Já chega!
O problema do ennui — termo francês existencialista para tédio extremo relativamente à vida, acompanhado por muitos encolheres de ombros e suspiros de fadiga — atinge uma dimensão nova com a perspectiva da vida eterna, por exemplo, no mesmo velho café em Saint-Germain-des- Prés. No seu ensaio O Caso Makropulos: Reflexões sobre o Tédio da Imortalidade, o filósofo moral de Cambridge do século XX, Sir Bernard Williams, afirma que a morte é necessária para a vida se manter interessante. O ponto de referência de Williams é a peça O Caso Makropulos do escritor checo Karel Capek (e a ópera subsquente do compositor checo Leos Janácek), na qual a heroína recebe a dádiva de uma vida extraordinariamente longa (342 anos até à data), graças a um elixir alquímico. Porém, no fim da peça ela decide não se candidatar a mais séculos porque percebeu que a vida eterna só traz uma apatia interminável. Escreve Williams: "A sua vida interminável atingiu um estado de tédio, indiferença e frieza. Tudo é triste."
Como assim? Williams acredita que, depois de uma pessoa viver um certo número de anos (aparentemente esse número varia de indivíduo para indivíduo), é incapaz de ter experiência novas — é o velho problema do "já estive ali, já fiz aquilo". Ipso facto, sente um tédio de morte. A vida boa, diz Williams, é uma vida que termina antes de a repatição e o tédio se instalarem inevitavelmente.
Claro que existem algumas pessoas, como o comediante Emo Philips, que defendem que apreciar a repetição incessante é um gosto que se adquire:
"Um amigo ofereceu-me um disco do Philip Glass. Ouvi-o durante cinco horas antes de me aperceber de que tinha um risco."
O filósofo alemão do século XIX Friedrich Nietzsche pôs a questão do tédio num nível inteiramente novo com a sua ideia do Eterno Retorno. Segundo o Freddy N., o melhor símbolo da futilidade de um destino eterno é a história repetir-se vezes sem conta, ad infinitum. Para alguns, como Woody Allen, essa perspectiva parece merecedora de um ai eterno! Diz o professor Allen:
"[Nietzsche] disse que vamos viver de novo a vida que vivemos exactamente da mesma forma para toda a eternidade. Não me faltava mais nada. Isso significa que vou ter de aguentar novamente os campeonatos de patinagem artística."»
Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp. 220-222.