37 anos depois, Portugal está de rastos — perante os outros e perante si próprio.
Lá por fora, responsáveis e gente anónima de outros países tratam Portugal com indisfarçável desdém, com evidente arrogância e óbvia repulsa. Temos sido reiteradamente insultados na praça pública internacional.
Cá por dentro: dirigentes políticos, patrões e comentadores revelam reiteradamente duas coisas: atitude de subserviência e comportamento de mendigo.
37 anos depois, comemorar Abril, nestas circunstâncias, não é fácil.
Julgo que o único modo digno de comemorar o que aconteceu há 37 anos é dispormo-nos a pensar, com seriedade, o que é necessário fazer para mudarmos o modelo de vida e de sociedade que temos. Penso que é urgente assumirmos que este modo de vivermos em conjunto está marcado por elementos profunda e vergonhosamente injustos, que o tornam inaceitável.
Temos de mudar de vida. Temos de começar a trabalhar para mudar de vida.
Talvez seja uma forma digna de comemorar o que aconteceu há 37 anos.