quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A propósito de «Acabou o facilitismo!»

No momento em que se soube que cerca de 40 mil professores ficaram no desemprego, o primeiro-ministro, com a arrogância que lhe é característica e com a (falsa) determinação que lhe é atribuída, achou por bem e conveniente afirmar, para todos os órgãos da comunicação social divulgarem ao país, que: «Acabou o facilitismo!». Peremptório, autoritário. Homem duro, este primeiro-ministro.
Pena é que este mesmo primeiro-ministro não faça também demonstrações de coragem e virilidade políticas relativamente a todas as outras situações da nossa realidade.
Por exemplo, não tenho nenhuma memória de ter ouvido algo de semelhante quando, há uns meses, os patrões da camionagem resolveram bloquear o país atravessando na estrada os seus veículos. Foi um pandemónio, a economia parou, um motorista morreu atropelado, piquetes de greve ilegais, greve dos patrões ilegal e, como resposta, ouvimos um enorme, um ruidoso silêncio do nosso corajoso e determinado primeiro-ministro.
Também não me recordo de ter escutado nada de parecido com «acabou o facilitismo», relativamente à recente onda de assaltos. Bancos assaltados todos os dias, caixas multibanco rebentadas, carrinhas de transporte de valores abalroadas, bombas de gasolina atacadas, ameaças de execução de reféns; e que frase acutilante, devastadora, autoritária proferiu o primeiro-ministro? Alguém tem reminiscências de algo do género por ele sentenciado?
Agora, a propósito do escândalo dos preços da gasolina, continuo a não ter conhecimento de que o mesmo eng. José Sócrates já tenha dito às petrolíferas, que operam em Portugal, qualquer coisa de aparentado com «acabou o facilitismo». Não só somos o país na Europa onde os preços menos descem como, neste momento, somos o único onde há preços que sobem; enquanto isto, o valor do barril de petróleo cai a pique.
Por onde anda o nosso afoito, destemido, bravo, férreo e resoluto chefe de governo? Voltou para férias?
Tão lesto, determinado e firme com os professores, em particular, com os professores desempregados, e tão dócil e tão doce com quem afronta o país e os portugueses...