«— Mr. Peek — disse eu —, o meu inglês é tão fraco que às vezes cometo erros de estrangeiro. Sei que o senhor é banqueiro. Está a sugerir que vai emprestar dinheiro à amante do meu criado só para que ela compre uma casa, e que fará isso, perdoe-me a franqueza, sem segundas intenções?
Ele olhou-me e soltou uma gargalhada, batendo-me de novo no joelho. Pensei que o riso dele era demasiado estridente e as palmadas demasiado fortes. Já tinha o joelho a arder.
— Está a querer dizer que sou um patife ou um palerma? Nem uma coisa nem outra. Olhe para isto. — Tirou um lápis do bolso, bateu no tejadilho e, quando o cocheiro parou, abriu um caderninho e começou a escrever, ao mesmo tempo que falava enquanto desenhava as letras.
— O problema da terra em Manhattan é matemático — explicou. — E eu sou um homem com espírito matemático. É o meu passatempo e o meu interesse na vida, e não me estou a referir a aritmética. Já leu os cálculos de Mr. Newton?
— Já ouvi falar.
— Bem, em primeiro lugar, o A mais B. Aritmética. O número de imigrantes para a América aumenta trinta mil pessoas anualmente. Setenta por cento desses imigrantes passam por Nova Iorque.
— Estou a perceber.
— Então percebe depressa demais. Os trabalhadores ficam perto dos empregos, as pessoas com dinheiro saem, para aqui e para ali, para longe da cidade. Consegue ler o que escrevi?
Era o seguinte: h(t) = Xitß.
— A primeira equação — elucidou ele — expressa a quantidade de alojamentos (em logaritmos) como uma função linear dos atributos X da unidade de alojamento i.
"Blá, blá, blá", pensei eu. "Não sei o que isto significa, só sei que estes símbolos estranhos, a matemática e a sua utilização ao serviço de uma profecia me cheiram a franco-maçonaria."
— Podia prever-se o preço, ou seja, Xit, de um lote em Manhattan num dado ano.
Um agricultor a debitar cálculo. São assim os Americanos.
Num momento pensamos que compreendemos o carácter de um homem, e logo a seguir sentimo-nos um palerma estrangeiro.
Ph(t) = δt ßT = 0.
— Para mim, isto é grego — gracejei.
— Ah, sim, mas é mesmo grego —respondeu ele, o autodidacta.
— Seja qual for a equação, não faz sentido emprestar dinheiro a um devedor que quase de certeza não irá pagar.
— Ah, isso é que é falar como um banqueiro! Até parece que estou a ouvir os meus bons amigos que estão ocupados a emprestar dinheiro uns aos outros; mas a sua pintora vai reembolsar-me durante um ano, dois, três anos. Vou lucrar muito com isso. No momento em que ela deixar de pagar, bem, voltamos ao Ph(t) = δt ßT = 0. A terra vale uma fortuna. Tenho uma casa na Sixteenth Street e então recomeço a fazer dinheiro.»
Peter Carey, Parrot e Olivier na América, Gradiva.