sábado, 11 de junho de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico

O fim de um enigma

Um conto sana dá enfim resposta a um enigma que há muito nos intrigava.

Um dia (há muito, muito tempo mesmo), o pénis, a vagina e os testículos ouviram falar de frutos deliciosos que os punham a salivar e que acabavam de aparecer em determinada árvore.
Dirigiram-se para essa árvore. O pénis, muito ágil, subiu airosamente para os ramos e os testículos seguiram-no conforme puderam.
A vagina, essa não tinha qualquer possibilidade de trepar para os ramos. Portanto, ficou em baixo.
O pénis, que muito gostava da vagina, atirava-lhe frutos de vez em quando, ao passo que os testículos, muito egoístas, mantinham-se surdos ao seus apelos e empanturravam-se abundantemente nos ramos.
De repente, estalou uma tempestade pavorosa. O pénis rapidamente desceu da árvore, aproximou-se da vagina e pediu-lhe que o deixasse entrar para poder abrigar-se.
Reconhecida, a vagina aceitou, entreabriu-se e o pénis entrou a toda a pressa, protegendo-se do vento e da chuva. Os testículos também desceram da árvore e pediram asilo à vagina, porque a tempestade ia-se agravando. Mas a vagina recusou terminantemente. Disse aos testículos que não tinha razão nenhuma para os proteger e que, além disso, já não havia lugar.
E é por isso que desde esse tempo os testículos, com tempestade ou sem ela, ficam cá de fora.
In Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos (adaptado).