segunda-feira, 25 de julho de 2011

Nacos

«A realidade é como um chulo drogado no meio de uma tempestade de trovões e relâmpagos, disse a deputada. A seguir ficou calada um bocado, como se se preparasse para ouvir os trovões distantes. Pegou no seu copo de tequila, que voltava a estar cheio, e disse:  cada dia tinha mais trabalho, essa é a verdade. Todos os dias ocupados com jantares, viagens, reuniões, planificações que não levavam a parte alguma, salvo a ficar com um cansaço infinito, todos os dias com entrevistas, todos os dias com desmentidos, aparecer na televisão, amantes, homens com quem eu fodia sem saber porquê, para manter a lenda, talvez, ou talvez porque gostava deles, ou talvez porque me convinha foder com eles, só uma vez, isso sim, que provassem mas não se habituassem, ou talvez simplesmente porque eu gostava de foder quando e onde me dava a real gana, e não tinha tempo para nada, os meus negócios nas mãos dos meus advogados, o património Esquivel Plata, que já não diminuía, não lhe quero mentir mas sim que crescia, nas mãos dos meus advogados, o meu filho nas mãos dos seus professores, e eu cada vez com mais trabalho: problemas hidrográficos no estado de Michoacán, estradas em Querétaro, entrevistas, monumentos equestres, saneamento público, toda a merda de um bairro a passar pelas minhas mãos. Nessa época, suponho, descuidei um pouco os meus amigos.»
Roberto Bolaño, 2666, p. 703.