sexta-feira, 15 de julho de 2011

Erros a não repetir - 12. E algumas sugestões para o futuro

Nos últimos textos (ver o link «Avaliação - Erros a não repetir», na coluna da direita do blogue), tenho estado a tratar do que deveria ser — na minha opinião, naturalmente — a avaliação do desempenho dos professores.
Resumidamente, vimos o seguinte:
1. A  avaliação do desempenho dos professores deve visar exclusivamente a melhoria das práticas lectivas, com vista ao desenvolvimento das aprendizagens dos alunos.
2. Excluímos, por razões éticas e técnicas, que a avaliação do desempenho dos professores visasse a premiação do mérito. Isto é, não deve visar essa premiação (razões éticas) e não pode visar essa premiação (razões técnicas).
3. A avaliação do desempenho dos professores deve estar focalizada numa única dimensão: «Desenvolvimento do Ensino e da Aprendizagem».
4. A avaliação do desempenho dos professores deve estar centrada no Grupo Disciplinar, deve ser realizada em contexto de trabalho colaborativo, ou seja, deve ser realizada segundo as regras de  funcionamento das equipas de investigação, com a clara definição de obrigações (horas de trabalho colaborativo a cumprir, relatórios a apresentar, etc.) e com a garantia de condições (sala de trabalho, horas destinadas a reuniões, horas destinadas a observação recíproca de aulas, etc.).
5. Esta avaliação não visa uma seriação, visa a melhoria das práticas lectivas, por isso, esta avaliação só pode ser feita pelos pares, porque é desenvolvida em contexto de trabalho de equipa. (Na minha opinião, uma avaliação que vise uma classificação/seriação não deve ser feita pelos pares).
6. O trabalho colaborativo, desenvolvido segundo as regras de funcionamento das equipas de investigação, exige um contínuo escrutínio do trabalho realizado por todos os membros da equipa. Este contínuo escrutínio constitui a forma séria, fiável e credível de gerar a  melhoria da prática lectiva dos professores, com vista ao desenvolvimento das aprendizagens do alunos.

Se aquilo que o poder político efectivamente quisesse fosse a melhoria da prática lectiva dos professores, com vista ao desenvolvimento das aprendizagens dos alunos, teríamos, na minha opinião, o problema resolvido com um modelo de natureza semelhante ao acima resumidamente enunciado.
O problema é que aquilo que verdadeiramente tem preocupado o poder político não é a efectiva melhoria da prática lectiva dos professores, aquilo que o tem preocupado são apenas duas coisas:
i) realizar, por obsessão ideológica, uma seriação/classificação dos professores (o que, factualmente, nada tem que ver com a melhoria das práticas lectivas nem com a melhoria das aprendizagens do alunos);
ii) realizar, por razões economicistas, um desinvestimento na Educação, reduzindo drasticamente as verbas destinadas à massa salarial dos professores.
São estas as duas verdadeiras preocupações que, nos últimos anos, têm movido o poder político na guerra que têm feito aos docentes. Todavia, como não existe coragem política para publicamente as assumir, procura-se sofismar, dizendo que se quer seriar/classificar os professores para melhorar o sistema educativo e para alcançar outros pretensamente nobres objectivos.
Se, por dogmas ideológicos e razões economicistas, se quer classificar os professores para os seriar, que haja, no mínimo, o pudor de não misturar avaliação com classificação, que haja o pudor de não se afirmar que está a ser realizada uma avaliação para premiar o mérito e para conduzir à melhoria do desempenho docente.
Se se quer classificar para seriar que se invoquem as verdadeiras razões. 
Se se quer classificar para seriar, não se coloquem os pares a fazê-lo.
Se obsessivamente se quer classificar, por dogmas ideológicos e razões economicistas, existem itens que podem satisfazer essas necessidades ideológicas e têm a acrescida virtude de caber numa folha de Excel. Exemplos: quantificação do tempo de serviço; quantificação da assiduidade; classificação profissional; quantificação de acções de formação; quantificação de pós-graduações, etc. Isto não avalia nada, mas classifica e seria. 
Se há a obsessão ideológica da classificação, que seja plenamente assumida e que, no mínimo, seja realizada de modo coerente com essa obsessão e sem dar aso a compadrios.

Com este post, concluo a série de textos intitulados «Erros a não repetir».