quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Os problemas da ideologia

A ideologia tem vários problemas, desde logo o da sua definição. Afastado há muito do seu sentido original (uma ciência das ideias), o termo ideologia foi adquirindo diferentes significados e, ao longo do tempo, foi sendo utilizado, consoante os contextos, quer com uma conotação valorativa (enquanto sistema de ideias que sustenta convicções pessoais no domínio político, económico, social, etc.), quer com uma conotação pejorativa (enquanto conjunto de crenças dogmáticas que reflecte interesses pessoais e/ou de grupo/classe). 
Apesar da sua morte já ter sido várias vezes decretada, o facto é que a ideologia, seja num sentido ou no outro, não morreu — pelo contrário, alguma até rejuvenesceu. O problema (recorrente) é que há um determinado tipo de ideologia que pretende apresentar-se ao mundo como não ideológica. Hoje em dia, essa rejuvenescida ideologia surge travestida com a ponderosa capa da «inevitabilidade», ou da «exigência do futuro», ou do «rumo irreversível da história», ou de outros clichés não menos assertivos e sugestivos, mas nunca como ideologia.
Ora, esta circunstância constitui mais um problema, porque: ou os protagonistas desta ideologia «não ideológica» pretendem deliberadamente esconder a natureza ideológica do seu discurso e dos seus argumentos, o que, do ponto de vista da honestidade intelectual, é inaceitável, porque tem um intuito enganador; ou os protagonistas desta ideologia «não ideológica» não têm realmente consciência da natureza ideológica daquilo que defendem, o que, intelectualmente, revela debilidade, e, socialmente, pode redundar em fanatismo acéfalo.
Na história, as evidências «não ideológicas» nunca deram bons resultados.