terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Desta vez, os sindicatos não assinaram um memorando...

Desta vez, os sindicatos não assinaram um memorando. Desta vez, os sindicatos, depois da maior manifestação de sempre e depois da maior greve de sempre dos professores, preparam-se, não para assinar um memorando, mas para deixar arrefecer a contestação ao actual modelo de avaliação e, subtilmente, começar a direccionar os protestos unicamente contra o Estatuto da Carreira Docente, cuja revisão só terá efeitos a partir do próximo ano lectivo.
Deste modo, a baixa política, a política que visa servir quem a protagoniza, e o baixo sindicalismo, o sindicalismo que visa servir quem o protagoniza, mais uma vez, aproximam-se, juntam-se, abraçam-se. Mais uma vez. E, mais uma vez, com a intervenção de Carvalho da Silva, como veio noticiado nos jornais.
Mais uma vez, a substância dos problemas é atirada para o lixo: a objectiva incompetência do modelo de avaliação é colocada de lado, as injustiças que ele comporta são esquecidas, o arbitrário concurso para professores titulares não existiu e, amanhã, o Sol voltará a nascer como se nada de inaceitável tivesse ocorrido. Ou melhor, os sindicatos continuarão a dizer raios e coriscos contra o modelo, mas mais nenhuma iniciativa forte pensam promover contra a sua aplicação.
Sindicatos e o Governo chegaram a um acordo, a um acordo de bastidores, quanto à estratégia a seguir para que ninguém, como se diz em politiquês, perdesse a face. Continuarão todos, oficialmente, inimigos, mas, entretanto, nada os impede de salvaguardar os interesses de ambas as partes — a baixa política e o baixo sindicalismo é assim que manobram, é disto que vivem, é para isto que vivem:

1. O Ministério impõe o simplex, com a anuência dos sindicatos, que não repetem o erro de assinar qualquer acordo, mas comprometem-se a progressivamente amenizar os protestos contra o modelo de avaliação e a direccionar gradual e exclusivamente os protestos contra o Estatuto. O simplex avança. O Governo salva a face. Publicamente, propagandeia que não cedeu e que impôs a avaliação. Os sindicatos continuarão a dizer que o modelo é mau, mas não farão mais do que isso;

2. Os sindicatos recebem, em troca, a promessa de uma negociação minguada do Estatuto da Carreira Docente, onde se procederá a uma diferente hierarquização da carreira e a outros pequenos acertos. Os sindicatos pensam que assim salvam a face, porque poderão reclamar que obrigaram o Governo a mexer no Estatuto. Não interessa se a mexida é substancial ou não, o que interessa é que se possa dizer que se conseguiu mexer.

Entretanto, vêm as eleições e logo se verá...

Esta política repugna? Repugna. Este sindicalismo repugna? Repugna. Isto é um destino incontornável? Não, não é um destino incontornável.
Mais uma vez também, a baixa política e o baixo sindicalismo só prevalecerão se os professores o permitirem. Mais uma vez, os professores, contra a vontade dos sindicatos e contra a incompetência do Governo, podem/devem assumir a responsabilidade de fazer a única coisa que pode/deve ser feita:
— prosseguir na rejeição absoluta deste modelo de avaliação, prosseguir na recusa absoluta de a ele se submeterem.

Foi assim, com uma atitude de inabalável firmeza, que os professores conseguiram, contra a vontade inicial dos sindicatos, a realização da manifestação de 8 de Novembro. Foi assim que conseguiram, contra a vontade inicial dos sindicatos, a antecipação da greve para 3 de Dezembro. E é assim que conseguirão preservar a sua dignidade e vencer a baixa política e o baixo sindicalismo.