sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A coisa está aí

A coisa veio e nem chegou de mansinho. Contra ventos, marés e tempestades alimentadas pelo sopro do que é a consciência cívica e a dignidade profissional, a monstruosidade de génese punitiva (vulgo concurso para professor titular + estatuto da carreira docente + avaliação do desempenho) ancorou violentamente no nosso quotidiano.

Trouxe consigo o desconcerto, a desinquietação e a desorientação.
Ou não.... parece que, extraordinariamente, aportou para alguns sob os raios luminosos de uma aparição celestial, corporizando sebasticamente a salvação dos valores e da mestria com que se confeccionam as metas, pessoais e nacionais. 100% de sucesso, para os alunos de 9º ano! É preciso visão! É o incentivo que faltava para, transparentemente, laboriosamente transformar o trabalho que, nos útlimos anos (aqueles que errámos), não tem sido senão um obstáculo ao sucesso dos alunos portugueses. Só mesmo Stª Lurdes para abrir os olhos a esta verdade divina. Apetece dar as mãos, revirar os olhos de êxtase e cantar louvores à genialidade dos grandes que nos governam. Finda a hora do culto, segue-se, ainda em estado de graça, para a gruta das aparições: é preciso fazer aparecer grelhas, números e percentagens, que a santa gosta de sacrifícios! De pé, aplaude ufanamente o povo, néscio, inibido de discernimento pela inebriação panfletária. Fazem coro alguns crentes que, na genoflexão, arrogam a vidência e a sabedoria que os levará aos céus.

Na desorientação desta massa informe, o involuntário penitente desespera e aos poucos enlouquece. Chega ao ponto de se fundir na metáfora. Já não negoceia com Satanás a sua salvação, pactua directamente com a equipa que se constituiu sua adversária.

Nesta abertura de ano lectivo, uma docente do 1º ciclo, seguramente inspirada no didactismo da programação televisiva e substancialmente pugnando pela inovação, reuniu com os encarregados de educação inspirada no modelo do “Você decide!”. E foi neles que delegou a pedagógica prerrogativa de estatuir os trabalhos de casa…

Afinal, se são "de casa", devem ser os pais a prescrever…..

A coisa está.... feia!