Notas breves e muito introdutórias acerca do que conheço do pensamento de Nuno Crato, novo ministro da Educação.
As fontes de que parto são:
— O Eduquês em Discurso Directo, Gradiva, Lisboa, 2006.
— Vídeo da comunicação apresentada no Ciclo de Conferências «Fórum Portugal de Verdade», organizado pelo PSD (2009).
— Entrevistas a diferentes órgãos de comunicação social.
O que tenho registado de positivo no discurso de Nuno Crato:
. Crítica ao denominado «Eduquês».
. Crítica ao dirigismo pedagógico do Ministério da Educação.
. Crítica à política de facilitismo.
. Defesa de uma grande autonomia das escolas e dos professores e consequente responsabilização.
. Defesa de uma sólida preparação científica dos professores.
. Valorização dos conhecimentos/conteúdos e menor enfatização dos processos.
. Defesa do rigor, da disciplina e do esforço.
O que tenho registado de negativo no discurso de Nuno Crato:
. A idolatria pelas provas de exame nacionais.
. A vinculação da avaliação dos professores aos resultados dos exames nacionais dos alunos.
Apesar dos elementos positivos serem, para já, em número superior aos negativos, há alguns aspectos manifestamente preocupantes:
i) Nuno Crato tem revelado falta de consistência e de rigor em algumas das críticas que dirige. Selecciona correctamente os alvos da crítica, mas a fundamentação que desenvolve é por vezes pobre (em alguns casos, raia o senso comum básico).
ii) A idolatria que Nuno Crato tem pelas provas de exame nacionais parece mostrar ingenuidade e pouco conhecimento acerca das limitações técnicas dessas provas, ou, em alternativa, parece mostrar uma concepção muito redutora do processo de ensino-aprendizagem e da função educativa da escola — concepção que o leva a acreditar que os exames são os mais importantes instrumentos de avaliação. Defendo (tenho-o dito neste blogue) que os exames nacionais são um instrumento de avaliação necessário, mas apenas como forma de aferir algumas performances do sistema educativo e como mecanismo que pode possibilitar alguma correcção das discrepâncias avaliativas que, a nível nacional, inevitavelmente ocorrem — ainda que os próprios exames sejam também transportadores de discrepâncias.
Seja como for, os exames nacionais nunca poderão ser tidos nem apresentados como a panaceia que resolve todos os problemas. As provas de exame nacionais estão muito longe, mas muito longe mesmo de poderem ser assim consideradas.
Seja como for, os exames nacionais nunca poderão ser tidos nem apresentados como a panaceia que resolve todos os problemas. As provas de exame nacionais estão muito longe, mas muito longe mesmo de poderem ser assim consideradas.
iii) A vinculação da avaliação dos professores aos resultados dos exames nacionais dos alunos é um enorme dislate. É um dislate, porque tecnicamente é impraticável criar um sistema de avaliação de professores universal dependente dos resultados alcançados pelos alunos; é um dislate, porque é atribuir aos exames uma capacidade avaliativa que os exames não têm nem nunca terão; e é um dislate porque significa ter uma concepção muito primária da função que deve ser atribuída à avaliação do desempenho dos professores.