Prosseguindo nas observações à terceira dimensão dos Padrões do Desempenho Docente: «Participação na Escola e Relação com a Comunidade Educativa».
O segundo descritor do nível «Excelente» é um conglomerado de problemas. Todos concordamos que um descritor, por natureza, deve ter um enunciado simples e claro. Para além disso, também concordamos que um descritor não pode ser um amontoado de descritores. Ora, este segundo descritor é mais um exemplo do contrário de tudo isto: é dúbio, pelos vários termos inoperantes que utiliza, e desenvolve-se através de gerúndios, que adicionam uma parte a outra parte e essas duas partes a uma terceira parte.
O segundo descritor do nível «Excelente» é um conglomerado de problemas. Todos concordamos que um descritor, por natureza, deve ter um enunciado simples e claro. Para além disso, também concordamos que um descritor não pode ser um amontoado de descritores. Ora, este segundo descritor é mais um exemplo do contrário de tudo isto: é dúbio, pelos vários termos inoperantes que utiliza, e desenvolve-se através de gerúndios, que adicionam uma parte a outra parte e essas duas partes a uma terceira parte.
O seu enunciado é o seguinte: «Apresenta sugestões que contribuem para a melhoria da qualidade da escola, trabalhando de forma continuada com os diferentes órgãos e estruturas educativas, constituindo uma referência na organização.»
Só pela leitura, este descritor cansa. Dois gerúndios consecutivos... Mas vamos ao que importa.
No plano da idealidade, sabemos que tudo é cristalino; no plano da realidade, sabemos que as coisas não são cristalinas. No plano da idealidade, é fácil avaliar se alguém contribui ou não contribui com sugestões para a «melhoria» da qualidade da escola. No plano da realidade, não é fácil e duvido que seja possível chegar a um consenso sobre esta matéria.
Vejamos: quando, numa escola, existem professores que têm perspectivas pedagógicas divergentes, ou, até em alguns casos, opostas, e essas perspectivas se confrontam e se configuram na apresentação de propostas antagónicas, por exemplo, nos conselhos de turma, nos conselhos de directores de turma, nos conselhos pedagógicos, nos conselhos gerais; nestes casos, quem é quem para avaliar, e segundo que critério poderá fazê-lo, se uma determinada proposta contribui, ou não, para a «melhoria» da qualidade dessa escola? Qual é o critério que vai orientar essa avaliação? É um critério de concordância: a concordância do avaliador com as propostas que o avaliado apresenta? É o critério da maioria, que aprovou ou reprovou a proposta? E se a proposta inicialmente reprovada se vier a revelar, no ano seguinte, como boa, e a aprovada como má? Ou não é nada disto, e o que interessa é a intenção? Se é a intenção, devemos entender que já se chegou ao ousado ponto de nos permitirmos avaliar intenções?
Mas se não é nenhum destes critérios, qual é então o critério? No âmbito deste descritor, que critério fiável existe para se avaliar o desempenho de um professor?
Passo à frente, mas ainda no mesmo descritor — primeiro gerúndio: «trabalhando de forma continuada com os diferentes órgãos e estruturas educativas».
«[...] de forma continuada»: como se determina se um professor trabalha de «forma continuada» ou se trabalha de forma não continuada? Como se distingue entre uma situação e outra? Trabalhar de «forma continuada» é trabalhar como: diariamente? Semanalmente? Mensalmente? Quem nos esclarece acerca da diferença entre «forma continuada» e forma não continuada?
«[...] com os diferentes órgãos»: «Com os diferentes órgãos»?! Trata-se apenas de mais uma distracção dos autores ou a universalidade do artigo «os» é para ser levada a sério? Um professor para ser «Excelente» tem de trabalhar com todos os órgãos e com todas as estruturas da escola? Faço por acreditar que não é isto que se pretende, mas é isto que lá está escrito.
Segundo gerúndio: «[...] constituindo uma referência na organização». Novamente o problema da «referência». A olhar para o número de vezes que o termo «referência» aparece neste padrões, temos de presumir que, para os autores destes documentos, é do domínio do óbvio avaliar se um professor é uma «referência». Isto é, qualquer relator saberá facilmente avaliar que o professor A é uma referência na organização; que o professor B é quase uma referência, mas ainda não é uma referência, porque lhe falta algo para o ser; que o professor C já foi referência, mas já não é; que o professor D...
Que fiabilidade, que credibilidade pode ter uma avaliação desenhada nestes moldes? Por que razão se insiste num modelo de avaliação contaminado por múltiplos caminhos pantanosos? Que miragens buscam os autores destes descritores? Que obsessão os move?
Não se compreende nem se aceita tanta falta de bom senso.
Ligações a outros posts relacionados com a ADD:
. Acerca da simplicidade de um modelo de avaliação e da seriedade da sua concretização
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 1
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 2
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 3
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 4
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 5
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 6
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 7
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 8
. Requerimento do Dep. C.S.H. da Escola Secundária de Amora
Mas se não é nenhum destes critérios, qual é então o critério? No âmbito deste descritor, que critério fiável existe para se avaliar o desempenho de um professor?
Passo à frente, mas ainda no mesmo descritor — primeiro gerúndio: «trabalhando de forma continuada com os diferentes órgãos e estruturas educativas».
«[...] de forma continuada»: como se determina se um professor trabalha de «forma continuada» ou se trabalha de forma não continuada? Como se distingue entre uma situação e outra? Trabalhar de «forma continuada» é trabalhar como: diariamente? Semanalmente? Mensalmente? Quem nos esclarece acerca da diferença entre «forma continuada» e forma não continuada?
«[...] com os diferentes órgãos»: «Com os diferentes órgãos»?! Trata-se apenas de mais uma distracção dos autores ou a universalidade do artigo «os» é para ser levada a sério? Um professor para ser «Excelente» tem de trabalhar com todos os órgãos e com todas as estruturas da escola? Faço por acreditar que não é isto que se pretende, mas é isto que lá está escrito.
Segundo gerúndio: «[...] constituindo uma referência na organização». Novamente o problema da «referência». A olhar para o número de vezes que o termo «referência» aparece neste padrões, temos de presumir que, para os autores destes documentos, é do domínio do óbvio avaliar se um professor é uma «referência». Isto é, qualquer relator saberá facilmente avaliar que o professor A é uma referência na organização; que o professor B é quase uma referência, mas ainda não é uma referência, porque lhe falta algo para o ser; que o professor C já foi referência, mas já não é; que o professor D...
Que fiabilidade, que credibilidade pode ter uma avaliação desenhada nestes moldes? Por que razão se insiste num modelo de avaliação contaminado por múltiplos caminhos pantanosos? Que miragens buscam os autores destes descritores? Que obsessão os move?
Não se compreende nem se aceita tanta falta de bom senso.
Ligações a outros posts relacionados com a ADD:
. Acerca da simplicidade de um modelo de avaliação e da seriedade da sua concretização
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 1
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 2
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. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 5
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 6
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 7
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 8
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 9
. Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 10
. Sub-repticiamente . Apontamentos sobre o desnorte de uma avaliação - 10
. Requerimento do Dep. C.S.H. da Escola Secundária de Amora