segunda-feira, 20 de junho de 2011

Anotações

Primeiro-minstro indigitado promete não invocar a herança de Sócrates
Público (17/6/11)

Passos teve quatro recusas.. e 'anulou' um convite

Para onde foi o dinheiro? [Perguntam os gregos]

Copiar num teste dá direito a ter 10 [Diz a directora do Centro de Estudos Judiciários]
Expresso (18/6/11)

Passos Coelho afirmou que, a partir de agora, não falará mais do governo anterior. Duvido que o possa fazer: a herança que o governo deposto deixa, e que se conhecerá daqui a algum tempo em toda a sua verdadeira extensão, é tão medonha que será impossível não falar dela. Mas é uma opção de Passos Coelho. Todavia, se ele não falar, haverá quem fale. Pela minha insignificante parte, eu falarei.
Não apagarei da memória a longa noite socratina. Não farei silêncio sobre o que aconteceu nos últimos seis anos. Fazê-lo seria minimizar os crimes políticos que nesse período foram cometidos e absolver os seus autores. As eleições não podem ser o único momento e a única forma de julgamento político.
Para além disso e para que o passado não se repita, temos de recordá-lo e escrutiná-lo continuamente. Para que a irresponsabilidade passada não seja ilibada nem desenvolvida no futuro, temos, no presente, de a convocar sempre que necessário. Para que gente sem qualificação política nem técnica não volte a sentir-se tentada a governar Portugal, temos a obrigação cívica de recorrentemente lembrar as consequências da governação socialista, levada a cabo entre 2005 e 2011. Para que a política não volte a degradar-se até ao nível a que actualmente chegou, teremos sempre de apontar como exemplo a não seguir, seja qual for a circunstância: José Sócrates e quem o rodeou e apoiou. 
Na História, as nódoas não podem ser apagadas.

Os nossos jornais, mesmo os chamados de referência, são cada vez mais um pântano de interesses e de jogos de influência. O actual modo de fazer jornalismo pouco ou nada tem que ver com rigor e  seriedade, outrora tidos como princípios básicos da função de informar. 
O que se passou com a cobertura jornalística do anúncio do novo governo é mais um exemplo disso. Grande parte, senão mesmo a totalidade, dos órgãos de comunicação social quase deu mais importância a quem supostamente terá recusado integrar o Governo do que a quem aceitou integrá-lo. Escreveram-se páginas inteiras e consumiram-se largos minutos televisivos a narrar quem, quando e porquê declinou o convite para ministro. Progressivamente, o nosso jornalismo generalista vai ficando reduzido à fofoca. Chegámos a um ponto em que os próprios jornais Público Expresso, outrora excelentes jornais, agora valem quase exclusivamente pelas suas  revistas culturais (Ípsilon e Actual, respectivamente).

Para onde foi o dinheiro? Perguntam os gregos. E perguntamos nós. Perguntamos à troika que tem governado Portugal (PS, PSD e CDS): para onde foi o dinheiro? Para onde foram os muitos, muitos mil milhões que nos últimos trinta e tal anos chegaram a Portugal, vindos da União Europeia? Para além da construção de auto-estradas, de rotundas e de estádios, para além da organização de exposições e de futeboladas, o dinheiro foi investido em que sector produtivo? Foi na agricultura? Foi nas pescas? Foi na indústria? Onde foi? Perguntamos a Cavaco Silva, a António Guterres, a Durão Barroso, a Santana Lopes, a José Sócrates: para onde foi o dinheiro?

Em Portugal, na escola dos magistrados, copiar dá direito a passagem automática.
Está na altura deste país fechar para obras.