quarta-feira, 27 de julho de 2011

A validação do monstro

Tive hoje a oportunidade de conhecer, pela tv, o deputado Amadeu Albergaria, do PSD, e o deputado Michael Seufert, do CDS. Tive essa oportunidade, porque estes deputados intervieram, no Parlamento, para explicar as razões que levaram os seus partidos a não votar favoravelmente os Projectos de Resolução apresentados pelo PCP e BE, com vista à suspensão do actual modelo de (pseudo) avaliação do desempenho docente. Refiro o facto de os ter conhecido hoje, apenas para assinalar a circunstância de os partidos que apoiam o Governo terem colocado figuras secundárias a falar de um assunto a que outrora (antes das eleições) tinham atribuído importância prioritária.
Contudo, para não correr o risco de falar em vão, fui consultar as biografias destes dois deputados, na página electrónica da Assembleia da República — poderiam eles ter um currículo que os capacitasse especialmente para falar da avaliação do desempenho docente, e eu não o soubesse. 
Mas, afinal, não, eu não poderia desconhecer uma coisa que não existe. 
Na verdade, o deputado Amadeu Albergaria, para além de ser advogado, para além de  ter pertencido à Assembleia de Freguesia de São João de Ver, de ter sido vereador do pelouro da Educação, Cultura, Desporto e Juventude da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e de ter feito parte de organismos locais, não revela nada no seu currículo que justifique a sua escolha para porta-voz do PSD, na Educação. (A propósito: que é feito de Pedro Duarte — um dos deputados que prometeu formalmente a revogação desta (pseudo) avaliação, caso o PSD vencesse as eleições?)
Por sua vez, o currículo do deputado Michael Seufert é, deve ser salientado, particularmente sui generis. Ao lê-lo, verifiquei que, quanto a habilitações literárias, este representante da Nação possui o 1.º Ciclo, mas também possui o 2.º Ciclo, o 3.º Ciclo e o Ensino Secundário — confesso que só depois de continuar a leitura do currículo de Michael Seufert é que pude perceber a razão que o levou a considerar particularmente pertinente e necessário descriminar que era possuidor de todos os ciclos que compõem o Ensino Básico e que era possuidor do Ensino Secundário. E a razão é esta: Michael Seufert declara que das suas habilitações literárias também fazem parte a frequência de licenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores - Ramo Telecomunicações - Redes de Dados e a frequência de mestrado no mesmo curso. Isto é, Michael Seufert ainda não concluiu a licenciatura, mas já frequenta o mestrado. Eu não sabia que isto era possível, mas, pelo vistos, deve ser — ainda que eu não saiba onde. Ora, foi certamente por saber que isto é possível que o deputado Michael Seufert sentiu necessidade de publicitar que possui o 1.º, o 2.º e o 3.º ciclos do Ensino Básico e o Ensino Secundário — não fossemos nós pensar que, do mesmo modo que ele frequenta um mestrado sem possuir a licenciatura, também poderia frequentar uma licenciatura sem ter concluído o ensino básico e o secundário. Todavia, quanto a isto, podemos ficar descansados: o deputado tem o 12.º ano. Por fim, ainda pude verificar, no seu original currículo, que a profissão deste deputado, de 28 anos, é: estudante. 
Foram, portanto, estas duas figuras que o PSD e o CDS escolheram para falar da avaliação dos professores: um advogado — que em Santa Maria da Feira parece ter lidado com assuntos relacionados com a juventude, com a educação, com a cultura e com o desporto — e um jovem estudante — que parece ter o 12.º ano completo.
O que eles hoje disseram no Parlamento é irrelevante, porque, obviamente, nada poderiam ter dito de aproveitável ou politicamente sério. Disseram aquilo que a sua pobre formação no assunto lhes possibilitava dizer e aquilo que a desonestidade política dos seus partidos lhes possibilitava anunciar. Foi lamentável ver reconfirmada a mediocridade ético-política dos deputados que apoiam o Governo: depois de tudo o que disseram e prometeram antes das eleições, votaram agora pela validação do «monstruoso e kafkiano» processo de (pseudo) avaliação dos professores.
Nos últimos seis anos, o país assistiu ao contínuo exercício da falcatrua política. Anunciam-se mais quatro.