A revolta dos professores
A histórica revolta dos professores pode ter sido o começo da regeneração. Foi tão justa que os próprios mecânicos do Ministério se viram obrigados a reconhecer que, realmente, algumas coisas estavam mal, o que era óbvio para toda a gente excepto para eles.«Não faço a mais pequena ideia acerca da situação em que se encontrará o conflito entre professores e Ministério da Educação no momento em que estas palavras forem lidas. Uma coisa é certa: o braço de ferro não pode continuar. A cólera que se apoderou dos professores, muito justamente, aliás, subiu a níveis altamente perigosos. Nenhuma reforma do ensino se pode fazer, em liberdade, sem a concordância dos professores e, muito menos ainda, contra os professores. Sem qualquer dúvida, a escola não são apenas eles, mas sem eles também não há escola. Ninguém como eles sabe o que é ensinar, ninguém como eles conhece as situações concretas da docência e dos alunos que têm à sua responsabilidade.
Toda esta chamada reforma a que assistimos começou mal. Começou com aquilo a que chamo o «pecado original» do Ministério da Educação. Esse «pecado original» que, como qualquer outro pecado, não tem perdão sem arrependimento e sem propósito de emenda, consistiu em que o Ministério olhou para os professores como inimigos a abater para depois fazer deles o que quisesse.
A estratégia foi claríssima: humilhou-os publicamente, espezinhou-os, lançou sobre eles as piores acusações de laxismo e de incompetência. Foram apresentados como um bando de preguiçosos que não faziam nada, um rebanho de incompetentes ao qual se deve o insucesso e abandono escolar, gente de má nota que ganhava de mais e trabalhava de menos. Procurou retirar-lhes autoridade e prestígio perante os alunos e os pais, perante a sociedade, tentou mesmo acabar com a estima por si próprios. As reacções de uma série de comentadores colocados estrategicamente em jornais,. rádios e televisões, ecoavam e amplificavam a estratégia delineada.
Quem foi acompanhando as cartas de leitores dos jornais, as opiniões de quem telefonava para os debates nas rádios, os comentários da blogosfera, não ficava com qualquer dúvida. A hostilidade para com os professores vinha ao de cima, como vinham ao de cima a inveja, a difamação, a mentira, o insulto. Pensou assim o Ministério que tinha os professores encurralados, condenados pelo tribunal da opinião pública, humilhados diante do país inteiro. Pensava, deste modo, fazer deles títeres e ganhar votos nas próximas eleições.
Ficou isto perfeitamente claro quando a ministra, com toda a desfaçatez, declarou que poderia ter perdido os professores, mas tinha ganho o favor dos portugueses. Quem não se lembra desta afirmação tremenda? Quem não recorda as humilhantes palavras da Ministra quando disse que, se muitos professores estavam a abandonar prematuramente a profissão, mesmo com graves perdas no montante das suas reformas, era porque não estavam habituados a trabalhar?
Tornava-se óbvio que tal estratégia daria maus resultados, nomeadamente no respeitante à avaliação. Com efeito, repetiu-se até à exaustão a ideia mentirosa de que os professores nunca tinham sido avaliados e não queriam sê-lo. Por sua vez, a complicação do modelo adoptado trouxe ao de cima, flagrantemente, o que de pior existe no Ministério: o lobby das chamadas ciências da educação: os técnicos da pedagogia e da didáctica, os burocratas das grelhas, os riscadores de objectivos, de estratégias, de modelos, os malabaristas das percentagens e das estatísticas, os «eusebiozinhos» dos computadores, enfim, o que de mais frio e robotizado infectou o sistema de ensino, estiolando a formação científica e humana, congelando a criatividade e a espontaneidade nas relações entre professores e alunos. Lá nos gabinetes, convenceram-se de que eles nada mais são que peças de uma linha de montagem donde devem sair cidadãos ideologicamente domesticados e todos perfeitamente iguais.
Toda esta chamada reforma a que assistimos começou mal. Começou com aquilo a que chamo o «pecado original» do Ministério da Educação. Esse «pecado original» que, como qualquer outro pecado, não tem perdão sem arrependimento e sem propósito de emenda, consistiu em que o Ministério olhou para os professores como inimigos a abater para depois fazer deles o que quisesse.
