TERRITÓRIO
Agora entramos na penetração,
no reverso incisivo
de quanto infinitamente se divide.
Entramos na sombra partida,
na cópula da noite
com o deus que rebenta em sua entranha,
na partição indolor da célula,
no avesso da pupila,
na extremidade terminal da matéria
ou no seu princípio solitário.
Ninguém poderia agora arrebatar-me
o território impuro deste canto
nem ninguém tem em tal lugar
poder sobre o meu sonho.
Nem deus nem homem.
Procede só da noite da noite,
como da duração o interminável,
como da palavra o labirinto
que nela encontra sua entrada e sua saída
e como do informe vem até à luz
o limo original de quanto vive.
José Ángel Valente
(Trad.: José Bento)