sábado, 19 de junho de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca da moral puritana

«A moral puritana caracteriza-se pela reprovação de certas condutas supostamente impudicas que, não obstante, não prejudicam ninguém. Os puritanos reclamam-se os garantes dos bons costumes e apregoam um severo código moral que, no fundo, encobre uma série de preconceitos socialmente arreigados, um repúdio perverso pelos prazeres do corpo e uma predilecção por manter as aparências a todo o custo. Fernando Savater, na sua Ética para Amador, acerta ao ilustrar essa falsa moral desta maneira:
"Os puritanos consideram-se as pessoas com mais moral do mundo e além disso guardiães da moralidade dos seus vizinhos [...]. O seu modelo parece a senhora daquele conto... recordas-te? Chamou a polícia para protestar porque havia uns miúdos nus a tomar banho em frente à sua casa. A polícia afastou os miúdos, mas a senhora voltou a chamá-la, dizendo que estavam a tomar banho (despidos, sempre despidos) um pouco mais acima e que o escândalo se mantinha. A polícia afastou-os de novo. [Mesmo assim] a senhora voltou protestar. ' Mas, minha senhora, — disse o inspector — nós mandámo-los para mais de um quilómetro e meio de distância...' E a puritana senhora respondeu 'virtuosamente' indignada: 'Sim, mas com os binóculos continuo a vê-los!"»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor