Fotografia de Gil Coelho. |
É enternecedor ouvir Angela Merkel apelar à união entre todos os países da UE, a propósito da crise dos refugiados. Ouvir os recentes discursos da chanceler alemã — discursos repletos de mensagens de unidade e de solidariedade e de chamadas de atenção para a necessidade da Europa funcionar como um todo — é um exercício que sensibiliza os corações mais duros. Ficamos todos tocados com esta repentina e inesperada faceta solidária de Merkel. Vemos, comovidos, o seu afã no sentido de promover a cooperação europeia e de pedir uma resposta colectiva e uníssona ao problema dos refugiados. Observamos, emocionados, o seu empenhamento na defesa da ideia de uma UE una, sustentada em laços fortes e funcionando como se de um só país se tratasse.
Pena é que a Alemanha apenas se lembre da cooperação e do princípio da repartição solidária de um problema por todos os membros da UE quando ela própria se sente afectada, como é o caso da actual migração em massa, em especial para as terras germânicas. O que levou a que, rapidamente, o habitual discurso autoritário e arrogante do governo alemão fosse substituído pelo discurso dos valores da solidariedade e da cooperação europeia.
Pena é que este discurso não tivesse sido introduzido pelos mesmos protagonistas para tratar a crise grega. Na verdade, a crise grega foi tratada como um problema estritamente grego, e não como um problema de toda a União Europeia, aquela que agora se pretende que seja unida e cooperante, e o governo e o povo gregos foram deliberadamente desrespeitados e mal tratados. E foram-no, em primeiro lugar, pelos responsáveis alemães, os mesmos que, agora, com uma hipocrisia política que repugna, apregoam valores que reiteradamente têm desprezado.