quarta-feira, 17 de setembro de 2008

É preciso topete!

Excertos de mais um artigo que fala a verdade, de Santana Castilho, hoje, no Público:

«Para os portugueses que conhecem a realidade das escolas e do sistema de ensino, comentar as últimas afirmações de José Sócrates é pura perda de tempo. A credibilidade do que diz não vai além da publicidade enganosa. Mas junto dos menos esclarecidos, que infelizmente constituem a maioria, é dever cívico não as deixar em branco.
É preciso topete para falar no maior investimento de sempre nas escolas portuguesas, quando as verbas consignadas à Educação, em cada um dos três orçamentos de Estado da responsabilidade deste governo, decresceram sempre até atingir, no orçamento de 2008, o valor mais baixo dos últimos sete anos, quer em termos absolutos, quer em percentagem do PIB.
[...]
É preciso topete para dizer que os que manifestam opinião contrária ao Grande Delfim ofendem os professores, os alunos e as famílias. É preciso topete para dizer que os críticos não sabem explicar por que razão as reprovações caíram ao longo dos últimos três anos. Onde tem andado Sócrates, que não lê, que não ouve, nem vê o que, de todos os quadrantes, tem formado um consenso notório? O milagre da drástica diminuição das reprovações deve-se a uma despudorada manipulação estatística, da responsabilidade do Governo.
[...]
O milagre da drástica diminuição das reprovações deve-se: a um estatuto do aluno que incentiva a indisciplina e desvaloriza o trabalho (os alunos podem passar sem pôr os pés nas aulas); a um estatuto do professor que baniu a palavra ensino e grudou a carreira dos docentes a resultados que dependem de muitas variáveis que eles não podem controlar; a uma autêntica avalanche normativa (há quem tenha contado 37 comandos diários) que soterrou as escolas em burocracia que o talento de Frank Kafka não imaginaria; a um perverso processo administrativo que dificulta de tal modo o chumbo que o mais inteligente é nem começar; a exames indigentes, a que só falta trazer as soluções, de patas para o ar, no final do enunciado; a uma confusão assassina sobre o que significa sucesso escolar (notas fabricadas versus conhecimento efectivamente acrescentado).»