quinta-feira, 7 de abril de 2011

Da Irlanda (1)

«O dia 27 de Novembro foi a data da manifestação que juntou mais de 100 mil irlandeses na capital, a maior desde que a crise se instalou: "Nevou, estava um frio terrível, mas veio imensa gente e a marcha tornou-se emocional. Descemos O'Connel Street (a principal artéria de Dublin) até ao posto central dos Correios e aí de repente comecei a olhar à volta e a ver gente a chorar. Por todo o lado, todo o tipo de pessoas. Havia homens a chorar. Eu chorei." No palco, uma actriz lia partes da Declaração de Independência irlandesa, lida pela primeira vez naquele local em 1916. Os irlandeses sentiam a independência económica em causa, com o pacote de austeridade anunciado três dias antes, como o preço a pagar pelo resgate da UE e do FMI, um empréstimo de 85 mil milhões de euros.»

«David é bancário, trabalha no sector que a maioria dos irlandeses, em qualquer quadrante político, aponta como responsável pela crise. Nem por isso tem uma vida fácil. Prefere que o apelido seja omitido, assim como o nome da instituição em que trabalha. Quando tudo corria bem, comprou uma casa que custava 282 mil euros, mas o banco, generoso, sugeriu-lhe um empréstimo de 300 mil: assim também dava apara a mobília."
Entretanto, a mulher ficou desempregada, o rendimento desceu e têm um filho pequeno. Agora, é com a ajuda do pai que está a pagar o empréstimo.»
Reportagem de Maria Henrique Espada, in Sábado (31/3/2011).