segunda-feira, 31 de maio de 2010

Registos do fim-de-semana

'A Manela não apresenta mais o jornal. Mas não digas nada.'
— Foi assim que Sócrates soube, através de Armando Vara, da saída de Manuela Moura Guedes da apresentação do Jornal de Sexta. No entanto, à Comissão de Inquérito, o 1.º-ministro disse que só soube pela comunicação social —

Políticos ignoram austeridade
— Ministros continuam a contratar pessoas depois do congelamento das entradas no Estado. Nomeações não param no Governo —

Gabinete de Passos Coelho no PSD é em boa parte pago pelo Parlamento

Contestação nas ruas para travar o PEC III

Alegre e PS dão o nó no domingo
Sol (28/5/10)

Fim das medidas de apoio ao emprego vai afectar 186.400 portugueses

Parlamento: delegação viaja em executiva até Madrid

Dívida elevada poderá levar Moody's a cortar o rating de Portugal
Público (28/5/10)

Direita procura alternativa a Cavaco

PSD prepara-se para queda do Governo

Sócrates é o PM que mais aposta nas entrevistas na TV

PS acerta apoio tristonho a Manuel Alegre

CGTP promete a mãe de todas as manifs
— O protesto teve o aplauso de pequenos patrões, mas a central nega o apoio da associação de camionistas —
Expresso (29/5/10)

Gabinetes dos ministros mais caros em 2010
— Gabinetes ministeriais custam mais de 30 milhões em 2010 —

Governo fugiu ao concurso público do Magalhães

PSD quase com maioria absoluta em nova sondagem

Escolaridade média dos portugueses é a segunda pior da OCDE
Público (29/5/10)

Concluindo.
Toda a gente sabe que Sócrates mentiu ao Parlamento, mas, pelo que se tem observado, não chega que toda a gente o saiba.
A austeridade é para quem trabalha e para os desempregados — os políticos viajam em executiva.
Que vão fazer com a mãe de todas as manifestações?
Deu-se a quadratura do círculo: O PS apoia Alegre, e Alegre quer ser apoiado pelo PS — o que passou passou, não interessa nada nem nunca interessou, somos novamente todos amigos... É por estas e por outras que a política e os políticos têm a credibilidade que têm.
A escolaridade média dos portugueses é a segunda pior da OCDE — quantitativamente falando, porque se a análise for qualitativa o primeiro lugar do pódio da mediocridade é nosso. Quem merece este prémio? As Novas Oportunidades, de José Sócrates.

domingo, 30 de maio de 2010

Renaud Garcia-Fons

Pensamentos de domingo

«As pessoas devem praticar o aperto de mão em casa.»
Susana Casanova
Sábado (13/5/10
«Uma estrela de cinema é como um salsicha; ninguém sabe por que passou até se transformar naquilo.»
Scarlet Johansson

«Vão para o c..., vocês nem pensem que vão tirar fotografias.»
António Lobo Antunes (à saída da igreja, no dia do seu último casamento)
In Sábado (27/5/10)

29 de Maio: um protesto gigante

Registos visuais de uma enorme manifestação de protesto contra o governo mais incompetente de Portugal, desde o 25 de Abril.





sábado, 29 de maio de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico

«Sem dúvida nenhuma, a estrela da filosofia no século XX foi a linguagem. Muitos filósofos insistiram até à saciedade em que nós, os falantes, não somos donos da linguagem, antes estamos sujeitos a ela. No entanto, mesmo que seja verdade, no sentido em que só podemos dizer aquilo que a linguagem nos deixa dizer, o certo é que também há um uso persuasivo da linguagem, de tal modo que é possível usar a linguagem para influenciar o próximo e conseguir os nossos propósitos. Um exemplo dessa utilização persuasiva desponta na seguinte história que, com diferentes variantes, aparece tanto na tradição indiana, como na japonesa, como na europeia. Na versão europeia, o protagonista é um jesuíta, já que os membros desta ordem tinham fama de ser especialmente astutos e sibilinos. É assim:
Dois sacerdotes de ordens distintas, ambos fumadores inveterados, foram falar com o papa e consultaram-no sobre se lhes seria permitido fumar enquanto rezavam a Deus.
Em primeiro lugar, um deles falou com o papa e perguntou-lhe se podia fumar enquanto rezava, recebendo da parte de Sua Santidade um redondo não, mais uma severa reprimenda.
Chegou então a vez do segundo sacerdote, o jesuíta, que formulou a mesma pergunta ao papa, com uma ligeira diferença.
— Também se aborreceu contigo? — perguntou o outro sacerdote, quando o viu sair da entrevista.
— Pelo contrário, ficou muito contente.
— Mas tu perguntaste se podíamos fumar enquanto rezamos?
— Sim, só tive de mudar um pouco a ordem das palavras: perguntei-lhe se podíamos rezar enquanto fumamos.»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Fragmenti veneris diei

«Conduziu durante duas horas por estradas escuras com a rádio ligada, a ouvir uma emissora de Phoenix que transmitia jazz. Passou por lugares onde havia casas, restaurantes e jardins com flores brancas e carros mal estacionados, mas nos quais não se vi luz nenhuma, como se os habitantes tivessem morrido nessa mesma noite e no ar ainda restasse um hálito de sangue. Distinguiu silhuetas de cerros recortadas pelo luar e silhuetas de nuvens baixas que não se moviam ou que, em determinado momento, corriam para oeste como que impelidas por um vento repentino, que levantava poeirada a que os faróis do carro, ou as sombras que os faróis produziam, emprestavam roupagens fabulosas, humanas, como se as poeiradas fossem mendigos ou fantasmas que saltavam junto ao caminho.
Perdeu-se duas vezes. Numa, esteve tentado a voltar para trás, para o restaurante ou para Tucson. Na outra, chegou a uma terra chamada Patagonia onde o rapaz que atendia na bomba de gasolina lhe indicou a maneira mais fácil de chegar a Santa Teresa. Quando saiu de Patagonia viu um cavalo. Quando os faróis do carro o iluminaram o cavalo levantou a cabeça e olhou para ele. Fate parou o carro e esperou. O cavalo era preto e ao fim de pouco tempo mexeu-se e perdeu-se na escuridão. Passou junto a uma meseta, ou pelo menos assim julgou. A meseta era enorme, totalmente plana na parte superior e de uma ponta à outra da base devia medir pelo menos cinco quilómetros. Junto à estrada apareceu um barranco. Saiu, deixou as luzes do carro acesas e urinou longamente respirando o ar fresco da noite. Depois o caminho desceu até uma espécie de vale que lhe pareceu, à primeira vista, gigantesco. Na ponta mais afastada do vale julgou discernir uma luminosidade. Mas podia ser qualquer coisa. Uma caravana de camiões a mover-se com grande lentidão, as primeiras luzes de uma localidade. Ou talvez só o seu desejo de sair daquela escuridão que de alguma maneira lhe fazia lembrar a sua infância e a sua adolescência. Pensou que houve uma altura, entre uma e outra, que chegou a sonhar com aquela paisagem, não tão escura, não tão desértica, mas certamente semelhante. Ia num autocarro, com a mãe e uma irmã da mãe e faziam uma viagem curta, entre Nova Iorque e uma localidade próxima de Nova Iorque. Ia junto à janela e a paisagem invariavelmente era a mesma, edifícios e auto-estradas até que de repente apareceu o campo. Nesse momento, ou talvez antes, tinha começado a entardecer e ele olhava para as árvores, um bosque pequeno, mas que aos seus olhos aumentava. E então julgou ver um homem a caminhar à beira do pequeno bosque. Com grandes passadas, como se não quisesse que a noite lhe caísse em cima. Perguntou assim mesmo quem seria aquele homem. Só soube que era um homem e não uma sombra, porque ele tinha uma camisa e mexia os braços ao caminhar. A solidão do homem era tão grande que Fate se lembrava que desejou não continuar a olhar e abraçar a sua mãe, mas em vez de isso manteve os olhos abertos até o autocarro deixar o bosque para trás e aparecerem de novo os edifícios, as fábricas, os armazéns que balizavam a estrada.
A solidão do vale que atravessava agora, a sua escuridão, eram maiores. Imaginou-se a si mesmo a caminhar a bom passo pela berma. Sentiu um calafrio. Recordou então o jarrão onde jaziam as cinzas da mãe e a chávena de café da vizinha que não devolvera e que agora estaria infinitamente fria e os vídeos das mãe que já ninguém iria ver nunca mais. Pensou em parar o carro e esperar que amanhecesse. O instinto indicou-lhe que um local com um preto a dormir num carro alugado junto a uma berma não era o mais prudente no Arizona. Mudou de emissora. Uma voz em espanhol começou a contar a história de uma cantora de Gómez Palacio que havia voltado à sua cidade, no estado de Durango, só para se suicidar. Depois ouviu-se a voz de uma mulher que cantava rancheras. Durante um bocado, enquanto conduzia para o vale esteve a ouvi-la. Depois tentou voltar a sintonizar a emissora de jazz de Phoenix e já não conseguiu encontrá-la.»
Roberto Bolaño, 2666, pp. 315-316.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Às quartas

