«[...] Sem escamotear o facto de a dívida das famílias portuguesas ter crescido a um ritmo intenso desde meados dos anos 90, é de notar que o PIB português também teve um comportamento medíocre desde então. Quer isto dizer que o crescimento do peso da dívida das famílias no PIB também se deve ao abrandamento da actividade económica. E é hoje certo que as medidas de austeridade impostas pela UE e pelo FMI para os próximos três anos impossibilitarão qualquer recuperação económica nesse período. A exigência do reequilíbrio das finanças públicas gerará mesmo um recessão severa, podendo agravar os desequilíbrios financeiros do sector privado e, desta forma, contribuir para a fragilização dos próprios bancos, que até agora beneficiaram de um negócio com risco reduzido.
O endividamento das famílias, que tem sido relativamente moderado pelas razões expostas, poderá assim transformar-se num sério problema social. [...]
Os segmentos da população mais vulneráveis poderão enfrentar sérias dificuldades face a uma política económica que poderá comprometer a sua capacidade financeira futura. A recessão económica aliada ao endividamento das famílias poderá levar a um aumento das desigualdades sociais num dos mais desiguais países da União Europeia.»
Ana Cordeiro Santos, «Temos Vivido Acima das Nossas Possibilidades?», Le Monde Diplomatique - edição portuguesa, n.º 57 (Julho/2011).