domingo, 27 de setembro de 2015

Vídeo: uma reacção possível a promessas eleitorais

O que poderia ser uma reacção a promessas eleitorais dos partidos que há quarenta anos nos governam:



sábado, 26 de setembro de 2015

PS e PSD estão “a matar a democracia em Portugal"


"Há zonas do país onde há secções, quer do PS, quer do PSD, em que os dirigentes tornam as suas estruturas totalmente inexpugnáveis para quem quiser disputar o poder. São pequenas ditaduras que existem a nível de freguesias, de concelhos, por vezes das distritais dos partidos. Os dirigentes não são escolhidos pelos militantes, os dirigentes escolhem os militantes que vão votar neles de certeza. Têm um saco de votos que lhes garante a vitória. É uma lógica de comércio e que está muito ligada à lógica dos empregos. As pessoas que têm os empregos reúnem os votantes: arranjam amigos, a família, são responsáveis por levá-los a votar e o seu desempenho perante o dirigente será premiado ou não. Um líder distrital de um partido, por exemplo, vai agarrar na sua pirâmide de poder e quando o partido chega ao poder vai tentar colocar as pessoas que lhe são próximas nos centros regionais de segurança social, nas direções regionais de educação ou saúde, nas administrações dos hospitais... Quando falamos de boys, isso não é isolado, não é só dar emprego às pessoas do partido. Tem muito mais a ver com um jogo de recompensas: dar um cargo ao que o apoiou e marginalizar aquele que esteve a desafiar a liderança. Daí a oligarquia e a pequena ditadura se cristalizarem e o poder se tornar inexpugnável para quem quiser tentar ganhar eleições. E isso mata a democracia em Portugal, porque não há democracia interna nos partidos."

Para continuar a ler, clicar aqui.

Sugestão de António Ferreira

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Alemanha: rigor, seriedade e superioridade morais?

A arrogância típica da cultura alemã dominante considera o povo alemão como o melhor do mundo em tudo ou quase tudo o que faz. Do futebol aos automóveis, das artes às ciências, a cultura alemã dominante pavoneia-se com auto-elogios desmesurados. A esta petulância, a cultura alemã dominante adiciona uma insuportável altivez ético-moral que a faz considerar-se legítima juíza das outras culturas. Apesar da ausência de qualquer fundamente que a justifique, essa altivez existe. Todavia, se a memória não fosse curta, bastaria que essa cultura alemã revisitasse o seu próprio passado recente para encontrar motivos de sobra que a deveriam fazer sentir uma absoluta inibição na elaboração de juízos sobre a valia das culturas e dos comportamentos de outros povos.
Mas essa inibição não existe; pelo contrário, a cultura que predomina na Alemanha leva a que este Estado se considere no direito (e até no dever) de mandar na Europa (e, a seguir, irá pretender mandar no mundo, como já pretendeu antes). Quer mandar politicamente, quer mandar economicamente e quer mandar moralmente. Sem pudor, assume-se como o paradigma do rigor e da seriedade e como a referência que todos deveriam mimetizar. Sem escrúpulos, dita ordens, impõe condições, exige obediência, tudo sustentado numa presumida superioridade (para já, sustentado apenas numa presumida superioridade cultural, económica e moral, mas nada garante que não resvale novamente para uma presumida superioridade de natureza eugénica, como também já aconteceu antes).
A cultura alemã dominante é uma cultura perigosa que com facilidade adopta o lema «os fins justificam os meios» e, consequentemente, viola regras sejam elas quais forem, se isso corresponder aos seus interesses. O recentíssimo caso da Volkswagen é um exemplo. Um construtor de automóveis que organiza meticulosamente uma gigantesca fraude, com o objectivo de enganar Estados e consumidores, através da criação de um software que falsifica os dados sobre a emissão de gases poluentes dos seus automóveis, revela o quanto de repugnante e de escabroso essa cultura encerra. Também há pouco tempo grandes empresas farmacêuticas alemãs realizaram fraudes milionárias com o contrabando de medicamentos contra o vírus HIV que eram destinados a países africanos. E só nos últimos dez anos, foram múltiplas as empresas alemãs de dimensão mundial que foram apanhadas no negócio da corrupção. A Henkel, a Daimler-Chrysler, a Degussa, a Siemens e a Schering foram algumas delas. Assim como grandes bancos alemães já foram acusados de sonegação fiscal. Mas não foram só as grandes empresas, também muitas empresas de dimensão média têm sido acusadas e condenadas por práticas de corrupção. E, se formos ao mais alto nível desta cultura dominante, vemos o modo como recentemente o governo alemão salvou os seus bancos, provocando a crise do euro e atolando em dívida o Estado grego, a despeito dos mais elementares princípios éticos na relação entre Estados e Povos.
As propagadas seriedade e superioridade moral alemãs são um mito, que a realidade desfaz.
A cultura alemã dominante é perigosa. Se a deixarem à solta, pode tornar-se fatal, uma vez mais...