A Contra-senha

Cheguei do fundo da pedra:

precocemente do centro da rosa:
toquei as mãos e a artéria.
Ando ainda com a pele dos mármores

sombrios do deserto inocente. Oponho-me,
oponho-me ao relâmpago da água

e do mandato: ordeno, troco,
louvo a penugem como espada de enxofre
ou perfeição. Ordeno
ainda os horizontes.
Minha voz não é débil
nem o nascimento se cheguei e pus sobre uma pedra
o coração como destino

e como canto a palavra amor e sem resposta, espero.

E como uma chuva de martelos,

de homem demasiado homem, de pancadas demasiado pancadas,

ou de paixão sem limites lancei minha funda ao vento:

quero mais terra, mais terra e repartir unhas e chicotes

e repartir palavra e boca: Como um último respirar do homem
que viveu sem história na pegada e criou.

Criou a magnitude do homem lá do fundo da matéria única,
uma nova matéria, forças a rasgar o último recanto do vento
e a ordenar o eco
da última terra ou gratidão

que reste em minhas sandálias.

Caminhei até aqui,
cheguei precocemente do fundo da pedra

com a boca doce ou a palavra dividida. Ordeno

ainda os horizontes.


Luis Cartañá

(Trad.: José Bento)

Professores do SPGL censuram assinatura do Acordo de Princípios e não divulgação das Actas Negociais

Moção aprovada por unanimidade no Plenário de Professores Contratados e Desempregados do SPGL (FENPROF):

Para ampliar, clicar na imagem.

A «evidência» da «grande vitória» alcançada pelos professores com a assinatura do Acordo de Princípios não é partilhada pelos professores contratados e desempregados do SPGL. E como estes, milhares de outros professores, por todo o país, opõem-se àquele Acordo.
Consultar aqui as outras moções aprovadas.

Um imperativo

Os portugueses enfrentam vários problemas. Os professores portugueses enfrentam os mesmos problemas e ainda os seus problemas particulares.
Os portugueses enfrentam o problema da crise internacional, enfrentam o ainda mais grave problema da crise nacional e ainda enfrentam o gravíssimo problema de serem governados por um primeiro-ministro irresponsável, cuja credibilidade é nula.
Os professores portugueses enfrentam os mesmos problemas e ainda mais dois particulares:
— o primeiro é o de serem liderados por uma nova ministra da Educação que revela ser uma sorridente aprendiz da anterior ministra da Educação e apenas isso; que revela ter um discurso sobre Educação substantivamente muito próximo da insignificância; e que revela possuir, no Governo, um peso político igual a zero;
— o segundo é o de terem sindicatos liderados por gente incapaz de defender a classe e a função docente quando esta é vil, continuada e persistentemente atacada por um núcleo de políticos aventureiros e irresponsáveis.
O problema da nova ministra só tem resolução se for resolvido o problema do primeiro-ministro. Se o primeiro-ministro for demitido e se lhe suceder um novo Governo com uma política para a Educação completamente diferente.
O problema dos sindicatos é de outra natureza. Do meu ponto de vista, já o escrevi noutras ocasiões, o problema sindical só poderá ser resolvido quando os sindicatos forem organizações independentes dos partidos políticos. Sejam quais forem os sindicatos, sejam quais forem os partidos. A incompatibilidade objectiva que existe entre ser dirigente sindical e, simultaneamente, pertencer ao órgão dirigente de um partido é uma incompatibilidade que os partidos políticos não estão interessados em discutir: aceitar essa incompatibilidade teria como consequência retirar aos partidos políticos o efectivo controlo da actividade sindical. Ora, ao alienarem esse controlo, os partidos estariam a alienar o controlo dos principais movimentos sociais, o que lhes retiraria uma parte fundamental da força e do poder político que detêm. Enquanto esta alteração estrutural não ocorrer, nada de significativo será alterado na política sindical.
Os sindicatos deveriam ser organizações poderosas, independentes e credíveis. Mas não o são. Uma organização poderosa que tivesse a apoiá-la um desfile nacional de 100 mil professores, seguido de outro de 120 mil e de duas greves nacionais, com níveis de adesão superiores a 90%, em circunstância alguma teria aceitado assinar um Memorando de Entendimento e um Acordo de Princípios que caucionassem o mais vituperioso processo de avaliação que é possível imaginar. Uma organização independente em circunstância alguma aceitaria submeter a defesa da função docente e da Educação às estratégias partidárias, como a FNE e a FENPROF sempre têm feito. Uma organização credível não dá o dito por não dito, consoante as circunstâncias, não anuncia guerras para em seguida se desvanecer em sorrisos, nem tem o seu secretário-geral a escrever artigos de opinião da natureza daquele que há semanas saiu no jornal Público (e que, na minha opinião, deveria ter sido por ignorado).
Enquanto forem estes os dirigentes sindicais e enquanto o problema de fundo não for resolvido, continuarei a não ter nenhuma confiança nas estratégias de acção ditadas pelas direcções dos sindicatos nem nos seus discursos. Invariavelmente, o epílogo é o mesmo, e esse mesmo é invariavelmente mau.

Sendo esta a realidade sindical existente, ela não pode, todavia, conduzir à inacção ou a um exercício de contestação das políticas governativas exclusivamente centrado em actos individuais. A ministra da Educação que temos, o primeiro-ministro que temos e o Governo que temos não podem beneficiar do facto de termos os sindicatos que temos. Deste modo, aqueles que, como eu, se encontram em divergência com a prática sindical dominante e, ao mesmo tempo, em oposição absoluta à política deste Governo terão de se posicionar, relativamente às iniciativas sindicais, em função da avaliação política que façam de cada situação em concreto e em função do que a consciência de cada um determinar.
Dessa avaliação e determinado pela consciência, irei dia 29 de Maio à Manifestação Nacional. Irei com a convicção de que, neste momento, é um imperativo político exercer colectivamente uma contestação veemente e irreversível ao actual Governo, ainda que saiba da falta de seriedade política das direcções sindicais que promovem a Manifestação.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Terças da MP - Rui Veloso

Bonecos de palavra

Para ampliar, clicar na imagem.