A estratégia foi claríssima: humilhou-os publicamente, espezinhou-os, lançou sobre eles as piores acusações de laxismo e de incompetência. Foram apresentados como um bando de preguiçosos que não faziam nada, um rebanho de incompetentes ao qual se deve o insucesso e abandono escolar, gente de má nota que ganhava de mais e trabalhava de menos. Procurou retirar-lhes autoridade e prestígio perante os alunos e os pais, perante a sociedade, tentou mesmo acabar com a estima por si próprios. As reacções de uma série de comentadores colocados estrategicamente em jornais,. rádios e televisões, ecoavam e amplificavam a estratégia delineada.
Quem foi acompanhando as cartas de leitores dos jornais, as opiniões de quem telefonava para os debates nas rádios, os comentários da blogosfera, não ficava com qualquer dúvida. A hostilidade para com os professores vinha ao de cima, como vinham ao de cima a inveja, a difamação, a mentira, o insulto. Pensou assim o Ministério que tinha os professores encurralados, condenados pelo tribunal da opinião pública, humilhados diante do país inteiro. Pensava, deste modo, fazer deles títeres e ganhar votos nas próximas eleições.
Ficou isto perfeitamente claro quando a ministra, com toda a desfaçatez, declarou que poderia ter perdido os professores, mas tinha ganho o favor dos portugueses. Quem não se lembra desta afirmação tremenda? Quem não recorda as humilhantes palavras da Ministra quando disse que, se muitos professores estavam a abandonar prematuramente a profissão, mesmo com graves perdas no montante das suas reformas, era porque não estavam habituados a trabalhar?
Tornava-se óbvio que tal estratégia daria maus resultados, nomeadamente no respeitante à avaliação. Com efeito, repetiu-se até à exaustão a ideia mentirosa de que os professores nunca tinham sido avaliados e não queriam sê-lo. Por sua vez, a complicação do modelo adoptado trouxe ao de cima, flagrantemente, o que de pior existe no Ministério: o lobby das chamadas ciências da educação: os técnicos da pedagogia e da didáctica, os burocratas das grelhas, os riscadores de objectivos, de estratégias, de modelos, os malabaristas das percentagens e das estatísticas, os «eusebiozinhos» dos computadores, enfim, o que de mais frio e robotizado infectou o sistema de ensino, estiolando a formação científica e humana, congelando a criatividade e a espontaneidade nas relações entre professores e alunos. Lá nos gabinetes, convenceram-se de que eles nada mais são que peças de uma linha de montagem donde devem sair cidadãos ideologicamente domesticados e todos perfeitamente iguais.
Vamos esperar um pouco mais para ver o que daqui resulta. Receio, no entanto, que nada de realmente importante vá mudar. Mais cedo ou mais tarde, os problemas regressarão porque as questões de fundo não foram resolvidas.
Vão continuar na mesma. Até porque o Estado é o principal causador do caos porque não sabe, ao fim e ao cabo, o que é uma escola, o que é educar. E não sabe porque deixou de saber o que é ser homem. Não sabendo, transformou os alunos em cobaias e a escola num local de experiências sucessivas e avulsas sem qualquer unidade e coerência, ao sabor de conveniências políticas e ideológicas, impondo regras absurdas que não têm em conta nem a psicologia do ser humano, nem a liberdade de escolha de pais e alunos. Esqueceram-se ainda de que o processo educativo não pode reduzir-se a cálculos economicistas. A educação é mais importante que a economia e, como disse alguém, os professores são bem mais importantes que os políticos. Seria altamente proveitoso para todos que nos corredores e gabinetes do Ministério fosse lida e meditada a carta pastoral dos bispos sobre a Escola portuguesa. Mas como é que há-de ser lida se uma das preocupações fundamentais deste Governo parece ser, precisamente, a de afastar o mais possível a Igreja da vida pública?»
Luís da Silva Pereira, «O Dito e o Feito», Mensageiro do Coração de Jesus (Jan./2009).
Artigo enviado por Paula Rodrigues.