sábado, 23 de julho de 2011

Nacos

«Aos dezanove anos comecei a ter amantes. A minha lenda sexual é conhecida no México inteiro, mas as lendas nunca são verdadeiras e menos ainda no México. A primeira vez que fui para a cama com um homem foi por curiosidade. Como está a ouvir. Nem por amor, nem por admiração, nem por medo, e é por essas razões que as outras mulheres costumam fazê-lo. Podia ter ido para a cama por pena, pois no fundo aquele chavalo com quem fodi a primeira vez metia-me pena, mas a verdade pura e simples é que o fiz por curiosidade. Ao fui de dois meses deixei-o e fui com outro, um idiota que pensava que ia fazer a revolução. O México é pródigo em idiotas desse género. Rapazes de uma estupidez supina, arrogantes que, quando tropeçam numa Esquivel Plata perdem os sentidos, querem logo fodê-la, como se o acto de possuir uma mulher como eu equivalesse a tomar o Palácio de Inverno. O Palácio de Inverno! Eles, que nem sequer são capazes de cortar a relva na Datcha de Verão! Bom, a esse também o deixei passado pouco tempo, agora ele é um jornalista com alguma reputação que, cada vez que se embebeda, diz que foi ele o primeiro amor da minha vida. Os amantes que vieram depois tive-os porque gostava deles na cama ou porque me aborrecia e eles eram inventivos, ou divertidos, ou tão estranhos, tão infinitamente estranhos que só a mim me faziam rir. Durante algum tempo, como sem dúvida deve saber, fui uma personagem com algum interesse na esquerda universitária. Até cheguei a ir a Cuba. Depois casei, tive o meu filho, o meu marido, que também era de esquerda, fez-se do PRI. Comecei a trabalhar na imprensa. Ao domingo eu ia a minha casa, quer dizer, à minha antiga casa, onde apodrecia lentamente a minha família, e andava às voltas pelos corredores, pelo jardim, a ver os álbuns de fotografias, a ler os diários de antepassados desconhecidos, que pareciam mais missas que diários, a ficar quieta durante muito tempo, sentada ao pé do poço de pedra que há no pátio, submersa num silêncio expectante, fumando um cigarro atrás de outro, sem ler, sem pensar, às vezes até sem conseguir recordar fosse o que fosse. A verdade é que me aborrecia. Queria fazer coisas, mas não sabia concretamente que coisas queria fazer. Meses depois divorciei-me.»
Roberto Bolaño, 2666, pp. 689-690.