A APEDE e a manifestação do dia 29 de Maio

Porque temos sofrido, nos últimos vinte anos de governação, todo um conjunto de opções políticas, no domínio económico-financeiro, que apenas agravaram as insuficiências estruturais de Portugal, criando uma ilusão de desenvolvimento que se vê agora dramaticamente desmentida;

porque essas escolhas desastrosas, de que os Governos foram principais responsáveis, acompanharam o aprofundamento das desigualdades sociais entre os pobres, a classe média e os muito ricos, o aumento exponencial da corrupção e do tráfico de influências, a promiscuidade entre o sistema político-partidário e a esfera dos negócios privados, bem como a reinstauração de monopólios que alimentam os interesses de uns poucos, sem quaisquer vantagens para a economia nacional;

porque o nosso país continua à espera das reformas necessárias no campo da Educação e da Justiça, sem as quais continuaremos na cauda da Europa;

porque os dois principais partidos, que têm partilhado a governação deste país, estão hoje reduzidos a agências de emprego para políticos medíocres e carreiristas, com vergonhosos percursos pessoais, que não os têm, contudo, impedido de ascender a cargos de elevada responsabilidade, nos quais tomam, de forma sempre impune, decisões que hipotecam o futuro de Portugal;

porque são esses políticos, ao serviço de um mundo empresarial dependente de relações promíscuas com o Estado, que agora recorrem à receita invariavelmente seguida, sobrecarregando os trabalhadores com todos os encargos da crise e poupando os que, tendo-a gerado, mais lucraram com ela;

porque nenhuma das gravosas medidas agora impostas irá contribuir para ultrapassarmos, de forma duradoura e sustentada, a crise em que nos mergulharam, prevendo-se, pelo contrário, que a recessão seja acentuada, que o desemprego aumente ainda mais e que o endividamento continue a crescer;

porque toda esta política está desenhada para minar e destruir direitos sociais e laborais conquistados no decurso de décadas de lutas difíceis e duras;

porque é tempo de juntar os trabalhadores de todos os sectores profissionais, públicos e privados, para dizer BASTA;

porque é tempo de unir trabalhadores efectivos e contratados, empregados e desempregados, na certeza de que TODOS se encontram hoje precarizados e de que os direitos de uns são os direitos de TODOS;

porque é tempo de exigirmos uma inversão de políticas que não penalize os que sempre são penalizados e que responsabilize quem tem efectivamente de ser responsabilizado;

a APEDE apela a que TODOS participem na Manifestação do dia 29 de Maio,

sem, contudo, deixar de manifestar o seu profundo descontentamento com a forma como as cúpulas sindicais têm vindo a conduzir o processo de luta dos professores, alienando aquela que deveria ser a sua base de apoio, assinando um acordo com o Ministério que preserva uma série de bloqueios graves na nossa profissão e enredando-se em contradições escandalosas no que toca ao concurso de colocação de professores.

Por isso, vamos estar na Manifestação de 29 de Maio sem abdicarmos da nossa atitude crítica, onde se destaca a exigência de um plano de luta consequente para os professores, com uma auscultação rigorosa às bases e total independência de interesses políticos-partidários.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Registos do fim-de-semana

Medidas ainda mais duras

Escutas contradizem respostas de José Sócrates

Reformas debaixo de fogo
— Com a crise voltou a polémica da acumulação de pensões e das reformas antecipadas. O Estado não vai ter dinheiro para pagá-las e no PS aumentam as críticas —

Núcleo duro de Sócrates desafina
— Teixeira dos Santos, Vieira da Silva e Amado divergem enquanto PS se agita com a crise —

Governo cria imbróglio no IRS

Crise abala equipa de Teixeira dos Santos
— Ministério das Finanças anda agitado. Sérgio Vasques é desautorizado e Emanuel dos Santos meteu 'baixa' —
Sol (21/5/10)

Negócio TVI: PSD insiste no envolvimento de José Sócrates

Taxa adicional será aplicada ao IRS do ano todo

Jerónimo de Sousa: Moção do PCP não é para fazer cair o Governo

Portugal é o país da União Europeia onde a natalidade caiu mais na última década

Um quinto dos doentes com cancro é operado fora de tempo

Parlamento quer avaliação fora dos concursos de professores
Público (21/5/10)

Empréstimos para compra de casa disparam mesmo com spreads recorde

Quantos meses tem um semestre? Sete, se o governo for português

Rui Ramos: «Falta de credibilidade de Sócrates põe em causa bloco central»

Octávio Teixeira: «O mundo só pode ter mudado em três semanas para quem hibernou»
i (21/5/10)

Até 2013, Estado vai endividar-se em mais 44 200 000 000

Semana de caos no Governo. Francisco Assis defende que a partir de agora só Sócrates e Teixeira dos Santos é que devem falar

Alemanha teme Portugal
— Berlim impõe regras. O governo germânico está disposto a defender o euro, mas exige garantias —

Vamos pagar imenso até 2013... e depois ainda mais

Os 100 erros de Sócrates
— A estranha língua que o PM usou para falar em Espanha —
Expresso (22/5/10)

Subida do IRS: Novas taxas já em vigor, diz o Diário da República. É só em Junho, diz o Governo

Ministra [da Educação] desvaloriza recomendação sobre avaliação docente
i (22/5/10)

Finanças geram confusão sobre entrada em vigor de taxas do IRS

Professor punido por chamar "preto" a aluno

PSD salva Sócrates mas deixa ameaça no ar para 2011

Portugueses mais favoráveis do que os espanhóis à ideia de uma união ibérica.
Público (22/5/10)

Concluindo.
No Governo, toda a gente desmente toda a gente, os semestres passaram a ter sete meses e já nem o próprio Diário da República é de leitura confiável. No Parlamento, requerem-se escutas para depois se anular os efeitos da audição das mesmas. Às recomendações aprovadas no Parlamento, há uma ministra que diz que isso não interessa nada. Há um partido que apresenta uma Moção de Censura ao Governo, mas diz que não é para o derrubar. O primeiro-ministro vai a Espanha mostrar como se aprende a falar castelhano nas Novas Oportunidades. O Governo consegue que a Alemanha tenha medo de Portugal. E os espanhóis (que não são tolos) não estão interessados na união ibérica.

domingo, 23 de maio de 2010

Pensamentos de domingo

«Os bons prometem pouco e fazem muito; os maus prometem muito e fazem pouco.»
Textos Judaicos

«Um político é tanto maior quanto mais amiúde se contradiga.»
Friedrich Durrenmatt

«A força dos governos é inversamente proporcional ao peso dos impostos.»
Delphine Gay de Girardin

Orquestra de Jazz de Lagos

sábado, 22 de maio de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca de Nietzsche
«Nietzsche sentia uma certa estima pelos animais (de facto, os seus livros estão cheios de referências simbólicas aos animais), quase tanto como o desprezo que sentia pela maioria dos homens, em especial pelos seus contemporâneos. Sabemos que, uns dias antes de perder a razão, se abraçou, chorando, ao pescoço de um cavalo de tiro que estava a ser açoitado por um cocheiro impiedoso. Não é portanto de estranhar que, num dos seus aforismos, sentenciasse, contra a teoria de Darwin: "Os macacos são demasiado bons para que o homem possa descender deles."»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor.

A propósito de umas actas há 6 meses desaparecidas

Texto enviado pelo colega Paulo Ambrósio:

Citação de: http://www.fenprof.pt/?aba=27&mid=115&cat=100&doc=4755



(...) Entretanto, as actas mais importantes do processo negocial (30 de Dezembro, 7 de Janeiro, 20 de Janeiro e 10 de Fevereiro) estão já em fase de correcção, sendo divulgadas integralmente pela FENPROF, junto de todos os professores, logo que estejam assinadas. (...)