domingo, 20 de setembro de 2015

Pensamentos

«Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus companheiros, é porque ouve outro tambor.»
Henry Thoreau 
«Os maiores acontecimentos da minha vida foram alguns pensamentos, leituras, alguns pores-do-sol em Trouville à beira-mar e palestras de cinco a seis horas consecutivas com um amigo que agora é casado e está perdido para mim.»
Ernest Renan 
«O homem que pouco aprendeu, envelhece como um boi: com muita carne e nenhum conhecimento.»
Textos Budistas 
In Paulo Neves da Silva, Dicionário de Citações, Âncora Editora

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Radicalismos e estabilidades

O pensamento em voga e os interesses dominantes (que andam normalmente de mão dada) tratam Jeremy Corbyn, recentemente eleito líder do Partido Trabalhista inglês, mais ou menos do seguinte modo: é uma figura da pré-história; é a versão inglesa do Syriza mais extremista; é um populista, é um radical...
Assim é vendida a imagem de Corbyn, acrescentando-se sempre que esta eleição se insere na onda de radicalismos europeus que irresponsavelmente querem afrontar o poder dominante na União Europeia. Invariavelmente também, segue-se o aviso de que isso pode ser catastrófico, se for concretizado. 
No entendimento destas vozes, tudo que seja um pensamento divergente do statu quo é necessariamente apelidado de radical, extremista, perigoso. Estas vozes podem aceitar algo que seja ligeiramente diferente, mas não algo que possa trazer diferenças significativas ao sistema dominante. E, no mesmo saco, metem, sem pudor, tudo aquilo a que chamam radicalismos: dirigentes e militantes do Syriza, do Podemos, do Bloco, agora também do Partido Trabalhista que intencionalmente são misturados com nazis, com xenófobos, com fascistas, com jihadistas. 
É com esta seriedade intelectual que se vão fazendo análises nas televisões, nas rádios e nos jornais. Tudo o que se apresente como uma alternativa ao actual modelo económico e social, com valores políticos e éticos diferentes, é deliberadamente classificado de extremismo e igualado a movimentos reaccionários e retrógrados. Jeremy Corbyn passou a ser um perigoso extremista que se juntou aos outros conhecidos perigosos extremistas para, conjunta ou separadamente, destruir o que eles designam de estabilidade europeia. 
A desonestidade deste discurso, que de modo obsceno alastra na comunicação social, assenta num único objectivo: defender a estabilidade de quem o profere, isto é, defender os bem instalados interesses dos autores desse discurso, os seus bem instalados privilégios, o seu bem instalado poder de influência, a sua bem instalada rede de cumplicidades. Dos grandes patrões ao jornalista (que sem saber como nem porquê se transformou em comentador), passando por políticos (seniores ou aspirantes), gestores (grandes ou minúsculos) e personagens diversas foram-se constituindo diferentes níveis de interesses bem instalados que corroboram na defesa do que designam de estabilidade, quando, na realidade, se trata somente de defender a sua estabilidade. É essa estabilidade que eles não querem ver destruída. E, para a defesa dessa estabilidade, vale tudo, até vale confundir deliberadamente os nazis, os fascistas e os nacionalistas com o Podemos, com o Bloco, com o Syriza ou com os seus dissidentes, com os trabalhistas ingleses e com todos aqueles que procuram caminhos para uma sociedade mais equilibrada, onde, sim, uma outra estabilidade desapareça: a estabilidade do desemprego, a estabilidade da precariedade, a estabilidade dos cortes nos vencimentos e nas pensões, a estabilidade da perda de esperança.

