Imagem de Emília Duarte |
Ilegitimidade política houve quando, há quatro anos, uma maioria foi eleita mentindo aos eleitores. Essa é que é a verdadeira ilegitimidade: mentir, para ganhar votos.
2. Ainda não sabemos se António Costa chegou a acordo com os partidos da esquerda parlamentar por convicção ou por tacticismo. Ainda não sabemos se considera que esse é o caminho que o PS deve seguir ou se vai por este caminho apenas porque não queria perder o poder dentro do seu partido. A inclusão de ex-ministros de Sócrates, que com ele tiveram uma cumplicidade total, suscita evidentemente objecções. Circunstância a que se junta o facto de, entre esses ministro, ter escolhido, para um governo apoiado pelo BE e pelo PCP, alguém como Santos Silva que considera aqueles dois partidos as «forças mais conservadoras e reaccionárias que conheceu na vida», e em relação às quais sente especial prazer em «malhar». Ou António Costa não leva a sério o que Santos Silva diz, vendo-o como um fala-barato útil que hoje diz uma coisa e amanhã o seu contrário, que hoje malha nuns e amanhã malha noutros, que hoje está com um líder e amanhã está com qualquer outro, ou António Costa não está verdadeiramente empenhado nos acordos que celebrou.
3. A concretização de uma política que valorize o trabalho e que vise combater as pornográficas desigualdades sociais de que o país enferma dependerá essencialmente da acção que BE e PCP venham a desenvolver, porque não está na tradição do PS fazer rupturas dessa natureza. Isto significa que BE e PCP têm de realizar um escrutínio permanente e rigoroso a toda a política governativa, de modo a não permitirem que os inúmeros e fortíssimos grupos de pressão (de patrões, de financeiros, de grandes escritórios de advogados, etc.) que existem dentro do PS façam valer os seus interesses, que em nada coincidem com os interesses de grande parte dos portugueses.