Haja deus! Apreciei, contudo, o pormenor línguo-estilístico do "estão (!] em fase de correcção". Raios, essa correcção/confecção está mais demorada que a da mão de vaca com grão!
Mas uma coisa é certa: começa a valer a pena a persistência do coro, cada vez mais heterogéneo e ruidoso, do Clube "Onde Páram as Actas?".
Queremos ver as actas. Não por qualquer curiosidade mórbida, mas por elementar direito e justiça democráticos. E não nos calaremos nem baixaremos os braços enquanto elas não "surgirem".
Atendendo aos quase 6 meses que já decorreram (!) desde a assinatura do Acordo, talvez devêssemos logo ter logo feito como aquela mediática aluna do "Quero o meu telemóvel já!". Sim, porque nós todos temos mais direito a utilizar com propriedade o imperativo "JÁ" que aqueles indolentes mestre-cuca, que alegadamente andam a confeccionar (vulgo encanar a perna à estropiada rã), digo, a confeccionar as benditas actas há quase meio ano.
Até porque, pelas referências escritas públicas que as duas partes já fizeram ao processo negocial extra-texto oficial do Acordo de Princípios, é linear e científico que uma delas está a faltar à verdade. E como me ensinaram em pequeno que "mentir é uma coisa muito feia", continuo a pensar (e a agir) deste modo. E a querer tirar toda esta interminável novela mexicana a limpo.
Paulo Ambrósio

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Fragmenti veneris diei

«No século XIX, em meados ou nos finais do século XIX, disse o tipo grisalho, a sociedade costumava coar a morte pelo filtro das palavras. Se uma pessoa ler as crónicas dessa época dir-se-ia que quase não havia delitos ou que um assassínio era capaz de comover todo um país. Não queríamos ter a morte em casa, nos nossos sonhos e fantasias, no entanto, é um facto que se cometiam crimes terríveis, esquartejamentos, violações de todo o tipo e até assassínios em série. Claro que a maioria dos assassinos em série nunca eram capturados, senão repare no caso mais famoso da época. Ninguém soube quem era Jack, o Estripador. Tudo passava pelo filtro das palavras, convenientemente adequado ao nosso medo. O que é que faz um menino quando tem medo? Fecha os olhos. O que é que faz um menino que vai ser violado e depois morto? Fecha os olhos. E também grita, mas primeiro fecha os olhos. As palavras serviam para esse fim. E é curioso, pois todos os arquétipos da loucura e da crueldade humanas não foram inventados pelos homens desta época, mas sim pelos nossos antepassados. Os gregos inventaram, por assim dizer, o mal, viram o mal que todos tínhamos dentro de nós, mas os testemunhos ou as provas desse mal já não nos comovem, parecem-nos fúteis, inintelegíveis. O mesmo se pode dizer da loucura. Foram os gregos que abriram esse leque e no entanto agora esse leque já nada nos diz. Você dirá: tudo muda. Claro, tudo muda, mas os arquétipos do crime não mudam, da mesma maneira que a nossa natureza também não muda. Uma explicação plausível é que a sociedade, naquela época, era pequena. Estou a falar do século XIX, do século XVIII, do XVII. Claro, era pequena. A maior parte dos seres humanos estava no exterior da sociedade. No século XVII, por exemplo, em cada viagem de um barco negreiro morria pelo menos uns vinte por cento da mercadoria, isto é, das pessoas de cor que eram transportadas para ser vendidas, por exemplo, na Virgínia. E isso não comovia ninguém nem saía em grandes títulos no jornal da Virgínia nem ninguém pedia que fosse enforcado o capitão do barco que os tinha transportado. Se, pelo contrário, um fazendeiro sofresse de uma crise de loucura e matasse o seu vizinho e depois voltasse a galopar para a sua casa onde assim que se apeava matava a sua mulher, no total duas mortes, a sociedade virginiana vivia atemorizada pelo menos durante seis meses, e a lenda do assassino a cavalo podia perdurar durante gerações inteiras. Os franceses, por exemplo. Durante a Comuna de 1871 morreram assassinadas milhares de pessoas e ninguém derramou uma lágrima por elas. Por volta dessa mesma data um amolador matou uma mulher e a sua mãe velhinha (não a mãe da mulher, mas sim a sua própria mãe, querido amigo) e depois foi abatido pela polícia. A notícia não só percorreu os jornais de França como também foi comentada noutros jornais da Europa e até apareceu uma nota no Examiner de Nova Iorque. Resposta: os mortos da Comuna não pertenciam à sociedade, as pessoas de cor mortas no barco não pertenciam à sociedade, enquanto que a mulher morta numa capital de província francesa e o assassino a cavalo da Virgínia sim, pertenciam, isto é, o que lhes acontecera a eles era escrevível, era legível. Mesmo assim, as palavras costumavam exercitar-se mais na arte de esconder do que na arte de desvendar. Ou talvez desvendassem alguma coisa. O quê? Confesso-lhe que não sei.»
Roberto Bolaño, 2666, pp. 310-311.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Portugal sem governo

«Portugal foi o último país a entrar na crise e foi o primeiro a sair dela. Portugal está em todos os índices económicos acima da média europeia.»
«Portugal teve de antecipar algumas medidas do PEC.»

«Garantidamente, os impostos não vão subir.»
«Tivemos de aumentar os impostos.»

«As grandes obras públicas vão avançar porque elas são vitais para o País. Seria uma irresponsabilidade não o fazer.»
«Vamos repensar as obras públicas que ainda não foram adjudicadas.»

«O TGV Lisboa-Madrid é uma obra imprescindível, por isso vai ser realizada.»
«Só vamos adjudicar a obra do TGV entre Poceirão e Caia.»

«A terceira travessia do Tejo não vai avançar.»
«A terceira travessia do Tejo avança daqui a 6 meses.»
«A terceira travessia do Tejo não se sabe se vai avançar daqui a 6 meses. Depende.»

«O aumento dos impostos vai durar até final de 2011.»
«O aumento dos impostos vai durar até quando for preciso.»

«Os impostos aumentam a partir do início do 2.º semestre deste ano.»
«O aumento do IRS tem efeito retroactivo a 1 de Janeiro.»
«Os impostos aumentam a partir do dia 1 de Junho.»

Todas estas afirmações foram proferidas, no espaço de um mês, por vários membros do Governo, entre eles: pelo primeiro-ministro, pelo ministro das Finanças, pelo ministro dos Transportes e Obras Públicas, pelo ministro do Assuntos Parlamentares e pelo secretário de Estado das Finanças.
Algumas destas afirmações contrárias foram proferidas no período de 24 horas.
Várias destas afirmações contrárias foram proferidas pela mesma pessoa.
Portugal está à deriva. Portugal está a ser governado por um grupo de aventureiros e de irresponsáveis.

Quando, há vários anos, a irresponsabilidade e o aventureirismo se começaram a manifestar no domínio da Educação, os analistas políticos da nossa praça diziam que se estava a realizar uma fantástica reforma no Ensino, que finalmente os professores iriam entrar nos eixos, que a Escola Pública iria passar a ser um exemplo, e por aí fora..., e muito povo aplaudia e considerava que as críticas e as manifestações dos professores eram reacções corporativas de quem estava a perder privilégios e mordomias.
Quando a irresponsabilidade e o aventureirismo alastraram à Saúde, à Justiça e às Obras Públicas, os analistas políticos da nossa praça continuavam a dizer que se tratava de reformas corajosas e necessárias, e muito povo aplaudia e achava que as críticas e as manifestações de protesto eram reacções corporativas de quem estava a perder privilégios e mordomias.
Agora que a irresponsabilidade e o aventureirismo chegaram à Economia e às Finanças, isto é, agora, que a irresponsabilidade e o aventureirismo atingem toda a gente, eis que as vozes aduladoras deste Governo repentinamente se calaram e eis que já se ouve e vê muito povo a reclamar. O mesmo primeiro-ministro que era apelidado de corajoso, de decidido, de justiceiro, passou a ser o desorientado, o mentiroso, o incompetente.
O problema é que o aventureirismo e a irresponsabilidade que há vários anos governam a Educação em Portugal é o mesmo aventureirismo e a mesma irresponsabilidade que governam a Saúde, a Justiça, as Obras Públicas, a Economia e as Finanças.
Porque Portugal tem sido conduzido por um grupo de políticos irresponsáveis e aventureiros é que chegamos ao ponto a que chegamos.
Na realidade, Portugal está sem governo há já vários anos.

