Tópico 4 - Excesso de dimensões (continuação).
No post da semana passada, escrevi que, na minha opinião, o novo sistema avaliativo deve: Visar exclusivamente a melhoria do desempenho dos professores a nível do processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido, as quatro dimensões do actual modelo devem ser reduzidas a uma, aquela que é nuclear e fundamental: «Desenvolvimento do ensino e da aprendizagem». Nesse post, expliquei porque penso assim. Aí, referi também que um modelo de avaliação útil e reconhecido como útil deve, para além de se restringir a uma só dimensão, assentar em dois outros elementos:
2. Ter como base o trabalho colaborativo entre docentes do mesmo grupo disciplinar.
3. Investir na cultura do dever, da responsabilidade e da profissionalidade.
Antes de desenvolver estes dois aspectos, relembro e insisto no seguinte: não conheço nenhum processo de avaliação do desempenho docente que seja competente, fiável e credível para premiar o mérito — desde logo, porque não existe uma definição consistente e consensual sobre em que consiste exactamente o mérito docente —, assim, a avaliação não deve meter-se a fazer coisas que não sabe ou que não pode fazer. A avaliação não pode ser ela própria incompetente, não pode servir para premiar uma coisa para a qual não está capacitada.
Mas a avaliação, se for bem feita, isto é, se avaliar aquilo que pode e sabe avaliar, é um instrumento imprescindível na procura de melhoria contínua daquilo que fazemos — procura de melhoria a que todos estamos obrigados por dever deontológico — neste caso, a melhoria da nossa prática lectiva.
É neste contexto que tentarei agora desenvolver o ponto 2, acima enunciado: a avaliação do desempenho docente deve ter como base o trabalho colaborativo entre docentes do mesmo grupo disciplinar.
É no seio do Grupo Disciplinar que deve ser desenvolvido o trabalho fundamental da avaliação do desempenho docente, com vista à melhoria da prática lectiva de todos os professores que o constituem. Este trabalho deve e só pode ser desenvolvido em conjunto, isto é, só pode ser desenvolvido pelo trabalho profissional de uma equipa de profissionais.
Neste âmbito, os professores têm de assumir (o que, globalmente, ainda não acontece) que, para além da componente individual (que não pode ser desvalorizada), existe uma outra componente essencial no exercício da docência: o trabalho de equipa/colaborativo.
Isto significa dizer que o trabalho realizado por cada professor pode e deve ser escrutinado por todos os membros da equipa. Escrutinado significa dizer que deve ser criticamente partilhado, que deve ser submetido a análise, a observação, a experimentação cruzada, num contexto de entre-ajuda profissional, com vista à superação das dificuldades e à majoração das práticas que se considerem mais adequadas para cada situação específica. Os problemas que cada professor enfrenta na sua prática lectiva são múltiplos e de natureza diversa, e é individual e colectivamente que eles devem ser estudados e resolvidos. Cada problema, cada boa prática, cada opção, cada sucesso, cada insucesso devem ser colectivamente avaliados, para que dessa contínua avaliação haja um progressivo enriquecimento, uma progressiva melhoria das práticas lectivas.
Individualmente, cada professor deve manter a liberdade de tomar a decisão que melhor entenda para cada situação, mas simultaneamente deve estabelecer uma estreita ligação com a sua equipa/grupo disciplinar, como aliás é próprio, comum e obrigatório, por exemplo, em equipas de investigação (seja qual for a sua natureza), em equipas de elaboração e/ou realização de projectos, isto é, em equipas cujos trabalhos dependem quer da criatividade e da autonomia de cada membro, quer dos resultados que a interacção entre os membros da equipa produz. Para além disso, neste contexto, nenhum professor se sente isolado, fragilizado ou desorientado no enfrentamento e na resolução de problemas.
