quarta-feira, 29 de junho de 2011

Às quartas

MINHA PRIMA ÁGUEDA

     Minha madrinha convidava minha prima Águeda
para passar o dia em nossa casa;
minha prima chegava
com um contraditório
prestígio de goma e de temível
luto cerimonioso.

     Águeda aparecia, ressoante
de goma, e seus olhos
verdes e faces rubicundas
protegiam-me contra o pavoroso
luto...
          Eu era menino
e conhecia o o por ser redondo,
e Águeda que bisbilhotava
mansa e perseverante na sonora
galeria, causava-me
calafrios ignotos...
(Creio até dever-lhe o meu costume
heroicamente louco de falar sozinho.)

     À hora de almoço, na penumbra
quieta da sala,
ia-me encantando um quebradiço
soar intermitente de loiça
e o timbre cariciante
da voz de minha prima.
         Águeda era
(luto, pupilas verdes e faces
rubicundas) um cesto policromo
de uvas e maçãs
no ébano de um armário antigo.

Ramón López Velarde

(Trad.: José Bento)