Quinta da Clássica - Jacques Ibert

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Às quartas

A Vida Anterior

Vivi por muito tempo em pórticos faustosos
Pelos marinhos sóis de fogos mil queimados,
Que à noite eram quais grutas de basalto, alteados
Os seus grandes pilares, direitos, majestosos.

As ondas, ao rolar os céus nelas gravados,
Fundiam, em transportes místicos, sumptuosos,
Da música que é sua acordes portentosos
Aos tons do sol-poente em meu olhar espelhados.

Aí foi que eu vivia de volúpias calmas,
Em meio dos azuis, das vagas, de esplendores,
E dos escravos nus e rescendendo odores,

Que a fronte me abanavam agitando palmas
E cujo só cuidado era quem descobria
O segredo angustioso que me enlanguescia.

Charles Baudelaire
(Trad.: Jorge de Sena)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Certificados de aforro

«O que devia ser feito era o congelamento do 13.º e do 14.º mês e o pagamento feito em certificados de aforro», afirmou Mira Amaral ao Diário Económico.
Continua a ser curiosa a facilidade com que se põe e dispõe do dinheiro dos outros, porque, quando se trata do dinheiro do próprio, os critério mudam radicalmente. É conveniente recordar que Mira Amaral foi administrador da CGD, cargo de que se demitiu, em 2004, ao fim de um curtíssimo exercício. Dessa demissão e desse curtíssimo exercício resultou uma pensão mensal de 18 mil euros, paga pelo banco do Estado. Mira Amaral não considerou a situação obscena, nem se lembrou de sugerir receber essa pensão em certificados de aforro, como agora sugere que se faça com o subsídio de férias e o subsídio de Natal dos outros.
A nossa elite política e económica acumula a mediocridade com a falta de pudor.
Mira Amaral é, actualmente, presidente do banco BIC.

Terças da MP - Sérgio Godinho (e Chico Buarque)

Bonecos de palavra

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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Registos do fim-de-semana

Banca Rota
— Banca portuguesa viveu no início desta semana momentos aflitivos sem dinheiro para o crédito —

Costa falta a reunião do PS em protesto contra adiamento da 3.ª ponte

PS exige explicações ao líder

Cortes revoltam Segurança Social

Nova alteração às férias judiciais
— PSD e PCP propõem voltar ao regime antigo, com paragem entre 15 de Julho e 31 de Agosto —

CTT tem novo inquérito no MP

Saúde sem controlo nas despesas hospitalares

Militares irritados com Santos Silva
Sol (14/5/10)

Cortes vão afectar mais os bolsos dos portugueses do que o previsto
Público (14/5/10)

Corte no défice custa três vezes mais às famílias do que às empresas
— Salários vão ajudar mais que os lucros no combate ao défice; Nos bens essenciais a carga fiscal aumenta 20% com subida do IVA —

Jardim acusado de impedir concorrência na imprensa regional

CDS: "Há condenados a receber rendimento mínimo"
i (14/5/10)

Educação e saúde são as mais atingidas pelo congelamento de admissões no Estado

Contradições obrigam Bava a voltar à AR
Público (15/5/10)

Economistas alertam para recessão iminente

Sala de fumo do Parlamento pode custar 380 mil euros

Seguro está disponível para liderar

Um aperto de cinto histórico em Portugal

Detalhe de uma escuta pode comprometer José Sócrates
Expresso (15/5/10)

Como Portugal perdeu trinta anos entre duas graves crises onde os argumentos se repetem

Seguro desafiado a avançar para a liderança do PS já no próximo congresso do partido

Direcção de Passos responde a críticas de João Jardim

Sargentos da GNR não almoçaram dois dias em protesto
Público (16/5/10)

domingo, 16 de maio de 2010

Pensamentos de domingo

«É melhor merecer as honras sem recebê-las do que recebê-las sem merecê-las.»
Mark Twain

«O verdadeiro mérito é como os rios: quanto mais profundo, menos ruído faz.»
George Halifax

«Aqueles que merecem um monumento não precisam dele.»
William Hazlitt

In Paulo Neves da Silva, Dicionário de Citações.

Philly Joe Jones

sábado, 15 de maio de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca de Sören Kierkegaard

«Sören Kierkegaard, que foi considerado o precursor do existencialismo pela sua reivindicação do carácter irredutível da existência individual, interessou-se também pela análise do humor e da ironia. Kierkegaard encontrava no humor uma certa simpatia pela fragilidade, a dor e o absurdo presentes na existência humana. Esse absurdo que nos acompanhará até ao último momento.
No seu Diapsalmata, escreveu: "Aconteceu certa vez num teatro que houve fogo nos bastidores. O palhaço correu a avisar o púbico da ocorrência. Pensaram que se tratava de uma graça e aplaudiram; ele repetiu e eles riram-se ainda mais. De igual modo, penso que o mundo acabará com uma gargalhada geral dos simpáticos espectadores, acreditando que se trata de uma graça."»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Fragmenti veneris diei

«Enquanto passavam esta reportagem na televisão, Fate sonhou com um tipo sobre o qual escrevera uma crónica, a primeira crónica que publicou no Amanhecer Negro, depois de a revista lhe ter rejeitado três trabalhos. O tipo era um preto velho, muito mais velho do que Seaman, que vivia em Brooklyn e era membro do Partido Comunista dos Estados Unidos da América. Quando o conheceu já não havia um único comunista em Brooklyn, mas o tipo continuava a manter a sua célula operacional. Como é que ele se chamava? Antonio Ulises Jones, embora os rapazes do seu bairro o tratassem por Scottsboro Boy. Também lhe chamavam Velho Louco ou Saco de Ossos ou Pelinhas, mas regra geral chamavam-lhe Scottsboro Boy, entre outras razões porque o velho Antonio Jones falava frequentemente dos acontecimentos de Scottsboro, dos julgamentos de Scottsboro, dos negros que estiveram quase a ser linchados em Scottsboro e dos quais, no seu bairro de Brooklyn, ninguém se lembrava.
Quando Fate, por mero acaso, o conheceu, Antonio Jones devia ter uns oitenta anos e vivia num apartamento de duas divisões numa das zonas mais depauperadas de Brooklyn. Na sala havia uma mesa e mais de quinze cadeiras, dessas velhas cadeiras de bar dobráveis, de madeira e pernas longas e encosto curto. Na parede estava pendurada a fotografia de um tipo muito grande, com uns dois metros pelo menos, vestido como um operário da época, no momento de receber um diploma escolar das mãos de um menino que olhava directamente para a câmara e sorria mostrando uma dentadura branquíssima e perfeita. O rosto do operário gigantesco, à sua maneira, também parecia o de um menino.
— Aquele sou eu — disse Antonio Jones a Fate na primeira vez que este foi a sua casa —, e o grandalhão é Robert Martillo Smith, operário de manutenção do município de Brooklyn, especialista em meter-se dentro dos esgotos e lutar com crocodilos de dez metros.
Durante as três conversas que mantiveram, Fate fez-lhe muitas perguntas, algumas destinadas a remexer na consciência do velho. Perguntou-lhe por Estaline e Antonio Jones respondeu-lhe que Estaline era um filho da puta. Perguntou-lhe por Lenine e Antonio Jones respondeu-lhe que Lenine era um filho da puta. Perguntou-lhe por Marx e Antonio Jones respondeu-lhe que era por ali, precisamente, que ele devia ter começado: Marx era um tipo magnífico. A partir daquele momento, Antonio Jones pôs-se a falar de Marx nos melhores termos. Só havia uma coisa de Marx que não lhe agradava: a sua irritabilidade. Atribuía isso à pobreza, pois para Jones a pobreza não só gerava doenças e rancores e também irrritabilidade. A pergunta seguinte de Fate foi a sua opinião acerca da queda do Muro de Berlim e o consequente desmoronamento dos regimes do socialismo real. Era previsível, já vaticinei isso dez anos antes de acontecer, foi a resposta de Antonio Jones. Depois, sem que viesse a propósito, pôs-se a cantar "A Internacional".»
Roberto Bolaño, 2666, pp. 302-303.

