«De todos os objectivos concorrentes e só em parte conciliáveis que podemos procurar, a redução da desigualdade deve ser prioridade. Em condições de desigualdade endémica, todos os outros objectivos desejáveis tornam-se difíceis de obter. [...]
Neste sentido, o acesso desigual a recursos de toda a espécie — dos direitos à água — é o ponto de partida de qualquer crítica verdadeiramente progressista do mundo. [...]
Se continuarmos grotescamente desiguais, perderemos toda a noção de fraternidade: e a fraternidade, apesar de toda a sua tolice como objectivo político, revela-se a condição necessária da própria política. Há muito que o inculcamento de um objectivo de vida comum e dependência mútua é considerado a cavilha de segurança de qualquer comunidade. Agir juntos com um propósito comum é origem de enorme satisfação em tudo, dos desportos amadores aos exércitos profissionais. Nesse aspecto, sempre soubemos que a desigualdade não é só moralmente inquietante: é ineficaz.»
Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, pp. 175-176.