A cultura do trabalho colaborativo é condição de possibilidade para elevarmos a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem. Não encontro outro modo sério e eficaz de o fazer. A cultura da competividade e do individualismo, em que os professores competem entre si para ver quem apanha a vaga que sobra não é alternativa séria para coisa alguma. Essa cultura, fundada em valores grosseiros remanescentes da selvajaria primitiva, é promotora de folclore, de aparência, de truques, de golpes baixos, de compadrio, de fogachos. A competividade e o individualismo entre professores não geram progresso substantivo e sustentado, geram faz-de-conta instantâneo.
Pelo contrário, o trabalho colaborativo e a avaliação contínua que daí resulta são realizados diariamente em todo o mundo: o trabalho científico, que todos os dias é produzido nas universidades, nos centros de investigação e nos laboratórios de todo o planeta, desenvolve-se desta forma e por esta via. É deste modo que se constrói a contínua melhoria dos desempenhos.
No post da semana passada, escrevi que, na minha opinião, o novo sistema avaliativo deve: Visar exclusivamente a melhoria do desempenho dos professores a nível do processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido, as quatro dimensões do actual modelo devem ser reduzidas a uma, aquela que é nuclear e fundamental: «Desenvolvimento do ensino e da aprendizagem». Nesse post, expliquei porque penso assim. Aí, referi também que um modelo de avaliação útil e reconhecido como útil deve, para além de se restringir a uma só dimensão, assentar em dois outros elementos:
2. Ter como base o trabalho colaborativo entre docentes do mesmo grupo disciplinar.
3. Investir na cultura do dever, da responsabilidade e da profissionalidade.
Antes de desenvolver estes dois aspectos, relembro e insisto no seguinte: não conheço nenhum processo de avaliação do desempenho docente que seja competente, fiável e credível para premiar o mérito — desde logo, porque não existe uma definição consistente e consensual sobre em que consiste exactamente o mérito docente —, assim, a avaliação não deve meter-se a fazer coisas que não sabe ou que não pode fazer. A avaliação não pode ser ela própria incompetente, não pode servir para premiar uma coisa para a qual não está capacitada.
Mas a avaliação, se for bem feita, isto é, se avaliar aquilo que pode e sabe avaliar, é um instrumento imprescindível na procura de melhoria contínua daquilo que fazemos — procura de melhoria a que todos estamos obrigados por dever deontológico — neste caso, a melhoria da nossa prática lectiva.
É neste contexto que tentarei agora desenvolver o ponto 2, acima enunciado: a avaliação do desempenho docente deve ter como base o trabalho colaborativo entre docentes do mesmo grupo disciplinar.
É no seio do Grupo Disciplinar que deve ser desenvolvido o trabalho fundamental da avaliação do desempenho docente, com vista à melhoria da prática lectiva de todos os professores que o constituem. Este trabalho deve e só pode ser desenvolvido em conjunto, isto é, só pode ser desenvolvido pelo trabalho profissional de uma equipa de profissionais.
Neste âmbito, os professores têm de assumir (o que, globalmente, ainda não acontece) que, para além da componente individual (que não pode ser desvalorizada), existe uma outra componente essencial no exercício da docência: o trabalho de equipa/colaborativo.
Isto significa dizer que o trabalho realizado por cada professor pode e deve ser escrutinado por todos os membros da equipa. Escrutinado significa dizer que deve ser criticamente partilhado, que deve ser submetido a análise, a observação, a experimentação cruzada, num contexto de entre-ajuda profissional, com vista à superação das dificuldades e à majoração das práticas que se considerem mais adequadas para cada situação específica. Os problemas que cada professor enfrenta na sua prática lectiva são múltiplos e de natureza diversa, e é individual e colectivamente que eles devem ser estudados e resolvidos. Cada problema, cada boa prática, cada opção, cada sucesso, cada insucesso devem ser colectivamente avaliados, para que dessa contínua avaliação haja um progressivo enriquecimento, uma progressiva melhoria das práticas lectivas.
