de novembro de 2008

Ao sábado: momento quase filosófico

«Dimitri: Se o Atlas contém o mundo, o que contém o Atlas?
Tasso: O Atlas está nas costas de uma tartaruga.
Dimitri: Mas onde está a tartaruga?
Tasso: Noutra tartaruga.
Dimitri: E onde está essa tartaruga?
Tasso: Meu caro Dimitri, são tartarugas até ao fundo!
Este excerto de um diálogo grego antigo ilustra na perfeição a noção filosófica da regressão infinita, um conceito que surge quando perguntamos se existe uma Primeira Causa – da vida, do universo, do tempo e espaço, e, mais importante, de um Criador. Alguma coisa deve ter criado o Criador, por isso o bode – ou tartaruga – causal não pode parar com ele. Ou com o Criador que o antecedeu. Ou com o que veio antes do segundo. São criadores até ao fundo – ou até ao cimo, se parecer essa a direcção certa para perseguir Criadores.

Se o leitor achar que a regressão infinita não o leva a lado algum, rapidamente, poderá ter em consideração a doutrina do creatio ex nihilo – criação a partir do nada – ou como John Lennon afirma num contexto ligeiramente diferente: “Antes de Elvis, não havia nada.”»


Thomas Cathcart, Daniel Klein, Platão e um Ornintorrinco Entram num Bar...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ministra da Educação sente-se anarquista

«Ainda me sinto anarquista», esta frase pertence à ministra da Educação do Governo de Portugal, Maria de Lurdes Rodrigues (MLR). Vem transcrita, hoje, no jornal Público, e foi proferida há poucos dias.
MLR conta, na entrevista, que colaborou no jornal anarco-sindicalista A Batalha e na revista anarquista Ideia. Mas conta também que aquilo que gostava mesmo de fazer era colar selos. Diz MLR: «Havia uma tarefa que me dava muita paz, que era colar selos e cintas nos jornais ou nas revistas que iam ser expedidas
Agora, não consigo evitar estas dúvidas:
1. Para ainda hoje se considerar anarquista, MLR terá, em algum momento, percebido o que era/é o anarquismo?
2. Ou MLR entendeu mesmo o que era/é o anarquismo e está militantemente, infiltradamente, clandestinamente, lentamente, mas certeiramente, a fazer aquilo que compete a um verdadeiro anarquista fazer: tentar destruir o Estado?
Fico preocupado porque esta possibilidade não é destituída de sentido: MLR já conseguiu destruir parte do sistema educativo, já incendiou as escolas, pôs os professores a anteciparem as suas reformas, originou que os alunos lhe atirassem ovos e tomates, desencadeou duas manifestações de mais de 100 mil docentes, provocou uma onda de greves que se inicia para a semana, faz e desfaz leis a uma velocidade nunca vista, já ninguém lhe reconhece autoridade e só arranja problemas ao Governo a que pertence. Quem poderia fazer mais, quem poderia fazer melhor em prol da desautorização de um Governo, do descrédito da Autoridade, em suma, da destruição do Estado?
MLR sabe o que faz, nós é que não sabíamos o que andava ela a fazer. MLR continua a ser militante anarquista. Está no activo e não brinca em serviço.

A estas duas dúvidas, junto, contudo, uma certeza: MLR já não cola selos. Vejo no seu olhar que não está em paz, portanto, não cola selos.
Não posso, todavia, deixar de formular um desejo, um pedido, uma prece: MLR, volte a colar selos. Por favor, volte a colar selos. Seria uma paz para si e uma imensa paz para todos nós.