Contraluz
as aves surgem,
acende-se uma chama
eis a mulher.
sem nomes nem laços, nem véu
errando de olhos fechados
a mulher sob a frescura do mar.
mas bruscamente voltam as aves
e alonga-se esta chama
mais do que entreapercebida
no fundo do quarto.
e é o mar
o mar de braços adormecidos
transportando o sol,
nem oriente nem norte, nem obstáculo nem barra,
o mar.
nada, a não ser o mar tenebroso e doce
caído das estrelas, testemunha das mutilações do céu,
solidão, pressentimentos, sussurros.
nada a não ser o mar.
os olhos extintos
sem vaga, nem vento, nem vela.
bruscamente de novo as aves,
e eis a mulher
nem estrela nem sonho, nem géiser, nem roda, a mulher.
as aves voltam
e nada mais que o mar.
Mohammed Dib
(Trad.: Adalberto Alves)