sábado, 2 de abril de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico


O problema da confiança

«Um judeu fez fortuna.
Decide, pela primeira vez na vida, tirar férias de Inverno e fazer esqui.
Inexperiente, desajeitado, sai da pista e cai numa ravina. Por um milagre de última hora agarra-se a um magro arbusto que cresce entre as rochas. Por baixo dele, o vazio e a morte. As suas mãos agarram-se ao arbusto, mas em breve se soltarão. Aliás, o arbusto quebra. As suas raízes rasgam-se.
O judeu, no cúmulo da angústia, ergue os olhos ao céu e exclama:
— Está aí alguém? Está aí alguém?
— Estou aqui, meu filho — responde uma voz solene. — Não tenhas medo e larga o arbusto. Os meus anjos pegarão em ti e depositar-te-ão suavemente no chão.
O judeu reflectiu um instante antes de perguntar:
— Não há aí mais ninguém?»
Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, pp. 52-53.