Estou anojado, como cidadão. Estou anojado, na qualidade de cidadão que verifica que o primeiro-ministro do seu país está metido, recorrentemente, em situações dúbias, em circunstâncias que não primam pela clareza. Situações em que a sua palavra é posta em causa, em que as motivações dos seus actos são objecto de suspeição, de intriga e de aparato mediático.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro quando se comprometeu, com a solenidade que o caracteriza, a não aumentar os impostos e, pouco tempo depois de tomar posse, os ter aumentado.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro quando se comprometeu, com a convicção que sempre manifesta, a criar 150 mil novos postos de trabalho e não os ter criado.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro quando se comprometeu a construir o novo aeroporto de Lisboa na OTA e, afinal, ir construí-lo em Alcochete.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro quando se comprometeu, com a pesporrência que o define, a realizar um referendo sobre o Tratado da União Europeia e não o ter feito.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro em relação a estes compromissos como em relação a muitos outros que, com ligeireza, não honrou. Compromissos antigos ou recentes. Afirmações antigas ou frescas — como o ter dito (a propósito do relatório que o Governo encomendou sobre o 1º Ciclo): «Há muitas décadas que leio relatórios da OCDE sobre Educação. Eu nunca vi uma avaliação sobre um período da nossa democracia com tantos elogios»; e, depois, ter de se desdizer, assumindo que o relatório não é da OCDE.
Não me refiro a nada disto, porque, lamentavelmente, já nos habituámos a conviver com políticos medíocres que em pouco ou nada se distinguem dos vendedores de feira.
O meu anojo refere-se a outras coisas. Refere-se a episódios do comportamento de José Sócrates que, do passado mais longínquo ao mais recente, têm em comum, na hipótese mais benévola, pisarem o risco que demarca a fronteira entre o aceitável e o inaceitável, entre a legitimidade e a ilegitimidade, entre a inocência e a culpabilidade.
O primeiro caso teve origem na notícia que relatava o modo como o primeiro-ministro obteve a licenciatura em engenharia. Depois de mil e uma explicações, ainda hoje prevalece a suspeita, prevalece a dúvida sobre os verdadeiros motivos que o levaram a sair do ISEL e passar para a Universidade Independente (entretanto, já encerrada, porque descredibilizada). Ainda hoje não sabemos se se tratou de uma inocente transferência ou se visou obter o «canudo» por via do facilitismo e do amiguismo.
Assim, estou anojado, por verificar a existência de objectivas dúvidas sobre o comportamento académico de alguém que é primeiro-ministro, e que deveria ser um exemplo para todos os cidadãos, mas não é. Estou anojado, pelo seu descrédito perante os portugueses e perante os seus pares da União Europeia.
Outro caso foi aquele que revelou que José Sócrates assinou, na década de 80, dezenas de projectos de casas feitos por colegas seus, que estavam impedidos de assinar por serem funcionários da Câmara da Guarda. José Sócrates diz que se responsabiliza por esses projectos. Era o que faltava que, tendo-os assinado, por eles não se responsabilizasse. O problema não é de responsabilidade, o problema é que José Sócrates foi cúmplice e co-responsável de actos que tiveram como objectivo contornar a lei. A lei impede, por razões mais que óbvias, que técnicos de uma Câmara façam projectos que sejam avaliados pela mesma Câmara, ora o comportamento de José Sócrates permitiu que esses técnicos, que estavam impedidos de fazer esses projectos, os fizessem na mesma, cobertos pela sua assinatura.
Assim, estou anojado, por ver um primeiro-ministro desautorizado pelo seu próprio comportamento. Estou anojado por ver que o recorrente argumento que ele emprega contra alguns partidos da oposição — quando diz que não lhes reconhece legitimidade para o criticarem atendendo ao que eles fizeram no passado — pode ser utilizado contra ele. Isto é, estou anojado, porque pode perguntar-se a José Sócrates: que autoridade moral tem V. Ex.ª para exigir aos portugueses que cumpram a Lei, quando, por diversas vezes, também já praticou actos que visaram contornar a mesma?
Outro caso, ainda, foi/é o que diz respeito à investigação sobre o processo de licenciamento do outlet Freeport em Alcochete. Sabe-se, agora, que a polícia britânica considera o nosso primeiro-ministro suspeito de ter «solicitado, recebido ou facilitado pagamentos» no decurso desse processo de licenciamento. Naturalmente que deixo à polícia o que é da polícia e não opino, mas posso dizer que estou anojado.
Estou anojado, porque vejo a credibilidade do primeiro-ministro do meu país ser, mais uma vez, posta em causa. Estou anojado, porque vejo o primeiro-ministro metido em trapalhadas atrás de trapalhadas. Estou anojado, porque, quando ouço o primeiro-ministro falar, não consigo acreditar no que ele diz.
