Imagem de João Tiago Gouveia |
1. O governo da coligação PSD-CDS já não existe. Já não temos Passos Coelho como primeiro-ministro nem Paulo Portas como vice-primeiro-ministro. Já não temos em vigor as políticas de injustiça social e de promoção das desigualdades que estes dois líderes protagonizaram. É um momento que merece ser assinalado. Como deve ser assinalado que Passos sai da governação como entrou: a mentir, a enganar. Entrou com as colossais mentiras sobre a inexistência de cortes nos salários, nas pensões, nos subsídios de Natal e de férias e sobre o não aumento de impostos. Sai com a colossal mentira sobre a devolução da sobretaxa do IRS. Sai como merece sair.
2. Cavaco Silva confirmou mais uma vez a vulgaridade que o caracteriza. Vai ficar para história como o presidente que acumula incultura com parcialidade e irresponsabilidade. Ficará para a história como um presidente de facção, como um presidente de birras e como o único presidente que não indigitou um primeiro-ministro, mas que o «indicou». Vai sair como merece.
3. Temos um governo do PS. Não seria novidade nem constituiria motivo de esperança se este governo do PS não tivesse a sustentá-lo acordos com os partidos da esquerda parlamentar. Se fosse exclusivamente um governo do PS, teríamos, com muita probabilidade, mais do mesmo: políticas levemente diferentes das políticas dos governos do PSD. Como de facto seriam, se o PS tivesse tido maioria absoluta e se levasse à prática o programa com que se apresentou nas eleições.
Não sendo possível saber se a opção que António Costa tomou — a de celebrar acordos com a esquerda — foi e é uma escolha genuína e por convicção ou se foi e é meramente circunstancial e táctica (algo que só lá mais para a frente saberemos), resta-nos a expectativa de que a acção do BE, do PCP e do PEV consiga trazer alguma diferença substancial na política governativa. No imediato, já vimos que assim acontecerá com as anunciadas medidas sobre a recuperação de salários e de pensões (se os acordos com os partidos da esquerda não tivessem ocorrido, o que agora vai ser recuperado num ano demoraria dois ou quatro anos, consoante o governo fosse de maioria do PS ou do PSD).
Nos próximos meses iremos ver que direcção este governo quer na realidade seguir. Uma coisa é certa: se existe alguma (moderada) expectativa, ela só existe porque existem acordos com os partidos da esquerda parlamentar.
4. A opção de incluir neste governo ministros que foram ministros de Sócrates e que estiveram empenhadamente com ele até ao fim não foi um boa opção.