sábado, 24 de setembro de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico


O problema da emoção

Uma história vinda dos Camarões.
Um elefante atravessa o rio. De repente, um dos seus olhos solta-se e cai ao fundo. Aflito, o elefante põe-se a procurá-lo por todos os lados, mas em vão. O olho parece irremediavelmente perdido.
Enquanto ele se agita no meio do rio, em seu redor, os animais aquáticos, os peixes, as rãs, mas também as aves e as gazelas, que estavam na margem, todos gritam para ele:
— Acalma-te! Calma, ó elefante! Acalma-te!
Mas o elefante não os ouve e continua a procurar, sem encontrar o seu olho.
— Calma! — gritavam os outros. — Calma!
Acabou por os ouvir, imobilizou-se e olhou para eles. Então, a água do rio arrastou suavemente o lodo e a lama, que ele levantara com as patas. Ao olhar, viu, entre as suas patas, o olho na água outra vez límpida.
Recolheu-o e pô-lo no sítio.
Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema [adaptado].