Certamente que o primeiro critério consiste numa avaliação política: um ministro tem de possuir cultura política própria e tem de possuir a confiança política de quem o escolhe. O segundo critério consiste, certamente, numa avaliação do conhecimento que o futuro ministro tem da pasta que vai abraçar. (É claro que existem outros critérios, mas de natureza diferente, que não me interessam, porque quase todos eles repugnam).
O processo de escolha de alguns dos ministros do novo governo respeitou, de forma evidente, os dois critérios referidos (independentemente do juízo que sobre eles se faça), contudo, relativamente ao processo de escolha de alguns outros ministros já não é óbvio que os mesmos critérios tenham sido respeitados.
Uma das escolhas que parece ter resultado de uma metodologia diferente é a escolha do novo ministro da Educação. Digo parece, porque a realidade muitas vezes não coincide com o que dela vemos. Mas parece, de facto, que a escolha de Tiago Brandão Rodrigues para ministro da Educação não respeitou os dois critérios acima enunciados.
Este jovem respeitado investigador não tem «evidências» públicas (utilizo propositadamente o termo «evidência» porque é um termo muito querido nos meios de investigação das ciências experimentais, a que agora quase toda a gente acriticamente aderiu...), não tem «evidências» públicas, dizia eu, de cultura política, no sentido substantivo e nobre do conceito. Não são conhecidos registos seus, escritos ou orais, de intervenções, discursos, entrevistas ou comunicações que, com alguma densidade, versassem problemas ou temas políticos. Ele próprio, nas entrevistas que tive oportunidade de ler, define-se como um cientista. Cientista evidentemente e saudavelmente interessado na política, como qualquer cidadão responsável o deve ser, mas não significativamente iniciado na cultura política. Não havendo cultura política, o outro requisito fundamental para ser ministro, que é a confiança política, passa a ter pouco sentido. Na realidade, em casos assim, tratar-se-á mais de confiança pessoal do que política a que existe entre quem escolheu e quem foi escolhido.
Deste ponto de vista, portanto, a escolha de Tiago Brandão Rodrigues não se torna evidente. Isto, repito, tendo por base as «evidências» públicas.
O segundo critério, que acima mencionei, assenta na avaliação do conhecimento que o futuro ministro tem da pasta que vai abraçar. Ora, respeitando este critério, o processo que conduziu à escolha de Tiago Brandão Rodrigues ainda se torna menos perceptível.
Este investigador não foi escolhido para ministro da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior, que é a área onde trabalha, que é a área que conhece. Este investigador foi escolhido para ser ministro da Educação, tutelando o sistema educativo não superior, que é a área em que ele não trabalha, que é a área que ele não conhece. A verdade é que não são conhecidos registos seus, escritos ou orais, de intervenções, discursos, entrevistas, livros ou comunicações que, com alguma densidade, versassem problemas relativos ao nosso sistema educativo não superior. Pelo contrário, as poucas opiniões publicadas (ainda que muito genéricas) proferidas por Tiago Brandão Rodrigues sobre estas matérias, referem-se à ciência e à investigação. Áreas, aliás, onde, nessas entrevistas, mostrou claro desejo de intervir. Mas, surpreendentemente, Tiago Brandão Rodrigues foi escolhido para uma pasta muito diferente, a pasta da Educação.
Esta pasta é, reconhecidamente, uma das mais difíceis de qualquer governo, quer pela dimensão da sua área de competência quer pela complexidade e diversidade dos problemas que enfrenta. É uma pasta que exige elevada preparação política e elevado conhecimento especializado. Não é uma pasta para a qual se possa ir com a ideia de que os primeiros seis meses são para folhear os dossiês e o restante tempo para ir resolvendo problemas. Ou, mais grave ainda, não é uma função que se possa aceitar só porque se julga ter uma meia dúzia de ideias gerais e muito voluntarismo.
O PS tinha particular obrigação de saber isto. As duas últimas escolhas que fez para o Ministério da Educação foram catastróficas. E o PS deveria saber que a seis anos de dislates gravíssimos de política educativa, da sua responsabilidade, se juntaram mais quatro anos de desastre de sinal oposto. A educação, no nosso país, está um caco.
Por isso, o novo ministro da Educação necessitaria de ter um grande conhecimento da situação em que se encontra o sistema educativo, dos graves problemas de que enferma e das causas que os geraram. Necessitaria de ter propostas pensadas, debatidas, escrutinadas. Necessitaria de ter um rumo a propor (a propor e não a impor).
E precisaria de ter uma grande capacidade política para liderar, para dialogar e, acima e tudo, para mobilizar todos os agentes educativos, de modo a poder começar a colar os cacos que os seus antecessores deixaram. E, depois, ainda precisaria de ter força política para, dentro do seu governo, romper com o passado das políticas educativas do partido que o convidou para ministro.
