sexta-feira, 15 de abril de 2011

Erros a não repetir - 1

Na semana passada, concluí a análise de alguns dos aspectos mais relevantes do modelo de avaliação recém revogado (mas ainda não formalmente extinto), agora, tentarei enumerar alguns tópicos de síntese de enfermidades do modelo. O objectivo desta enumeração é chegar a uma síntese de erros que não deverão ser repetidos no próximo modelo.
Os erros a que me refiro não têm todos a mesma origem nem a mesma natureza nem a mesma dimensão, mas todos eles são erros (do meu ponto de vista) que inquinam e impossibilitam qualquer avaliação do desempenho docente.
O alinhamento dos tópicos, que se segue, não tem por base nenhuma ordem hierárquica.

Tópico 1 - Um paradigma de professor.
O modelo de avaliação agora revogado tem um paradigma de professor. Na minha opinião,  um modelo de avaliação docente não pode ter nem deve ter subjacente qualquer paradigma de professor.
Não pode ter, porque simplesmente não existe um modelo consensual de professor, por mais que alguns «cientistas» da educação o desejem e por ele pelejem. Mas não o podendo ter, porque a realidade não o fornece, também não o deve querer ter, porque a diversidade de arquétipos de professor não só é uma riqueza humana, como é uma riqueza pedagógica. A formatação do acto de ensinar é, em si mesma, destituída de sentido e, consequentemente, não pode inspirar qualquer avaliação do desempenho docente. 
Mas isso acontecia, no modelo revogado. Apenas três exemplos, de vários que poderiam ser apresentados, para ilustrar:

i) Segundo o modelo, todo o professor excelente deveria ser um rigoroso planificador. Um rigoroso planificador das actividades que pretende desenvolver, dos meios e recursos que pretende utilizar e dos tipos de avaliação que pretende realizar. A ênfase que é atribuída, no modelo revogado, ao rigor «planificador» do docente, quase faz supor que é mais importante a planificação do que o próprio acto de ensinar e do que o próprio processo de ensino-aprendizagem. Ora, uma coisa é um plano de aula em que o professor tem de saber o que vai fazer (ou o que pretende que se faça) e como vai fazer (ou como pretende que se faça), outra coisa é pretender-se transformar esse plano de aula numa detalhada planificação que condiciona o acto de ensinar e o acto de aprender a uma sucessão de comportamentos previamente delineados.
O acto de ensinar deve ser planeado, mas não deve ser burocratizado. E deve ser planeado segundo o modo que a experiência do professor o ditar e segundo o modo que a necessidade da turma o aconselhar.

ii) Segundo o modelo, todo o professor excelente deveria ser um permanente inovador. Como já tive oportunidade de lembrar (Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 9), em contexto pedagógico, a inovação não é um fim em si mesmo e, muitas vezes, não é sequer um meio. Só esta razão deveria impedir que se quisesse formatar os professores no sentido da permanente procura da inovação, para além de a realidade nos mostrar que existem excelentes professores que não precisam de inovar para o serem.

iii) Segundo o modelo, todo o professor excelente deve estar em permanente envolvimento com o meio. Ora, quem deve estar em permanente envolvimento com o meio deve ser a escola e não todos e cada um dos professores da escola. A escola precisa de professores que concretizem essa ligação à comunidade envolvente, mas não precisa que todos os professores se dediquem a esse trabalho. O modelo de avaliação não pode, pois, definir como meta para cada professor o desenvolvimento de uma permanente relação com o meio, só porque na cabeça dos autores do modelo existe um arquétipo de professor que contém esse elemento como característica relevante.

O modelo de avaliação revogado tem várias situações desta natureza, que derivam precisamente de um arquétipo de professor que se pretende impor, por via da avaliação do desempenho. Ora este é um dos erros que não deve ser repetido no próximo modelo de avaliação.

Como penso meter, para a semana, uns diazitos de férias, voltarei a este assunto na semana seguinte.

Ligações a outros posts relacionados com a ADD: 
. Acerca da simplicidade de um modelo de avaliação e da seriedade da sua concretização
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 1
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 2
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 3
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. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 5
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 6
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 7
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 8 
. Sub-repticiamente 
. Requerimento do Dep. C.S.H. da Escola Secundária de Amora