Na semana passada, suspendi a publicação destes apontamentos como modo simbólico de celebrar a decisão da Assembleia da República de revogar o actual modelo de avaliação e porque essa revogação retirava sentido à continuidade destes apontamentos.
Hoje retomo-a, por dois motivos: porque não sabemos o que Cavaco Silva vai fazer relativamente à promulgação da revogação, e porque, enquanto isso não fica resolvido, importa não esquecer o quanto mau e incompetente é este processo avaliativo.
Prossigo, então, nos apontamentos sobre a 4.ª dimensão: «Desenvolvimento e formação profissional ao longo da vida».
Como já referi, há erros que teimosamente se repetem ao longo de todas as dimensões dos padrões de desempenho. Todavia, e como também já assinalei no apontamento anterior, esta dimensão seria aquela onde menos se esperaria encontrar o fundamentalismos avaliativo, causador de tantas incongruências e inoperacionalidades. Mas os autores deste modelo de avaliação entenderam que o mal era para ser distribuído por todas as aldeias (dimensões) e assim o fizeram.
O segundo descritor do nível «Excelente» diz: «Reflecte consistentemente sobre as suas práticas e mobiliza o conhecimento adquirido na melhoria do seu desempenho.» O descritor correspondente do nível «Muito Bom» é igual, mas sem o advérbio «consistentemente». Portanto, um professor reflecte consistentemente e o outro também reflectirá, mas não consistentemente. Presume-se pois, e mais uma vez, que existe uma bitola, ao alcance de todo e qualquer relator, que permite aferir, com fiabilidade, a fronteira entre uma reflexão consistente e uma reflexão não consistente. Seria interessante conhecermos a bitola, em abstracto, e mais interessante seria vermos, em concreto, como ela seria aplicada, por cada um dos milhares de relatores deste país (como ela seria ou como ela será, se não houver a responsabilidade de parar este despudorado processo). Mas essa bitola nós não conhecemos, ela permanece na exclusiva posse do Olimpo e não é revelada aos mortais — nem aos mortais nem aos relatores, porque, até hoje, nenhum deles foi capaz de a explicar. Na ausência de bitola, o que resta? Não resta nada, a não ser a arbitrariedade, o «olhómetro», a simpatia, a antipatia, qualquer coisa, menos a fiabilidade e a credibilidade.
Como já referi, há erros que teimosamente se repetem ao longo de todas as dimensões dos padrões de desempenho. Todavia, e como também já assinalei no apontamento anterior, esta dimensão seria aquela onde menos se esperaria encontrar o fundamentalismos avaliativo, causador de tantas incongruências e inoperacionalidades. Mas os autores deste modelo de avaliação entenderam que o mal era para ser distribuído por todas as aldeias (dimensões) e assim o fizeram.
O segundo descritor do nível «Excelente» diz: «Reflecte consistentemente sobre as suas práticas e mobiliza o conhecimento adquirido na melhoria do seu desempenho.» O descritor correspondente do nível «Muito Bom» é igual, mas sem o advérbio «consistentemente». Portanto, um professor reflecte consistentemente e o outro também reflectirá, mas não consistentemente. Presume-se pois, e mais uma vez, que existe uma bitola, ao alcance de todo e qualquer relator, que permite aferir, com fiabilidade, a fronteira entre uma reflexão consistente e uma reflexão não consistente. Seria interessante conhecermos a bitola, em abstracto, e mais interessante seria vermos, em concreto, como ela seria aplicada, por cada um dos milhares de relatores deste país (como ela seria ou como ela será, se não houver a responsabilidade de parar este despudorado processo). Mas essa bitola nós não conhecemos, ela permanece na exclusiva posse do Olimpo e não é revelada aos mortais — nem aos mortais nem aos relatores, porque, até hoje, nenhum deles foi capaz de a explicar. Na ausência de bitola, o que resta? Não resta nada, a não ser a arbitrariedade, o «olhómetro», a simpatia, a antipatia, qualquer coisa, menos a fiabilidade e a credibilidade.
Vejamos agora a diferença entre o nível «Muito Bom» e o «Bom». O primeiro: «Reflecte sobre as suas práticas e mobiliza o conhecimento adquirido na melhoria do seu desempenho.». O segundo: «Participa em iniciativas de reflexão sobre as práticas e mobiliza o conhecimento adquirido na melhoria do seu desempenho.» (Um parênteses: a hermenêutica destes descritores revela-se um exercício mais difícil do que a hermenêutica de muitos textos filosóficos).
Tentando compreender: se estamos a falar de descritores de níveis diferentes, pressupõe-se que eles nos reportam a desempenhos qualitativamente diferentes. Entre estes dois descritores onde residirá a diferença no desempenho? Ambos «mobilizam o conhecimento adquirido na melhoria do seu desempenho». A diferença não está aqui. O que sobra? A primeira parte da frase: no caso do professor «Muito Bom» «reflecte sobre [...]», no caso do professor «Bom» «participa em iniciativas de reflexão sobre [...]». A diferença está aqui? Procuro-a, mas não a encontro. Volto a procurar. Continuo sem encontrar. Não encontro, porque me parece óbvio que «participar numa reflexão» implica reflectir. Portanto, não vejo diferença entre reflectir e reflectir.
Tentando compreender: se estamos a falar de descritores de níveis diferentes, pressupõe-se que eles nos reportam a desempenhos qualitativamente diferentes. Entre estes dois descritores onde residirá a diferença no desempenho? Ambos «mobilizam o conhecimento adquirido na melhoria do seu desempenho». A diferença não está aqui. O que sobra? A primeira parte da frase: no caso do professor «Muito Bom» «reflecte sobre [...]», no caso do professor «Bom» «participa em iniciativas de reflexão sobre [...]». A diferença está aqui? Procuro-a, mas não a encontro. Volto a procurar. Continuo sem encontrar. Não encontro, porque me parece óbvio que «participar numa reflexão» implica reflectir. Portanto, não vejo diferença entre reflectir e reflectir.
Poder-se-ia colocar a dúvida: os autores do texto quando escreveram «participa», quereriam dizer apenas está presente sem participar propriamente e, por conseguinte, sem reflectir? Na verdade, esta possibilidade não se pode sequer colocar, por duas razões: porque estamos a falar do nível «Bom» e seria impensável aceitar essa possibilidade neste nível; e porque essa situação já está prevista, mas no nível «Insuficiente».
Conclusão: ficamos sem saber qual é a diferença entre o «reflectir» do nível «Muito Bom» e o «reflectir» do nível «Bom».
Conclusão: ficamos sem saber qual é a diferença entre o «reflectir» do nível «Muito Bom» e o «reflectir» do nível «Bom».
Ficamos nós sem saber, fica o relator e fica o avaliado. E, mais uma vez, na ausência de critério fiável, será/seria a arbitrariedade do avaliador quem mais ordenará/ordenaria.
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