sábado, 18 de junho de 2011

Notas breves e introdutórias acerca do novo ministro da Educação

Notas breves e muito introdutórias acerca do que conheço do pensamento de Nuno Crato, novo ministro da Educação.
As fontes de que parto são: 
— O Eduquês em Discurso Directo, Gradiva, Lisboa, 2006.
— Vídeo da comunicação apresentada no Ciclo de Conferências «Fórum Portugal de Verdade», organizado pelo PSD (2009).
— Entrevistas a diferentes órgãos de comunicação social.

O que tenho registado de positivo no discurso de Nuno Crato:
. Crítica ao denominado «Eduquês».
. Crítica ao dirigismo pedagógico do Ministério da Educação.
. Crítica à política de facilitismo.
. Defesa de uma grande autonomia das escolas e dos professores e consequente responsabilização.
. Defesa de uma sólida preparação científica dos professores.
. Valorização dos conhecimentos/conteúdos e menor enfatização dos processos.
. Defesa do rigor, da disciplina e do esforço.

O que tenho registado de negativo no discurso de Nuno Crato:
. A idolatria pelas provas de exame nacionais.
. A vinculação da avaliação dos professores aos resultados dos exames nacionais dos alunos.

Apesar dos elementos positivos serem, para já, em número superior aos negativos, há alguns aspectos manifestamente preocupantes:
i) Nuno Crato tem revelado falta de consistência e de rigor em algumas das críticas que dirige.  Selecciona correctamente os alvos da crítica, mas a fundamentação que desenvolve é por vezes pobre (em alguns casos, raia o senso comum básico).

ii) A idolatria que Nuno Crato tem pelas provas de exame nacionais parece mostrar ingenuidade e pouco conhecimento acerca das limitações técnicas dessas provas, ou, em alternativa, parece mostrar uma concepção muito redutora do processo de ensino-aprendizagem e da função educativa da escola — concepção que o leva a acreditar que os exames são os mais importantes instrumentos de avaliação. Defendo (tenho-o dito neste blogue) que os exames nacionais são um instrumento de avaliação necessário, mas apenas como forma de aferir algumas performances do sistema educativo e como mecanismo que pode possibilitar alguma correcção das discrepâncias avaliativas que, a nível nacional, inevitavelmente ocorrem — ainda que os próprios exames sejam também transportadores de discrepâncias.
Seja como for, os exames nacionais nunca poderão ser tidos nem apresentados como a panaceia que resolve todos os problemas. As provas de exame nacionais estão muito longe, mas muito longe mesmo de poderem ser assim consideradas.

iii) A vinculação da avaliação dos professores aos resultados dos exames nacionais dos alunos é um enorme dislate. É um dislate, porque tecnicamente é impraticável criar um sistema de avaliação de professores universal dependente dos resultados alcançados pelos alunos; é um dislate, porque é atribuir aos exames uma capacidade avaliativa que os exames não têm nem nunca terão; e é um dislate porque significa ter uma concepção muito primária da função que deve ser atribuída à avaliação do desempenho dos professores.