domingo, 31 de dezembro de 2017

9 anos e 288 dias depois

Formal e simbolicamente, este blogue encerra hoje os seus serviços, isto é, no último dia do ano de 2017. Digo formal e simbolicamente, porque, de facto, há vários meses que o blogue já não tem actividade — o último post ocorreu no passado dia 1 de Maio. 
A dificuldade de compatibilizar os compromissos profissionais com uma escrita informada e responsável sobre os assuntos da educação foi progressivamente aumentando até chegar ao ponto de passar de dificuldade a impossibilidade.

Este blogue nasceu no dia 18 de Março de 2008. Nesse dia, o texto de abertura do blogue dizia:
«Este blogue nasce numa conjuntura particularmente grave da Educação em Portugal. Nasce no momento em que a política educativa, desprezando a substância, se centra na aparência e trabalha exclusivamente para a estatística, simulando, contudo, estar a elevar a qualidade da formação dos portugueses e a qualidade do ensino.
Paralelamente, foi esta mesma política educativa que elegeu como alvo os professores, acusando-os de serem os responsáveis pelo estado a que chegou a educação no nosso país. Com arrogância e incompetência política e técnica, os responsáveis pela pasta da educação decidiram menosprezar e desprezar a dignidade dos docentes. Consequência, a líder converteu em seus opositores aqueles que deveria liderar.»
A líder da pasta da Educação era Maria de Lurdes Rodrigues — certamente, a pior ministra(o) da Educação, desde 25 de Abril de 1974 —, o líder do governo era José Sócrates — certamente, o primeiro-ministro que mais mal fez a Portugal, desde 25 de Abril de 1974.
Para a Educação, os seis anos de governação do Partido Socialista foram anos de chumbo, cujas consequências ainda hoje todos estamos a pagar. Para o país, os seis anos de governação do Partido Socialista foram anos de encenação, de inversão de valores, de degradação da vida política e de engano dos portugueses, que culminaram com um vexatório pedido de resgate internacional para nos salvar da bancarrota. As consequências destes anos de governação ainda hoje estamos todos a pagar e, desgraçadamente, continuaremos a pagar por muito mais tempo.
Este blogue nasceu, pois, para dar um contributo, ainda que evidentemente modesto, ao movimento de resistência e combate às danosas políticas educativas de Rodrigues e Sócrates.
Na altura, convidei um grupo de colegas para colaborarem neste blogue, que pronta e generosamente aceitaram, mas que por motivos diversos foram deixando de o poder fazer. Quero, contudo, dirigir-lhes o meu agradecimento pela colaboração que cada um, na medida das suas possibilidades, deu ao blogue.
Após a queda do governo do PS, seguiu-se o período em que PSD e Passos Coelho foram os responsáveis pelo poder executivo. Crato foi o protagonista da política educativa desse governo: menos obsessivo na guerra aberta aos professores, não foi, contudo, menos incompetente nas opções de fundo que tomou. Comandado por uma ideologia cega e sem sustentação pedagógica, Crato teve de ser combatido como foi Rodrigues; assim como Passos teve de ser combatido como tinha sido Sócrates. Este blogue procurou continuar a dar o seu (modesto) contributo, ao cumprir o que entendia ser um dever cívico: opor-se à governação do PSD e da designada Troika — ainda que o tempo disponível fosse escasseando para o cumprimento responsável desse dever.
Voltamos a ter um governo do PS, agora liderado por António Costa. E temos um ministério da Educação, agora liderado por Tiago Brandão Rodrigues. Conforme escrevi em 1 de Dezembro de 2015, não conseguia compreender que alguém sem cultura política conhecida e sem conhecimentos específicos sobre a pasta da Educação tivesse sido convidado para ser seu responsável e esse alguém tivesse aceitado o convite. Dois anos depois, o enigma continua por esclarecer. O ministro não está à altura da tarefa que aceitou, e o PS, desgraçadamente, continua a mostrar pouco respeito por esta área da governação. Depois de duas escolhas catastróficas (Rodrigues e Alçada), considerou que a inexperiência política e a ignorância técnica constituíam os melhores requisitos para o exercício do cargo de ministro da Educação. Resultado: meia dúzia de ideias gerais (umas boas e outras más), ausência de um projecto sustentado e sustentável, opções erráticas e o pior está para vir...

Não é, pois, por falta de motivos que este blogue fecha portas, é apenas por falta de tempo disponível. A Educação é algo demasiado sério, para ser objecto de opiniões pensadas e escritas por impulso. É preciso tempo para recolher informação, para a estudar, para sobre ela pensar e para acerca dela opinar. Ora, manifestamente, neste momento, não tenho esse tempo.
Termino com um agradecimento a todos aqueles que durante estes anos foram dedicando alguns minutos do seu lazer a seguir este blogue: bem hajam!
Até um dia.