Infelizmente, as «evidências» que existem sobre o novo ministro da Educação não nos deixam grande esperança de que isto possa vir a acontecer. Se tem consistência e força políticas, elas estão ocultas; se tem os conhecimento necessários, eles estão ocultos.
Desejo, contudo, para o bem da Educação, que a realidade não venha a confirmar estas dúvidas.
Uma das escolhas que parece ter resultado de uma metodologia diferente é a escolha do novo ministro da Educação. Digo parece, porque a realidade muitas vezes não coincide com o que dela vemos. Mas parece, de facto, que a escolha de Tiago Brandão Rodrigues para ministro da Educação não respeitou os dois critérios acima enunciados.
Este jovem respeitado investigador não tem «evidências» públicas (utilizo propositadamente o termo «evidência» porque é um termo muito querido nos meios de investigação das ciências experimentais, a que agora quase toda a gente acriticamente aderiu...), não tem «evidências» públicas, dizia eu, de cultura política, no sentido substantivo e nobre do conceito. Não são conhecidos registos seus, escritos ou orais, de intervenções, discursos, entrevistas ou comunicações que, com alguma densidade, versassem problemas ou temas políticos. Ele próprio, nas entrevistas que tive oportunidade de ler, define-se como um cientista. Cientista evidentemente e saudavelmente interessado na política, como qualquer cidadão responsável o deve ser, mas não significativamente iniciado na cultura política. Não havendo cultura política, o outro requisito fundamental para ser ministro, que é a confiança política, passa a ter pouco sentido. Na realidade, em casos assim, tratar-se-á mais de confiança pessoal do que política a que existe entre quem escolheu e quem foi escolhido.
Deste ponto de vista, portanto, a escolha de Tiago Brandão Rodrigues não se torna evidente. Isto, repito, tendo por base as «evidências» públicas.
O segundo critério, que acima mencionei, assenta na avaliação do conhecimento que o futuro ministro tem da pasta que vai abraçar. Ora, respeitando este critério, o processo que conduziu à escolha de Tiago Brandão Rodrigues ainda se torna menos perceptível.
Este investigador não foi escolhido para ministro da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior, que é a área onde trabalha, que é a área que conhece. Este investigador foi escolhido para ser ministro da Educação, tutelando o sistema educativo não superior, que é a área em que ele não trabalha, que é a área que ele não conhece. A verdade é que não são conhecidos registos seus, escritos ou orais, de intervenções, discursos, entrevistas, livros ou comunicações que, com alguma densidade, versassem problemas relativos ao nosso sistema educativo não superior. Pelo contrário, as poucas opiniões publicadas (ainda que muito genéricas) proferidas por Tiago Brandão Rodrigues sobre estas matérias, referem-se à ciência e à investigação. Áreas, aliás, onde, nessas entrevistas, mostrou claro desejo de intervir. Mas, surpreendentemente, Tiago Brandão Rodrigues foi escolhido para uma pasta muito diferente, a pasta da Educação.
Esta pasta é, reconhecidamente, uma das mais difíceis de qualquer governo, quer pela dimensão da sua área de competência quer pela complexidade e diversidade dos problemas que enfrenta. É uma pasta que exige elevada preparação política e elevado conhecimento especializado. Não é uma pasta para a qual se possa ir com a ideia de que os primeiros seis meses são para folhear os dossiês e o restante tempo para ir resolvendo problemas. Ou, mais grave ainda, não é uma função que se possa aceitar só porque se julga ter uma meia dúzia de ideias gerais e muito voluntarismo.
O PS tinha particular obrigação de saber isto. As duas últimas escolhas que fez para o Ministério da Educação foram catastróficas. E o PS deveria saber que a seis anos de dislates gravíssimos de política educativa, da sua responsabilidade, se juntaram mais quatro anos de desastre de sinal oposto. A educação, no nosso país, está um caco.
Por isso, o novo ministro da Educação necessitaria de ter um grande conhecimento da situação em que se encontra o sistema educativo, dos graves problemas de que enferma e das causas que os geraram. Necessitaria de ter propostas pensadas, debatidas, escrutinadas. Necessitaria de ter um rumo a propor (a propor e não a impor).
E precisaria de ter uma grande capacidade política para liderar, para dialogar e, acima e tudo, para mobilizar todos os agentes educativos, de modo a poder começar a colar os cacos que os seus antecessores deixaram. E, depois, ainda precisaria de ter força política para, dentro do seu governo, romper com o passado das políticas educativas do partido que o convidou para ministro.
Infelizmente, as «evidências» que existem sobre o novo ministro da Educação não nos deixam grande esperança de que isto possa vir a acontecer. Se tem consistência e força políticas, elas estão ocultas; se tem os conhecimento necessários, eles estão ocultos.
Desejo, contudo, para o bem da Educação, que a realidade não venha a confirmar estas dúvidas.