sexta-feira, 20 de maio de 2016

Três «sms»

Fotografia de José Almeida
Devido a obrigações profissionais, não tenho tido disponibilidade para «blogar» sobre o que se vai passando na nossa frenética vida pública. Mas hoje «blogo» três «sms».

1. É impressionante a nossa produção noticiosa. Na verdade, a nossa capacidade de produzir notícias e de as fazer «render» não sofre de défice. Se alguém decidisse avaliar o que entre nós se passa a partir do que os nossos órgãos de comunicação social veiculam, ficaria com a ideia de que o país vive em permanente ebulição e em permanente estado de urgência de tomada de decisões vitais para a sua sobrevivência. Dá a ideia de que vivemos constantemente junto do precipício e em risco iminente de descalabro. Tudo assume uma gravidade transcendente.

2. A esperada pressão sobre o actual governo não pára. Comissão Europeia, Eurogrupo, FMI, unidades técnicas disto, comissões daquilo, associações daqueloutro e especialistas de tudo revelam uma vitalidade inesgotável na pressão que exercem sobre os principais ministérios. Alertas, avisos, projecções e previsões sucedem-se a um ritmo de tirar o fôlego. Saudosos, todos eles, dos bons velhos tempos de Passos Coelho e da Troika, não desarmam nem desarmarão na preservação ou na recuperação das políticas de fomento de desigualdades e de injustiça social e de manutenção de privilégios de casta. A objectiva falta de seriedade e de competência das elites que conduziram o país à bancarrota (elites política, financeira e empresarial) não as inibe (nem inibirá) de continuarem a combater qualquer pequena alteração social que possa diminuir o seu poder.

3. A recente algazarra ocorrida a propósito do financiamento do Estado a colégios privados foi interessante e confirmativa: há muito sector privado que adora ser sector privado, que pretende manter os privilégios de ser sector privado, desde que o sector público garanta as respectivas rendas. É notável a falta de coerência e de vergonha de muitos dos acusadores e depreciadores de tudo o que tenha natureza estatal. Amaldiçoam os gastos do Estado, mas são normalmente os primeiros na fila dos subsídios, ou para os receberem ou para reclamarem a sua entrega aos membros do clube.
Curiosamente, esta algazarra também foi confirmativa do lado pantanoso do PS. Daquele lado que, como recentemente um dirigente social-democrata lembrou, está perto do PSD — quer do ponto de vista ideológico quer do ponto de vista da defesa dos interesses (bem) instalados.
Comum a todos é a falta de escrúpulos na argumentação e na utilização de crianças como meio para atingirem os seus não confessados fins.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O destino do dinheiro dos resgates à Grécia

«Um estudo de dois investigadores alemães conclui que dos 216 mil milhões de euros dos resgates dos últimos seis anos, apenas 9.7 mil milhões foram parar ao Orçamento grego. Ou seja, menos de 5% do total serviu a população, enquanto 95% foi para os cofres dos bancos europeus.»


Para ler, clicar aqui:

domingo, 1 de maio de 2016

Labor

Poema ao 1.º de Maio

1.° de Maio,
do sol vê-se o raio
arauto da vida,
bandeira estendida,
com a negra divisa
que o povo organiza.
Um mundo de amor
que extingue o opressor,
termina com a guerra,
socorre a terra
da morte eminente
sob a forma doente
do mal capital,
que recebe o aval
dos vampiros sedentos
pelos jovens rebentos,
sacrificados no rito,
trabalhando ao apito
que aciona à alvorada,
e ao fim da jornada,
quando o sol já se pôs.
E a um barraco depois
seguem rumo inseguro,
um caminho escuro
onde esperam soldados
por patrões ordenados.

Mas alguns não arreiam,
e indignados semeiam
nos tijolos pioneiros,
de corpos guerreiros,
a justiça que escavam,
e os braços trabalham
no levante da massa
em defesa da causa.
Frutificai do martírio
nos campos ó Lírio,
pois em vão não partiram
e com gloria caíram
em Chicago a tiros,
misturados aos gritos.
Foram com dignidade
com firmeza e coragem,
pois naqueles valentes
os cães obedientes
dispararam com fúria.
Mas para além da penúria
seus irmãos solidários,
não mais solitários,
organizavam mais firmes
suas marchas sublimes,
da redenção o ensaio:
O 1° de Maio.

Jaguarape