Individualmente, cada professor deve manter a liberdade de tomar a decisão que melhor entenda para cada situação, mas simultaneamente deve estabelecer uma estreita ligação com a sua equipa/grupo disciplinar, como aliás é próprio, comum e obrigatório, por exemplo, em equipas de investigação (seja qual for a sua natureza), em equipas de elaboração e/ou realização de projectos, isto é, em equipas cujos trabalhos dependem quer da criatividade e da autonomia de cada membro, quer dos resultados que a interacção entre os membros da equipa produz. Para além disso, neste contexto, nenhum professor se sente isolado, fragilizado ou desorientado no enfrentamento e na resolução de problemas.
A cultura do trabalho colaborativo é condição de possibilidade para elevarmos a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem. Não encontro outro modo sério e eficaz de o fazer. A cultura da competividade e do individualismo, em que os professores competem entre si para ver quem apanha a vaga que sobra não é alternativa séria para coisa alguma. Essa cultura, fundada em valores grosseiros remanescentes da selvajaria primitiva, é promotora de folclore, de aparência, de truques, de golpes baixos, de compadrio, de fogachos. A competividade e o individualismo entre professores não geram progresso substantivo e sustentado, geram faz-de-conta instantâneo.
Pelo contrário, o trabalho colaborativo e a avaliação contínua que daí resulta são realizados diariamente em todo o mundo: o trabalho científico, que todos os dias é produzido nas universidades, nos centros de investigação e nos laboratórios de todo o planeta, desenvolve-se desta forma e por esta via. É deste modo que se constrói a contínua melhoria dos desempenhos.
No domínio específico da docência, o trabalho colaborativo e a avaliação contínua daí decorrente (dentro do Grupo Disciplinar) fazem-se pela análise conjunta, pela reflexão aberta e partilhada e pelo debate da actividade desenvolvida, e que está na base da prática lectiva de cada professor:
Este escrutínio recíproco constitui-se como avaliação intersubjectiva, que é a verdadeira condição de possibilidade da progressiva melhoria das práticas lectivas. Do meu ponto de vista, é assim que se faz avaliação. A avaliação que, de facto, conta, que contribui para o contínuo desenvolvimento profissional de cada docente. É esta avaliação que, de facto, possibilita e promove esse desenvolvimento.
A parte formal/processual de realizar esta avaliação fica para a próxima sexta-feira.
— análise e interpretação do programa (conteúdos, objectivos, indicações, adequação aos alunos) plano de aula (formal, informal, adequação ao programa e ao aluno, metodologias, actividades, recursos); avaliação (formal, informal, tipos, métodos); instrumentos de avaliação (tipos, ponderação, adequação aos alunos e aos objectivos do programa); elaboração de testes (tipos, técnicas, resultados, adequação aos objectivos, adequação aos alunos); correcção de testes (critérios de correcção, critérios de classificação, problemas de aplicação dos critérios); critérios de avaliação (definição, ponderação, flexibilização, adequação); relação pedagógica (interacção professor-aluno, problemas motivacionais, regras comportamentais, resolução de conflitos); desenvolvimento de projectos, etc.Estes e outros itens, que constituem as componentes da prática lectiva, são a matéria-prima que, ao longo do ano e segundo as necessidades e as prioridades que cada Grupo defina, pode/deve ser objecto de escrutínio recíproco, realizado, repito, através: da análise, da interpretação, do debate, da experimentação, da partilha de experiências e da avaliação das conclusões, da recíproca observação de aulas, da leccionação conjunta de aulas, da partilha de bibliografia...
Este escrutínio recíproco constitui-se como avaliação intersubjectiva, que é a verdadeira condição de possibilidade da progressiva melhoria das práticas lectivas. Do meu ponto de vista, é assim que se faz avaliação. A avaliação que, de facto, conta, que contribui para o contínuo desenvolvimento profissional de cada docente. É esta avaliação que, de facto, possibilita e promove esse desenvolvimento.
A parte formal/processual de realizar esta avaliação fica para a próxima sexta-feira.