«Por trás de cada uma destas portas duplas — primeiro carvalho, depois aço — havia uma alma humana, uma mente na sua gaiola de osso, o centro do seu sistema solar, a arder de arrependimento e de raiva, condenada a um labor silencioso e solitário, até ao fim dos tempos.
Este instrumento radiado era uma máquina de reforma, como o comissário explicara no jardim sem vida. Mostraram-nos um capuz negro e convidaram-nos a pô-lo. Que gentileza a deles! O capuz é a coroa dada a cada prisioneiro na portinhola. Ele entra cego. Não vê o jardim. Arrasta-se ao longo do corredor penitencial até à sua cela, sozinho, aterrorizado, sem saber se o passo seguinte será uma queda mortal, se está sozinho no mundo ou rodeado por outros num castelo com quinze quilómetros de comprimento.
Esta Eastern Penitentiary é obra dos quakers de Pensilvânia, que não rasgam um homem ao meio nem lhe vertem chumbo derretido para os intestinos como faziam os malandros dos reis de antigamente. Em vez disso, intervêm directamente na alma.»
Peter Carey, Parrot e Olivier na América, Gradiva.