quarta-feira, 26 de maio de 2010

Às quartas

A Contra-senha

Cheguei do fundo da pedra:

precocemente do centro da rosa:
toquei as mãos e a artéria.
Ando ainda com a pele dos mármores

sombrios do deserto inocente. Oponho-me,
oponho-me ao relâmpago da água

e do mandato: ordeno, troco,
louvo a penugem como espada de enxofre
ou perfeição. Ordeno
ainda os horizontes.
Minha voz não é débil
nem o nascimento se cheguei e pus sobre uma pedra
o coração como destino

e como canto a palavra amor e sem resposta, espero.

E como uma chuva de martelos,

de homem demasiado homem, de pancadas demasiado pancadas,

ou de paixão sem limites lancei minha funda ao vento:

quero mais terra, mais terra e repartir unhas e chicotes

e repartir palavra e boca: Como um último respirar do homem
que viveu sem história na pegada e criou.

Criou a magnitude do homem lá do fundo da matéria única,
uma nova matéria, forças a rasgar o último recanto do vento
e a ordenar o eco
da última terra ou gratidão

que reste em minhas sandálias.

Caminhei até aqui,
cheguei precocemente do fundo da pedra

com a boca doce ou a palavra dividida. Ordeno

ainda os horizontes.


Luis Cartañá

(Trad.: José Bento)