domingo, 13 de setembro de 2015

Poemas


AQUELE OUTRO

O dúbio mascarado - o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito.
O Rei-lua postiço, o falso atónito -
Bem no fundo, o cobarde rigoroso.

Em vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua Alma de neve, asco dum vómito -
Seu ânimo, cantado como indómito,
Um lacaio invertido e pressuroso.

O sem nervos nem Ânsia - o papa-açorda,
(Seu coração talvez movido a corda...)
Apesar de seus berros ao Ideal.

O raimoso, o corrido, o desleal -
O balofo arrotando Império astral:
o mago sem condão - o Esfinge gorda...

Mário de Sá-Carneiro

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Uma vitória inútil

Imagem de António Cardal
António Costa foi quem dominou o debate de ontem à noite. Passos Coelho foi confrontado com algumas das suas malfeitorias, e titubeou de modo proporcional à sua falta de seriedade política. Na linguagem da moda — aquela que adora rankings, competitividades, vencedores e vencidos, heróis e derrotados — Costa ganhou o debate. Mas, infelizmente, esta vitória é inútil, não serve de nada. Aliás, serve para o que não interessa. Serve para alimentar o circo que televisões, rádios e jornais montaram à volta deste debate, e serve para satisfazer as mentes que têm o seu horizonte de prazer limitado ao espectáculo do ganhar e do perder. Mas, para a transformação da realidade, esta vitória é uma inutilidade. 
Para além da retórica, o que separa Costa de Coelho é uma linha tão ténue que se torna quase invisível. Se o PS vencer as eleições, as diferenças entre a sua política e a do actual governo serão tão ligeiras que quase nem daremos por elas. O fundamental, o essencial, o estrutural manter-se-á exactamente como até aqui se tem mantido. As obscenas desigualdades que caracterizam o nosso país manter-se-ão; as obscenas situações de injustiça social manter-se-ão; o fundamental das políticas de educação, de justiça e de saúde manter-se-á; os obscenos privilégios do sistema financeiro e das grandes empresas manter-se-ão; a dependência da dívida, que hipoteca o nosso futuro, manter-se-á; a veneração pelo tratado orçamental, que constrange as nossas possibilidades de desenvolvimento, manter-se-á. Nada de essencial mudará, porque, na verdade, PS e PSD são partidos apenas ligeiramente diferentes. 40 anos de democracia confirmam-no de forma evidente. Estes dois partidos estão totalmente de acordo naquilo que é estrutural da nossa vida política, económica e social, e, por isso, nada de verdadeiramente importante se alterará, enquanto a maioria dos eleitores persistir em lhes dar o voto.
Costa deixou Coelho a gaguejar. É verdade, mas o problema não está em saber quem foi mais acutilante no uso do verbo, ou em saber quem estava mais nervoso, ou em saber quem teve melhor ou pior postura corporal ou enrugou mais ou menos a testa; o problema está em saber quem apresentou e apresenta caminhos diferentes para o país e para a vida dos portugueses; e a verdade é que nenhum deles apresentou nem apresenta esse caminho.
Sendo o PS somente um partido ligeiramente, ou levemente, diferente do PSD, a vitória retórica de Costa é uma desgraçada inutilidade.

sábado, 5 de setembro de 2015

Vídeo: conclusões sobre a dívida pública grega

O vídeo que se segue (legendado em português) diz respeito à apresentação pública, no Parlamento grego, das conclusões apuradas pela Comissão para a Verdade sobre a Dívida Pública Grega. O coordenador dessa comissão, Eric Toussaint, resumiu, no passado dia 17 de Junho, os resultados do trabalho realizado. É um discurso que merece ser seguido com atenção.




sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Divulgação de formação no âmbito do programa Erasmus+

Divulgação solicitada pelas professoras Célia Lima, Filipa Estevens e Vera Casaleiro, via e-mail:

Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel investe em formação
Professores em mobilidade pela Europa, num verão repleto de aprendizagens
O Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel, já acostumado a participar em projetos europeus, decidiu ir mais longe e abraçar um novo desafio — o atual programa europeu Erasmus+ — tendo envolvido 32 professores do seu corpo docente numa ação de mobilidade para a aprendizagem.
Crescer em Conjunto (Growing together) é o nome do Projeto e foi, por razões óbvias, o mote que norteou este verão invulgar naquela que é carinhosamente chamada “a escola da Carreira”. É que “Crescer em Conjunto” foi de facto uma das maiores impressões que os envolvidos retiveram da experiência: um sentido de cooperação, uma oportunidade para aprender, a noção de que o caminho que regula a vida dos professores está cheio de desafios e que é urgente crescer e evoluir, em termos profissionais e organizacionais.
Durante alguns dias, cada um dos professores envolvidos rumou de “armas e bagagens”, que é como quem diz, com mochila e livros às costas, em direção à República Checa, à Irlanda, à Islândia, a Espanha e até à Roménia, com o fim de, em Praga, Dublin, Reiquejavique, Reus e Targus Mures, respetivamente, adquirir e desenvolver competências e aprendizagens inovadoras, bem como alargar a consciência cultural.
Assim, através da mobilidade individual, esta aposta dotou o grupo de docentes de competências cognitivas, linguísticas, culturais e digitais inovadoras, de metodologias e pedagogias criativas e mais adequadas ao século XXI, potenciando, desta forma, o desenvolvimento de um Projeto Educativo direcionado para o sucesso educativo, para o multiculturalismo e para a inclusão de todos num mundo cada vez mais global.

Melhorar e modernizar a instituição a médio e a longo prazo com vista ao desenvolvimento da qualidade e à excelência de toda a comunidade educativa são os desafios para um futuro próximo, visíveis já num presente dominado pela motivação de quem viu as suas expectativas iniciais ultrapassadas e deseja urgentemente reinventar cada passo e explorar novos caminhos com os seus alunos. 
Os professores envolvidos
Agosto de 2015
Parte do grupo, Julho de 2015, Praga (República Checa)

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Ternuras alemãs

Fotografia de Gil Coelho.
É enternecedor ouvir Angela Merkel apelar à união entre todos os países da UE, a propósito da crise dos refugiados. Ouvir os recentes discursos da chanceler alemã — discursos repletos de mensagens de unidade e de solidariedade e de chamadas de atenção para a necessidade da Europa funcionar como um todo — é um exercício que sensibiliza os corações mais duros. Ficamos todos tocados com esta repentina e inesperada faceta solidária de Merkel. Vemos, comovidos, o seu afã no sentido de promover a cooperação europeia e de pedir uma resposta colectiva e uníssona ao problema dos refugiados. Observamos, emocionados, o seu empenhamento na defesa da ideia de uma UE una, sustentada em laços fortes e funcionando como se de um só país se tratasse.
Pena é que a Alemanha apenas se lembre da cooperação e do princípio da repartição solidária de um problema por todos os membros da UE quando ela própria se sente afectada, como é o caso da actual migração em massa, em especial para as terras germânicas. O que levou a que, rapidamente, o habitual discurso autoritário e arrogante do governo alemão fosse substituído pelo discurso dos valores da solidariedade e da cooperação europeia. 
Pena é que este discurso não tivesse sido introduzido pelos mesmos protagonistas para tratar a crise grega. Na verdade, a crise grega foi tratada como um problema estritamente grego, e não como um problema de toda a União Europeia, aquela que agora se pretende que seja unida e cooperante, e o governo e o povo gregos foram deliberadamente desrespeitados e mal tratados. E foram-no, em primeiro lugar, pelos responsáveis alemães, os mesmos que, agora, com uma hipocrisia política que repugna, apregoam valores que reiteradamente têm desprezado.