sexta-feira, 8 de julho de 2011

Erros a não repetir - 11. E algumas sugestões para o futuro

No últimos textos (ver na coluna da direita do blogue a pasta «Avaliação - Erros a não repetir», ou clicar aqui), tenho procurado apresentar as razões pelas quais considero que:
— as quatro dimensões do actual modelo devem ser reduzidas a uma, aquela que é nuclear e fundamental: «Desenvolvimento do ensino e da aprendizagem»;
— o novo modelo de avaliação deve ter como base o trabalho colaborativo entre docentes do mesmo grupo disciplinar.
No texto da passada sexta-feira, desenvolvi este último aspecto. Vou agora concluí-lo.

Começo, no entanto, por lembrar aquele que é, do meu ponto de vista, o elemento decisivo e prévio a tudo o resto (o qual não me cansarei de mencionar, sempre que venha a propósito) e que se expressa na resposta a esta pergunta: faz-se avaliação para quê? Penso que a resposta só pode ser: faz-se avaliação para melhorar a prática lectiva, de modo a atingir-se uma progressiva melhoria das aprendizagens dos alunos. É isto que interessa aos alunos, é isto que interessa aos professores, é isto que interessa aos pais do alunos, é isto que é interessa ao país. O resto, o designado e muito publicitado pretenso apuramento do mérito e da excelência, para além de ser uma impossibilidade técnica é uma duvidosa exigência ética, redundando em faz-de-conta, em folclore, em jogo de sombras e de aparências.

Relembrado isto, darei agora continuidade ao texto da passada semana.
Defendi que a verdadeira avaliação, aquela que visa a melhoria da prática lectiva, só é possível ser realizada em contexto de trabalho colaborativo, isto é, em ambiente de cooperante escrutínio recíproco que se traduz na análise, na interpretação, no debate, na experimentação, na partilha de experiências, na observação recíproca de aulas, na leccionação conjunta de aulas, na partilha de bibliografia, etc.
Também recordei que é assim que se trabalha em equipas de investigação, em equipas de elaboração e/ou realização de projectos, isto é, em equipas cujos trabalhos dependem, quer da criatividade e da autonomia de cada membro, quer dos resultados que a interacção entre os membros da equipa produz.
Da avaliação intersubjectiva que este trabalho continuamente gera assinalam-se os aspectos positivos e os negativos, as dificuldades, os sucessos, os insucessos, e sobre todos eles em equipa se reflecte, e sobre todos eles em equipa se actua, e, desta forma, se progride na qualidade da prática lectiva.
Esta avaliação é exclusivamente formativa. Não é feita para seriar, não é feita para hierarquizar, é feita para formar, para melhorar, para fazer crescer profissionalmente. Enquanto avaliação formativa detecta também, como referi, insuficiências e deficiências. Mas não as detecta por acaso, no decurso do jogo do gato e do rato (como acontece com o actual modelo de avaliação), detecta-as fundamentada e profundamente. Por isso, sobre elas é possível agir com fundamento e profundidade e, no final, com igual fundamento e profundidade concluir da superação das dificuldades, ou, nos casos em que tal suceda, concluir da total impossibilidade dessa superação. Nesta última situação, o processo transitaria para o domínio administrativo com a intervenção das instâncias competentes.

Esta é a avaliação formativa que, com credibilidade e seriedade, se sabe e pode fazer. Desta avaliação não resulta, como disse, nenhuma classificação. Neste preciso contexto, a classificação é um elemento espúrio à avaliação. É uma excrescência que a mentalidade «Excel» idolatra, mas como excrescência que é não acrescenta nada de substantivo à avaliação, pelo contrário, introduz ruído e potencia a adulteração do processo avaliativo.
Esta avaliação formativa, da qual, portanto, não resulta nenhuma classificação, deve e só pode ser feita inter-pares. Mas não deve ser feita inter-pares para poupar dinheiro, como acontece com o actual modelo. Deve ser feita inter-pares, porque o trabalho de equipa só pode ser realizado por quem faz parte da equipa. E, porque não visa nenhuma seriação, pode ser feita pelos pares, ao contrário do actual modelo que atribui responsabilidade de seriação a quem concorre consigo nessa seriação.
Este processo de avalição fundado no trabalho colaborativo exige, como qualquer trabalho de equipa, um coordenador. Mas um coordenador que seja reconhecido pelos pares, a quem os pares reconheçam credibilidade para o exercício dessa coordenação. Deste modo o coordenador deve ser eleito de entre os membros do grupo disciplinar e presta contas superiormente.
Este processo de avalição fundado no trabalho colaborativo é realizado profissionalmente, não é realizado amadoristicamente em regime de voluntariado, ou de calorice, ou em regime de «quando me apetece». De modo idêntico ao funcionamento de uma equipa de investigação, ou de uma equipa de elaboração/contrução de projectos, o grupo disciplinar trabalhará segundo condições que têm de ser asseguradas (salas de trabalho, horas destinadas a reuniões, horas destinadas a observação recíproca de aulas, etc.) e obrigações previamente estipuladas (horas de trabalho colaborativo a cumprir, relatórios a apresentar, etc.).

Esta é a avaliação que, na minha opinião, permite que o nosso sistema educativo evolua qualitativamente. Se, na verdade, é isto que se pretende, julgo que não há outra via. Esta é a via que é seguida pelas equipas de investigação em todo o planeta. É a via que tem permitido os avanços nas ciências, nas tecnologias e em múltiplas actividades. É a via que também permitirá que a nossa Educação se desenvolva.

Estivemos a falar de avaliar para um determinado fim. Outra coisa muito diferente é, como todos sabemos, classificar. Isso é outro assunto, ou como diz um amigo meu: «são outros quinhentos». Para a semana procurarei dizer o que penso sobre essa matéria.