Ao longo das últimas semanas, procurei apresentar as razões que me levam a considerar o actual modelo de gestão das escolas, criado por Sócrates e Rodrigues, como desastroso.
Para concluir, proponho que se procure responder a uma pergunta: que ganharam as escolas, que ganharam os alunos, os professores, os funcionários, os encarregados de educação com a introdução da nova forma de gerir a escola portuguesa?
Não vislumbro que haja algo de relevante que anteriormente já se fizesse bem e que, por via do novo modelo, tenha passado a fazer-se melhor e não encontro situações negativas que, por via do novo modelo, tenham sido ultrapassadas. Por outro lado, vejo que, por via do novo modelo, há situações que pioraram objectivamente.
Quer do ponto de vista da qualidade do trabalho produzido, quer do ponto de vista do funcionamento, nenhum dos actuais órgãos (conselho geral, director, conselho pedagógico, departamentos curriculares) alcança melhor avaliação do que os órgãos dos modelos anteriores (assembleia de escola/inexistência de órgão similar, conselho executivo/directivo, conselho pedagógico, grupos disciplinares). Todos eles, na minha opinião, revelam mais aspectos negativos do que os seus predecessores, pelas razões que fui apontado nos textos anteriores.
O que justifica então a defesa e a manutenção deste modelo? A única justificação que encontro é de natureza ideológica. Só a crença — suscitada por inexpugnáveis razões, que a experiência não confirma — de que os melhores modelos de gestão escolar são aqueles que assentam na nomeação e na (artificial) autoridade individual é que explica a defesa deste modelo. Isto ou então uma manifesta dificuldade de se conviver com o escrutínio colectivo e com o método do reconhecimento da autoridade pelos pares.
Como os resultados não comprovam que este modelo seja melhor do que os anteriores, a defesa da sua manutenção só pode ter uma base ideológica, no sentido pejorativo do termo: a partir de uma representação do mundo gerada por interesses individuais e/ou de grupo, procura-se impor, nos diferentes níveis da realidade, modelos organizacionais consonantes com essa representação e que servem para consolidar esses interesses individuais e/ou de grupo. No caso da Educação, privilegia-se essa representação do mundo e a defesa desses interesses em detrimento do desenvolvimento da Educação e do melhor funcionamento das escolas.
O debate desta matéria pode ter interesse se não se desenvolver em torno de clichés, mas a partir de um exame crítico rigoroso do que a realidade tem revelado. O confronto com a realidade é decisivo. É preciso é não ter medo de o fazer.