quarta-feira, 9 de junho de 2010

Às quartas

Contraluz

as aves surgem,
acende-se uma chama
eis a mulher.

sem nomes nem laços, nem véu
errando de olhos fechados
a mulher sob a frescura do mar.

mas bruscamente voltam as aves
e alonga-se esta chama
mais do que entreapercebida
no fundo do quarto.

e é o mar
o mar de braços adormecidos
transportando o sol,
nem oriente nem norte, nem obstáculo nem barra,
o mar.

nada, a não ser o mar tenebroso e doce
caído das estrelas, testemunha das mutilações do céu,
solidão, pressentimentos, sussurros.

nada a não ser o mar.
os olhos extintos
sem vaga, nem vento, nem vela.

bruscamente de novo as aves,
e eis a mulher
nem estrela nem sonho, nem géiser, nem roda, a mulher.

as aves voltam
e nada mais que o mar.

Mohammed Dib
(Trad.: Adalberto Alves)