De volta, é inevitável o cotejo.
De um lado, ainda a fervilhar, a memória visual, a memória emocional, a memória que se recusa a esmorecer: a memória do deserto (litoral) e da indescritível beleza dos gigantescos vales «lunares», dos cachos de dunas sobre os leitos secos dos rios, do derrame das montanhas de areia fina e luminosa no mar e nas baías; dos quilómetros de praia selvagem; a memória do deserto (interior), do imenso e mágico silêncio, das luminosidades, das formas perfeitas das dunas douradas, ou da aridez pedregosa, dura, hostil, ou do hálito quente que nos envolve e derruba; a memória da hospitalidade, do cumprimento de mão no peito, do aceno.
Do outro lado, o regresso. O regresso à nossa portuguesa realidade que, ao contrário do que dizia o poeta, nada tem de espantosa. É a realidade do país acabrunhado, envergonhado, desistente; do triunfo da hipocrisia política e da mediocridade das elites que nos governam. É a realidade de vermos que nada, rigorosamente nada, se constitui como esperança. Pelo contrário, apenas se vê o revisto: reforço da injustiça social e crescimento da pobreza material, educativa e cultural.
É também o regresso à realidade europeia, gerida por políticos incapacitados, prisioneiros do arcaísmo das ideias dominantes e da força dos ilegítimos interesses instalados. É o regresso à realidade de um arquétipo de sociedade esgotado e falido. Depois de abdicar do seu modelo social, que tem o capitalismo europeu para oferecer? Oferece, sem pudor ético, a liberal desregulação, a liberal impunidade, a liberal depauperação.
De volta, o cotejo entre a memória e a realidade era inevitável. Está feito.
De volta, voltarei a exprimir desabafos, a emitir opiniões, a manifestar humores e a partilhar gostos, com quem generosamente quiser vir aqui espreitar. Acerca da Educação e do resto...