sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Um «Ano Mais»

«Este é um ano em que teremos mais cursos profissionais, mais investimento nas escolas, mais apoio para as famílias», disse a ministra da Educação.
E poderia ter acrescentado: também vamos oferecer milhares de computadores a preços de fim de estação; e vamos conseguir ainda muito melhores resultados nos exames nacionais com excelentes estatísticas para mostrar ao povo, à comunicação social e à União Europeia; e iremos ter a avaliação dos malandros dos professores, que não queriam ser avaliados, mas vão ser, não interessa como, mas vão ser; e vamos ter plenamente em vigor o novo Estatuto do Aluno, e, portanto, já não haverá reprovações por faltas; e estamos a preparar o terreno para que as reprovações acabem de vez, seja por que motivo for; e vamos ter a transição para o novo modelo de gestão das escolas, sem que se tenha feito uma avaliação rigorosa e pública do modelo anterior (mas, daquilo que se sabe, as avaliações externas que estão a ser feitas às escolas têm dado resultados de Muito Bom e de Bom em catadupa; daí que se pergunte: com tão bons resultados nessas avaliações, vai-se mudar porquê? Ou os resultados da avaliações que o Ministério faz não são fiáveis? Ou já estava decidido mudar antes de se saber o resultado das avaliações? Ou que trapalhada é esta?).
Será, portanto, um verdadeiro «Ano Mais». Para português ver, e porque, logo a seguir, há eleições.
Mas falar do que, em política educativa, é substantivo falar a ministra não fala. Não fala, por exemplo, de dois aspectos essenciais: não fala da análise e da avaliação que já devia estar feita dos actuais planos curriculares dos ensinos básico e secundário nem fala da avaliação que já devia estar feita dos actuais programas disciplinares e da sua futura revisão.
Disto, que são traves mestras do sistema educativo, a ministra da Educação não fala. Não fala porque nada disto dá votos nem faz ruído na comunicação social. Como também não fala de uma cultura de exigência, de trabalho e de disciplina, dirigida aos alunos e aos pais. A ministra não lhes diz que os bons resultados se alcançam com trabalho e sacrifício. Aos alunos e aos pais, acena-lhes com a ausência de reprovações e com notas altas nos exames, com subidas miraculosas nos resultados da temida Matemática, e com muitos, muitos computadores (de baixa gama e de nenhuma fiabilidade, deveria acrescentar-se — são múltiplos os professores e alunos a queixarem-se com as repetidas avarias ou com a extrema lentidão de navegação na internet).
Será um verdadeiro «Ano Mais».