13 de Maio

A fronteira entre o sonho e a realidade, ou entre o real e o imaginário, não é sempre fácil de determinar. Por vezes consegue-se fazer a destrinça, outras vezes não se consegue. Todavia, no que diz respeito à nossa vida política, essa fronteira nunca se encontra, ficamos sempre na dúvida se aquilo que estamos a ver e/ou a ouvir é real ou se é sonhado ou se é imaginado. A dúvida ganha maior força quando os acontecimentos ocorrem uns a seguir aos outros, de modo ininterrupto, todos no mesmo dia, todos a 13 de Maio.
Papa em Fátima, Passos Coelho em S. Bento, Papa a rezar em Fátima, Sócrates em Conselho de Ministros, Papa a rezar em Fátima, Sócrates em conferência de imprensa a anunciar que hoje é verdade o que há duas semanas era mentira, Papa a rezar em Fátima, Passos Coelho em conferência de imprensa a pedir desculpa, Papa em Fátima, Teixeira dos Santos na televisão a pedir compreensão, Papa em Fátima, Francisco Assis em conferência de imprensa a não pedir desculpa, Papa a dormir em Fátima.
São muitos acontecimentos no mesmo dia — ainda mais, num dia, já por si, repleto de mistério. Assim, a dúvida acerca da veracidade de todos estes acontecimentos é legítima. Eu, por exemplo, ainda estou na dúvida se Passos Coelho esteve em S. Bento e se depois veio pedir desculpa por ter estado em S. Bento, ou se apenas veio pedir desculpa por Sócrates ter governado mal e por agora ter de aumentar os impostos. É uma dúvida que ainda não esclareci. E, como o outro, radicalizo a dúvida: Passos Coelho terá mesmo pedido desculpa? E Teixeira dos Santos e Francisco Assis não pediram desculpa? Teixeira e Assis tiveram mesmo o topete de não pedir desculpa? Mas não pediram desculpa porquê? Ou foi Passos Coelho que pediu compreensão e Teixeira dos Santos e Assis é que pediram desculpa? E o Papa rezou? Ou foi ele que pediu desculpa e compreensão enquanto os outros rezavam? E Sócrates não devia rezar? Não era ele que devia estar em Fátima? Não era ele que deveria ter ido a Fátima, a pé, ou melhor, de joelhos?
Eu, que sou ateu, começo a ter dúvidas se 13 de Maio não está destinado a ser, em Portugal, um dia de milagres...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O PIB cresceu e o revanchismo também

A propósito do divulgado crescimento do PIB, no primeiro trimestre deste ano, Sócrates afirmou, no tom que lhe é habitual:
«Uma boa notícia de Portugal, afinal de contas, ter sido o campeão do crescimento no primeiro trimestre. Surpresa para muitos sobre o que têm dito sobre a economia portuguesa, alguns deles nitidamente a necessitar de mudar de manuais ou fazerem a revisão da matéria dada
Invariavelmente, Sócrates revela ser um político medíocre, sem estatura de estadista para exercer o cargo que ocupa. Invariavelmente, tem uma linguagem arruaceira, arrogante e revanchista, que pode ser própria de um membro de uma claque de futebol, mas não é, certamente, própria de um primeiro-ministro. É este género de discurso, que Sócrates monótona e repetidamente utiliza, que faz baixar irreversivelmente o nível do debate político, que o faz resvalar para um linguajar infantilizado, característico de meninos birrentos e mal-educados.
Em lugar de manifestar satisfação pelos resultados económicos agora divulgados, mas uma satisfação sóbria — até porque são resultados que, infelizmente, pouco ou nada asseguram quanto ao futuro —, Sócrates opta por ser fanfarrão e quezilento. Em lugar de ter alguma prudência e até humildade — se, por exemplo, tivesse presente as suas políticas desastrosas no ano anterior e as ameaças que até sexta-feira transacta o nosso país sofreu —, Sócrates revela leviandade e arrogância. Leviandade, porque canta vitória, quando a batalha pela recuperação económica e financeira ainda nem começou, e, arrogância, porque denota que aquilo que verdadeiramente lhe interessa não é que o País melhore, o que verdadeiramente o motiva e satisfaz é tentar denegrir, ainda que ingloriamente, os adversários políticos.
Nos momentos em que é pressionado pela voracidade dos mercados estrangeiros e é confrontado com a sua irresponsabilidade e aventureirismo, Sócrates enche o discurso com apelos à unidade nacional. Todavia, esses apelos valem o que a hipocrisia vale, na primeira oportunidade, por mais incipiente que ela seja (como agora foi a divulgação dos resultados económicos do primeiro trimestre do ano), Sócrates esquece a unidade e deleita-se no acinte.
Lamentavelmente, temos um primeiro-ministro desacreditado e sem autoridade, um primeiro-ministro que apenas acrescenta problemas aos problemas.

Às quartas

Encontro numa festa em Londres

Durante um minuto permanecemos desconcertadamente juntos.
Perguntas a ti mesmo em que língua hás-de falar-me,
ofereces, antes, uma cebola avinagrada num palito.
És jovem e talvez esqueças
de que o Império vive
apenas nos sons puros das vogais que te ofereço

acima do ruído.

Eunice de Souza
(Trad.: Cecília Rego Pinheiro)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Registos do fim-de-semana

PGR fecha a sete chaves despachos sobre Sócrates

Obras públicas abalam Governo

PS deixa Alegre 'pendurado'

Nobre com militares de Abril

[Ricardo Rodrigues] 'é um homem leal, rigoroso e de princípios', diz Francisco Assis

Serviços públicos desafiam feriado
Sol (7/5/10)

Constâncio admite adiar grandes obras públicas

Signatários de manifestos alteraram a sua posição: Opinião mudou entre os que defendiam as obras públicas

Ministério da Educação não aceita decisão judicial de suspender efeitos da avaliação
Público (7/5/10)

Comissão não pediu registos de entradas em São Bento

PGR já nem arrisca data para fim da Operação Furacão

Ministra da Educação recua na avaliação

Portugal e Espanha podem ser os próximos palcos de agitação

«Os líderes sindicais de cá não mobilizam os jovens» ( Marinús Pires de Lima)

BE salva seis parcerias público-privadas
— Bloco vota com PS em nome do investimento e do emprego —
Expresso (8/5/10)

Sócrates admite adiar aeroporto de Alcochete e terceira ponte do Tejo

SPM critica provas de aferição, ministra gaba quem as fez

Bancada do PS não dá tolerância de ponto aos funcionários

Bloco recusa consultar escutas da Face Oculta
Público (8/5/10)

José Penedos informava o filho, diz a Relação

Rui Pedro Soares quer que testemunho de Penedos no caso Taguspark seja anulado

Movimento para a criação de um partido regionalista a norte começa a ganhar forma