Definitivamente, estou anojado, porque não é um primeiro-ministro destes que eu quero para Portugal.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro quando se comprometeu, com a solenidade que o caracteriza, a não aumentar os impostos e, pouco tempo depois de tomar posse, os ter aumentado.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro quando se comprometeu, com a convicção que sempre manifesta, a criar 150 mil novos postos de trabalho e não os ter criado.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro quando se comprometeu a construir o novo aeroporto de Lisboa na OTA e, afinal, ir construí-lo em Alcochete.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro quando se comprometeu, com a pesporrência que o define, a realizar um referendo sobre o Tratado da União Europeia e não o ter feito.
Não me refiro à palavra do primeiro-ministro em relação a estes compromissos como em relação a muitos outros que, com ligeireza, não honrou. Compromissos antigos ou recentes. Afirmações antigas ou frescas — como o ter dito (a propósito do relatório que o Governo encomendou sobre o 1º Ciclo): «Há muitas décadas que leio relatórios da OCDE sobre Educação. Eu nunca vi uma avaliação sobre um período da nossa democracia com tantos elogios»; e, depois, ter de se desdizer, assumindo que o relatório não é da OCDE.
Não me refiro a nada disto, porque, lamentavelmente, já nos habituámos a conviver com políticos medíocres que em pouco ou nada se distinguem dos vendedores de feira.
O meu anojo refere-se a outras coisas. Refere-se a episódios do comportamento de José Sócrates que, do passado mais longínquo ao mais recente, têm em comum, na hipótese mais benévola, pisarem o risco que demarca a fronteira entre o aceitável e o inaceitável, entre a legitimidade e a ilegitimidade, entre a inocência e a culpabilidade.
O primeiro caso teve origem na notícia que relatava o modo como o primeiro-ministro obteve a licenciatura em engenharia. Depois de mil e uma explicações, ainda hoje prevalece a suspeita, prevalece a dúvida sobre os verdadeiros motivos que o levaram a sair do ISEL e passar para a Universidade Independente (entretanto, já encerrada, porque descredibilizada). Ainda hoje não sabemos se se tratou de uma inocente transferência ou se visou obter o «canudo» por via do facilitismo e do amiguismo.
Assim, estou anojado, por verificar a existência de objectivas dúvidas sobre o comportamento académico de alguém que é primeiro-ministro, e que deveria ser um exemplo para todos os cidadãos, mas não é. Estou anojado, pelo seu descrédito perante os portugueses e perante os seus pares da União Europeia.
Outro caso foi aquele que revelou que José Sócrates assinou, na década de 80, dezenas de projectos de casas feitos por colegas seus, que estavam impedidos de assinar por serem funcionários da Câmara da Guarda. José Sócrates diz que se responsabiliza por esses projectos. Era o que faltava que, tendo-os assinado, por eles não se responsabilizasse. O problema não é de responsabilidade, o problema é que José Sócrates foi cúmplice e co-responsável de actos que tiveram como objectivo contornar a lei. A lei impede, por razões mais que óbvias, que técnicos de uma Câmara façam projectos que sejam avaliados pela mesma Câmara, ora o comportamento de José Sócrates permitiu que esses técnicos, que estavam impedidos de fazer esses projectos, os fizessem na mesma, cobertos pela sua assinatura.
Assim, estou anojado, por ver um primeiro-ministro desautorizado pelo seu próprio comportamento. Estou anojado por ver que o recorrente argumento que ele emprega contra alguns partidos da oposição — quando diz que não lhes reconhece legitimidade para o criticarem atendendo ao que eles fizeram no passado — pode ser utilizado contra ele. Isto é, estou anojado, porque pode perguntar-se a José Sócrates: que autoridade moral tem V. Ex.ª para exigir aos portugueses que cumpram a Lei, quando, por diversas vezes, também já praticou actos que visaram contornar a mesma?
Outro caso, ainda, foi/é o que diz respeito à investigação sobre o processo de licenciamento do outlet Freeport em Alcochete. Sabe-se, agora, que a polícia britânica considera o nosso primeiro-ministro suspeito de ter «solicitado, recebido ou facilitado pagamentos» no decurso desse processo de licenciamento. Naturalmente que deixo à polícia o que é da polícia e não opino, mas posso dizer que estou anojado.
Estou anojado, porque vejo a credibilidade do primeiro-ministro do meu país ser, mais uma vez, posta em causa. Estou anojado, porque vejo o primeiro-ministro metido em trapalhadas atrás de trapalhadas. Estou anojado, porque, quando ouço o primeiro-ministro falar, não consigo acreditar no que ele diz.
Definitivamente, estou anojado, porque não é um primeiro-ministro destes que eu quero para Portugal.