segunda-feira, 4 de julho de 2011

Anotações

[Modelo de] Avaliação [dos professores] continua

Passos quebra promessa de campanha e anuncia corte no subsídio de Natal
Público (1/7/11)

Os títulos dos jornais são sobre Passos Coelho, mas são-no apenas na aparência, porque, na realidade, estes títulos são sobre Sócrates.
Portugal está a pagar, e vai pagar durante muitos anos, a factura de ter tido como primeiro-ministro um político daquele jaez. Não me refiro apenas à factura financeira, refiro-me igualmente à factura política e a tudo o que ela consigo arrasta.
Com um discurso hipócrita, que se auto-classificava de esquerda, Sócrates chefiou os dois executivos que, desde o 25 de Abril, mais à direita governaram. Deste modo, Sócrates descredibilizou o discurso que hipocritamente proferia: quer pelo seu exemplo pessoal, quer pelo exemplo da sua prática política. Foi assim que, com naturalidade, a direita venceu as eleições. Sócrates foi o primeiro responsável dessa vitória. Adicionalmente, Sócrates deixou uma pesada herança ao PS: deixou um partido envergonhado, de má consciência, cabisbaixo; e deixou um partido manietado para o futuro próximo, pelos compromissos que assinou com as entidades estrangeiras que resgataram Portugal. 
Sócrates foi, de todos os pontos de vista, um enorme desastre para o país e para o PS.
O desastre foi de tal dimensão que deixou os portugueses em estado de completa prostração. Se, normalmente, os portugueses não são possuídos de grandes estados energéticos (exceptuando alguns momentos de êxtase relacionados com pontapés na bola), agora, o seu entorpecimento é praticamente absoluto. Por um lado, estão convencidos de que sobre nós caiu uma maldição, que nos vai obrigar a cumprir um fado de sofrimento e miséria; por outro lado, depois de seis anos de permanente desonestidade política, já não se impressionam, já não se espantam, já não se indignam, seja lá com o que for. 
É a herança de Sócrates. É por isso que os títulos do Público se referem mais ao anterior primeiro-ministro e do que ao actual. Se não estivéssemos habituados a seis anos de promessas fantásticas seguidas de mentiras fantásticas, não poderíamos aceitar, com naturalidade e indiferença, que Passos Coelho, no primeiro dia em que discursou no Parlamento, tivesse declarado, com particular à vontade, o oposto daquilo que prometeu e com que se comprometeu, antes e durante a campanha eleitoral. Depois de ter votado, no final da legislatura anterior, a revogação do modelo de (pseudo) avaliação dos professores, agora anunciou que não o vai revogar; depois de ter garantido várias vezes, antes e durante o período eleitoral, que não lançaria novos impostos sobre os salários nem sobre os subsídios de férias ou de Natal, agora anunciou que vai lançar um imposto de quase 50% sobre o 14.º mês. 
No primeiro dia e num só dia, Passos Coelho repetiu Sócrates, em dose dupla. Passos Coelho foi Sócrates. As notícias são, pois, sobre este, não sobre aquele.