O PSD quer ser um partido atrevido
Público (9/5/10)

domingo, 9 de maio de 2010

Rabih Abou-Khalil e Ricardo Ribeiro

Pensamentos de domingo

«O mais grave no nosso tempo não é não termos respostas para o que perguntamos — é não termos já perguntas.»
Virgílio Ferreira

«Sinto que progrido na medida em que começo a não entender nada de nada.»
Charles Ramuz

«O cãozinho rafeiro suspeita de que toda a gente conspira para lhe roubar o lugar.»
Rabindranath Tagore
In Paulo Neves da Silva, Dicionário de Citações.

sábado, 8 de maio de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico


A propósito de Rousseau

«Rousseau imaginou o homem natural com os traços do bom selvagem, do homem primitivo que havia já sido idealizado por alguns viajantes e ensaístas a partir do século XVI. Baseando-se nesse modelo, o homem natural que Rousseau imagina é um ser livre e sem o desejo de prejudicar o seu próximo; um ser que procura satisfazer as suas necessidades naturais, mas não essas falsas necessidades criadas pela sociedade; um ser sem qualquer egoísmo ou obsessão pelo lucro. Além disso, nesse estado natural não teria existido propriedade privada e, por isso, não haveria nem ricos nem pobres.
Rousseau pensava que a história humana não é um processo progressivo, mas degenerativo ("Tudo sai bem das mãos do criador, tudo degenera nas dos homens", escreveu no seu livro Emílio). Esta era uma das muitas coisas que separavam Rousseau dos outros filósofos do Iluminismo (que assumiam uma visão progressista da história) e que provocou as piadas de Voltaire quando, depois de ler um livro de Rousseau, escreveu: "Até nos dá vontade de andar a quatro patas."»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

ME retira avaliação do concurso

A ministra da Educação foi ontem condenada por desobediência ao Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja. O Ministério da Educação anunciou hoje que retirou a avaliação do concurso para professores contratados.
A incompetência política e técnica do Ministério da Educação continua intacta, ainda que, desta vez e finalmente, tenha sido penalizada. Já não era sem tempo.

Fragmenti veneris diei

«Disse que conhecíamos muitos tipos de estrelas ou que julgávamos conhecer muitos tipos de estrelas. Falou das estrelas que se vêem à noite, como por exemplo, quando vamos de Des Moins a Lincoln, pela estrada 80 e o carro se avaria, nada de grave, o óleo ou o radiador, talvez um pneu furado, e saímos, tiramos o macaco e a roda sobresselente do porta-bagagem e mudamos a roda, no pior dos casos meia hora, e quando acabamos olhamos para cima e vemos o céu coberto de estrelas. A Via Láctea. Falou das estrelas do desporto. Essas são outro tipo de estrelas, disse ele e comparou-as com as estrelas de cinema, embora tenha feito notar que a vida de uma estrela do desporto costumava ser bastante mais curta do que a vida de uma estrela de cinema. A de uma estrela do desporto, no melhor dos casos, costumava durar quinze anos, enquanto a vida de uma estrela de cinema, também no melhor dos casos, podia durar quarenta ou cinquenta anos se tivesse começado a carreira ainda jovem. Pelo contrário, a vida de qualquer das estrelas que uma pessoa podia contemplar na berma da estrada 80, enquanto viajava de Des Moins a Lincoln, costumava durar milhões de anos ou então, no momento de a contemplar, podia já ter morrido há milhões de anos e o viajante que a contemplava nem sequer suspeitava. Podia tratar-se de uma estrela viva ou podia tratar-se de uma estrela morta. Por vezes, consoante a forma como a víssemos, disse ele, essa questão tinha pouca importância, pois as estrelas que vemos de noite vivem no reino da aparência. São aparência, da mesma maneira que os sonhos são aparência. De tal maneira que o viajante da estrada 80 a quem um pneu acabou de rebentar não sabe se o que contempla na imensa noite são estrelas ou se, pelo contrário, são sonhos. De alguma forma, disse ele, esse viajante parado também é parte de um sonho, um sonho que se desprende de outro sonho assim como uma gota de água se desprende de uma gota de água maior a que chamamos onda. Uma vez chegado a este ponto, Seaman advertiu que uma coisa é uma estrela e outra coisa é um meteorito. Um meteorito nada tem a ver com uma estrela, disse ele. Um meteorito, sobretudo se a sua trajectória o levar a colidir directamente com a Terra, não tem nada a ver com uma estrela nem com um sonho, mas sim, talvez, com a ideia de desprendimento, uma espécie de desprendimento ao contrário. Depois falou das estrelas do mar [...]»
Roberto Bolaño, 2666, pp. 294-295.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Quinta da Clássica - Albert Roussel

Não vá o diabo tecê-las...

É curioso o modo como alguma comunicação social classifica o acto do deputado do PS, Ricardo Rodrigues, de meter no bolso os gravadores dos jornalistas da revista Sábado. Desde «tomou posse dos gravadores» até «apropriou-se dos gravadores» os eufemismos são múltiplos. Se não tivesse sido um deputado o agente da acção, se tivesse sido um anónimo cidadão (um popular, uma designação que alguns preferem), o modo de a descrever provavelmente teria sido mais ou menos este: «fulano de tal roubou os gravadores aos jornalistas».
Mas a realidade é o que é: aos olhos de alguma comunicação social, um deputado, em particular se for do partido do Governo, nunca rouba, apenas «toma posse», apenas «se apropria», apenas «leva consigo», apenas «fez desaparecer».
Não vá o diabo tecê-las e o senhor deputado ainda virar ministro ou secretário de Estado...

Um comportamento padrão


Quem sai retratado neste vídeo não é apenas o deputado do PS, Ricardo Rodrigues, neste vídeo está retratado o comportamento padrão personificado, desde há cinco anos, pelas principais figuras do poder socialista, em particular: José Sócrates, Lurdes Rodrigues, Santos Silva, Pedro Silva Pereira, Manuel Pinho, José Lello, Valter Lemos, Jorge Pedreira, entre outros.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Às quartas

Veneza

Na ponte eu estava
Ao moreno anoitecer.
Distante veio um canto:
Douradas gotas corriam
Pela tremente planura.
Gôndolas, luzes, música —
Ébrias vogavam para o crepúsculo...

A minh'alma, uma lira,
Cantava-se, invisivelmente vibrada,
Oculta canção de gondoleiro,
Tremente de irisada beatitude —
Mas alguém ouvia?

Friedrich Nietzsche
(Trad.: Jorge de Sena)

O simulacro da avaliação

A actual ministra da Educação está próxima de se igualar à sua antecessora.
Afirmou, na Comissão Parlamentar da Educação, Ciência e Cultura, a propósito da contagem da avaliação no concurso dos professores contratados, que «Seria manifestamente injusto que os Excelente e Muito Bom neste momento vissem não ser considerada a avaliação do seu desempenho», e acrescentou: «A avaliação não é um simulacro que não serve para nada.»
Não há mais que duas possibilidades interpretativas: ou a ministra não faz a mínima ideia do que está a afirmar ou pretende igualar a sua antecessora na irresponsabilidade, no aventureirismo e na hipocrisia política.
A ministra da Educação sabe, ou tinha a obrigação de saber, que a avaliação realizada foi rigorosamente um simulacro. Foi um simulacro que deveria envergonhar quem o criou, quem o defendeu e quem o executou.
A ministra da Educação sabe, ou tinha a obrigação de saber, que uma avaliação só não é um simulacro se o método avaliativo for adequado e credível e se quem avalia estiver capacitado para o fazer. Ora, a ministra da Educação sabe, ou tinha a obrigação de saber, que nem uma coisa nem outra aconteceram.
Recorde-se apenas o que se passou, e ainda hoje continua a passar-se, com quem avalia, isto é, com os avaliadores que fizeram/fazem a avaliação da componente científico-pedagógica, através da observação de duas aulas. Sobre esta situação, a ministra da Educação sabe, ou tinha a a obrigação de saber, que:

1. As competências avaliativas, assim como outras, não são apenas matéria do domínio da forma, são, antes de mais, matéria do domínio da substância. Não é condição suficiente a lei determinar que alguém tem competência para realizar uma determinada função para que esse alguém passe a ter, substantivamente, essa competência. Neste domínio, como em vários outros, aquilo que é determinado pela lei constitui uma condição necessária, mas não constitui, de modo algum, uma condição suficiente;

2. Todos temos o direito a uma avaliação «justa, séria e credível», como é referido no preâmbulo do Decreto Regulamentar n.º 1-A/2009, de 5 de Janeiro. Todavia, para que esse direito se possa concretizar, é necessário que estejam reunidas as condições objectivas que possibilitem a realização efectiva de uma avaliação justa, séria e credível. Nomeadamente:
a) que os professores avaliadores tenham tido uma formação que os capacite para essa função. É sabido que avaliar alunos não é o mesmo que avaliar professores, nem isso confere competência para tal. Toda a literatura científica, nacional e estrangeira, sobre a matéria o confirma e o próprio Conselho Científico para a Avaliação de Professores também já o fez, quando explicitou que os professores avaliadores devem ser objecto de «uma formação especializada de carácter científico, técnico e profissional certificado, de média ou longa duração, realizada em parceria com instituições de ensino superior» (Recomendações N.º 5/CCAP/2009);
b) que o professor avaliador considere possível e se sinta capacitado para realizar uma avaliação justa, séria e credível, através da observação de duas (ou três) aulas, num reduzido espaço de tempo (um mês, como está a acontecer neste momento) e que será tida como avaliação de um ano lectivo.
Estas são as condições substantivas que permitem cumprir o dever de avaliar e satisfazer o direito de ser avaliado, com justiça, seriedade e credibilidade. Não são as condições formais (ser professor titular - a divisão da carreira ainda está plenamente em vigor!!) que, só por si, capacitam para avaliar com justiça, seriedade e credibilidade;

3. O Ministério da Educação ainda não implementou essa formação especializada para professores avaliadores. Não ministrou qualquer formação especializada no domínio da avaliação de professores nem mostrou como é possível proceder a uma avaliação justa, séria e credível observando apenas duas (ou três) aulas, num reduzido espaço de tempo;

4. Se isto se refere e aplica, em geral, à avaliação dos professores, com muito maior relevância se refere e aplica a uma avaliação que visa, predominantemente, apurar níveis de excelência na prática docente, como é o caso da avaliação que visa a atribuição de Muito Bom e de Excelente.

Isto, só por si, sem ser necessário analisar a metodologia, revela de modo evidente que a avaliação realizada e a que neste momento se está a realizar é um simulacro. Não passa objectivamente de um simulacro.
Isabel Alçada está a mostrar ser uma digna sucessora de Lurdes Rodrigues, ao contrário do que muitos tentaram fazer crer.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Terças da MP - José Afonso

Petição: primeiro objectivo já foi atingido

Pela redução do número máximo de alunos e alunas por turma e por professor/a

A uma média superior a mil assinaturas por dia, a petição pela redução do número de alunos por turma promovida pelo Movimento Escola Pública já alcançou o primeiro objectivo: ultrapassar o número necessário (4 mil) para que venha a ser discutida na Assembleia da República. A este ritmo, contamos poder apresentar muitos mais milhares de assinaturas, o que dará a esta causa um apoio público formidável. Com toda esta força, acreditamos que é possível vencer.

Porquê esta petição?

Portugal apresenta níveis elevados de insucesso escolar e para isso contribuem muitos factores, alguns dos quais alheios à própria escola. Os níveis culturais da população portuguesa são no geral baixos, a massificação da escola não foi acompanhada de todos os instrumentos necessários à garantia da sua qualidade, a diversidade de públicos escolares resiste a receitas padronizadoras. É também inegável que faltam meios às escolas para enfrentar o insucesso, seja devido à ausências de equipas multiprofissionais, à falta de apoio social aos alunos mais desfavorecidos, ou às condições precárias em que o trabalho de alunos e professores se desenvolve. Isto sem esquecer as questões relativas à dimensão e conteúdos do próprio currículo.

Se combater este atraso exige medidas concretas a vários níveis, seria obviamente absurdo ignorar todas as causas que se prendem com o contexto de sala de aula, que é onde a relação de ensino-aprendizagem começa por ser testada na definição do sucesso de cada aluno/a. Uma relação pedagógica interessada, consequente, viva e profícua tem naturalmente melhores condições para se desenvolver em turmas de dimensões mais reduzidas. Aproxima o professor dos alunos e os alunos entre si e ajuda e diluir o anonimato. Facilita a participação de todos/as e o acompanhamento directo e contínuo de cada aluno/a, bem como o estabelecimento de relações de confiança, responsabilidade e empenho, necessárias ao sucesso escolar e pessoal.

É principalmente nas zonas periféricas dos grandes centros urbanos que as turmas atingem perto de 30 alunos, enfraquecendo a relação pedagógica, e abrindo caminho à naturalização do insucesso e à sensação de impotência profissional. Para agravar a situação, são muitos os professores que têm a seu cargo mais de 150 alunos, tornando muito difícil o acompanhamento, a dedicação e o investimento desejáveis.

Assim, é urgente que esta Petição, que conseguiu juntar tantas vontades muitas vezes desavindas, faça o seu caminho com muita força

Subscreva aqui
http://www.peticaopublica.com/?pi=aluturma

Bonecos de palavra

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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Registos do fim-de-semana

«Corrupção já é legal em Portugal» (Sá Fernandes, a propósito da absolvição de Domingos Névoa)

Pagamento a Inês de Medeiros pode voltar para trás

Jardim muda Chão da Lagoa
— Passos não será convidado nem haverá ataques a Sócrates e ao Governo da República —

Alegre lança candidatura nos Açores em concertação com Sócrates
Sol (30/4/10)

Corte do Governo em obras públicas só sacrifica investimento em meia auto-estrada

Mais de metade dos hospitais não cobre obesidade

Tribunal da Relação arquiva queixa de Sócrates contra colunista do DN
Público (30/4/10)

Parlamento ainda pode parar TGV

Lurdes Rodrigues aprende inglês

Secretariado PS é contra Alegre mas vai apoiá-lo

Oposição já tem conclusão: 'Magalhães' fugiu às regras
Expresso (1/5/10)

Parque Escolar entrega projectos a colegas de administradora

Crédito à habitação vai começar a aumentar

Obras públicas: Cavaco pede reavaliação, mas Sócrates resiste

Sócrates desconhece impacto orçamental da redução do subsídio de desemprego

Desemprego não pára de subir e chega aos 10,5 por cento

Granadeiro não esclarece quem indicou Rui Pedro Soares para a Comissão Executiva da PT

Direcção da Universidade Independente será julgada por associação criminosa

Visita do Papa a Portugal fecha escolas de todo o país no dia 13 de Maio
Público (1/5/10)

Cavaco ao lado de Teixeira dos Santos contra as grandes obras

«Se Sócrates ficar na história de Portugal terá de ser pelas más razões» (Rui Ramos)
i (1/5/10)

Gestores das 20 maiores empresas da bolsa ganharam 22,6 milhões (em 2009)

«Perante a catástrofe, [pode-se] arranjar "nervos de aço" e prosseguir na asneira como o nosso inefável Sócrates [...]» (Vasco Pulido Valente)
Público (2/5/10)